3 de janeiro de 2010

Experimentando Literatura - VI

Esse é um dos textos que meus amigos mais gostaram de ler à época. Por que será?


Noite no Terraço (2001)

            Certa noite, quatro amigos resolveram se reunir na casa de um deles. Levaram violão, guitarra e um pandeiro. O pandeiro era do Toledo, o único que não tocava nada. Buscou nesse pequeno instrumento aliviar seu ego que o fazia menosprezar frente aos próprios amigos. Bobagem, mas não se sentia bem. O violão era do Bola, famoso por suas milongas fronteiriças, mas que há um tempo não as ensaiava mais. Por fim, a guitarra era do Jorginho, cara meio metido, achava que tudo que fazia dava certo. Coitado.

            A casa do Dina era na Cidade Baixa. Dina, pois seu nome é Jesper Scholasen, dinamarquês por natureza, vindo de lá quando tinha seus seis anos de idade. A mãe fora tentar a vida na Europa, depois de fracassar no primeiro casamento, também com um estrangeiro. Acabou como empregada doméstica da casa do pai do garoto. Depois de tudo que se pode imaginar, vieram para o Brasil em busca de adaptar o filho a uma vida menos fria, menos restrita.

            Chegaram os três na casa do amigo, sendo recepcionados depois de longos dez minutos tocando no interfone. Estava sozinho em casa, com os pais tendo ido para o litoral. Logo, subiram todos para o apartamento.

- Bah, meu, beleza... Vamos chamar umas minas!

- Nem pensar... Já pensou no que os vizinhos vão dizer, Bola? - retrucou Dina.

- Ah, mas não ia ser uma má idéia, né? - replica o menino.

- Por enquanto, não creio que será algo agradável. Pensemos nisso outra hora.

            O Dina era gozado pelos outros guris porque aprendeu o português gramatical, usando-o para a fala. Toledo tentou fazer com que ele aprendesse as gírias mais usadas, mas não surtiu efeito.

- Mas então, o que tocaremos hoje, pessoas? - questiona Jorginho.

- Cara, eu tava pensando em tocar um pouquinho de Rush! O show foi tão bom, quase não agüentei em pé... Uma hora deu um empurra-empurra, ninguém quase se segurava... Bah, muito show... - responde o Bola.

- Qual do Rush tu nos propõe?

- Hmmm... Que tal Time Stand Still?

- Putz... Não sei tocar essa. - retruca Toledo.

- Que tal tocarmos alguma música nacional? - fala Dina.

- Boa idéia. Qual?

- Boemia... A que me tem de regresso...
- Bah, que é isso! Música de velho! - ataca Jorginho.
- Ah, isso não era - fala Toledo - mas que tal tocarmos uma música que todos saibamos?
- Hehehe... Se isso for possível! - ironiza Dina.
- Tá, espera aí... Vocês conhecem aquela música do Angra, Reaching Horizons? É super bonita...
- Conheço sim. - responde Jorginho, meio enojado.
- Eu também! - fala Bola.
- Ótimo, todos conhecemos! - diz Dina.
- Certo, vamos todos juntos então! Um, dois, três...
            E começam. Tocam os primeiros acordes, até que as primeiras palavras saem:


Rainy cloudes covered up the sunny sky

            Now I know I’ll sleep alone tonight

            Tears and preyers will be taken by the rain

            Fear and loneliness in my dreams

            (...)

Fly high reaching skies

Two eagles flying to be free

Moments of madness will be left behind

The same horizon but in different lands


- Ah, que bala, meu... Essa ficou muito show! - alegra-se Bola.
- Demais. - pondera Jorginho.
- Vocês já pensaram na possibilidade de termos uma banda? Imagina que legal! Eu na vocal, o Bola no baixo, o Jorge na guitarra...
- E a bateria? - questiona Bola, ao Dina.
- Se o Toledo se puxasse um pouco...
- Ih, então tamo mal!
- Hahahah... Pobre Toledo! - agride Jorginho.
- Bah, Jorginho, na boa, essas tuas palavras soaram piores que as do Bola!
- Sentiu a facada, parceiro?
            Começam a se desentender. Um festival de palavreados desfere-se dos lábios de ambos meninos. Dina tenta apartar a discussão. Bola apenas ri. Mas logo termina a malcriação dos garotos. Tentam tocar algo novamente.
- Vocês já viram algum show do Satriani? Que homem que sabe tocar! - elogia Bola.
- Bah, um amigo meu, uma vez, alugou um DVD do cara... Achei fantástico! Aliás, o baixista da banda parecia muito com o Bola! Alemãozão assim, bem fofo... hehehe
- Sem graça, Toledo, sem graça... - novamente fala Bola.
- Ah, mas vamos tocar algo que possamos cantar! - implora Dina.
- Bem, vejamos... Que tal Alan Parsons?
- Ótimo, Toledo... Fall Free?
- Excelente!
            Todos concordam e começam a tocar e cantarolar:
       

What’s the use of worrying

            If we’ll be here tomorrow
            All we need to be is here today
            Don’t care if you’re rich
            Or if you have to bag and borrow
           You can always find a way
            Dive and breakaway
            (...)
           Fall free
            Freedom’s in the air
            It’s calling you
            Your heart is there
            Fall free
            Blaze across the sky
            The perfect fall
            The perfect high

- Eu falo, caras, deveríamos ter uma banda!
- Agora podemos ter... Até tá falando “caras”! hehehe - responde Jorginho.
- Ah, mas se eu tivesse a voz daquele vocalista do Queen...
- Quem? O Freddy Mercury? Tu sabe de quê ele morreu?
- Não... Como?
- Dizem que foi por causa da AIDS, tudo mais... Não sei bem qual a causa, mas acharam espermatozóides no estômago do cara...
- Que nojo...
- Blergh! Porra, Jorginho, eu recém jantei, mala! - explode Bola.
- Tá, vamo pará com isso! Quem sugere outra música? Essa não ficou tão boa...
- Bah, deixa eu ver... Calling Dr. Love, do Kiss?
- Seria uma bela pedida! - responde o Dina ao Bola.
- Ah, mas essa eu não sei tocar... - fala Jorginho.
- Na real, nem gosto de Kiss. - desabafa Toledo.
- Bom, vamos tomar alguma coisa. Vocês querem cerveja?
- Ceva! Beleza! - responde Bola ao Dina.
            Foram os quatro meninos para a cozinha. Abriram suas latinhas e tomaram. Abriram outras. E cada um tomou ainda mais uma.
            Jorginho, que era meio fraco para bebida, começou novamente com aquele velha idéia:
- O meu, vamos chamar umas putas!
- Cara, não começa... - fala Toledo.
- Pior que já estou achando uma ótima idéia... - dispara Dina.
- Tão vendo? Tão vendo? Eu sei o número de uma mina lá...
- Ih... Lá vem o golpe! Hehehe - preocupa-se Bola.
- Peraí... Acho que é 9045-7767.
- Não tens aí no celular?
- Calma aí...
           Procurou no seu Startac e encontrou o nome da prostituta. Márcia. Ligou:
- Ah, por favor, é Márcia? Oi, meu bem... Eu queria saber se tu tá livre agora? Que bom... E tem mais algumas amigas? É que estamos em quatro aqui... Certo... Sim... Show de bola... Aham... Tá, é aqui na Lima e Silva, perto da escola... Essa mesma... Ok... Certo, em meia hora te espero... Um beijão, gata...
- Pô, tá íntimo da mina, hein, tarado? - fala Toledo.
- Ah... Algumas vezes, sabe...
- Aham, to sabendo... Tu nem discou o número no telefone, cara!
- Que o quê! Espera meia hora pra tu vê, otário...
- Hahaha... Quero vê!
- Cara, já são 2h da matina. Vamos nos organizar.
- Peraí... Deixa eu pegar outra ceva... - diz Bola.
- Não te embebeda, meu...
- Vou tentar! Hehehe
- Ok, acalmemos... - começa Dina - Aqui no terraço tem dois lugares que poderemos ficar. Lá embaixo, tem meu quarto, que eu vou ficar. Eu não queria que o quarto de meus pais fosse ocupado. Sobra o banheiro, a cozinha, a sala... Ou se alguém quiser ficar ao ar livre, tem o patiozinho... O que vocês querem?
- Posso ficar com a salinha da esquerda? - pergunta Toledo.
- Claro.
- Eu quero ficar aqui mesmo. - propõe Jorginho.
- Ok, você quem sabe...
- E eu? - questiona Bola, chegando da cozinha.
- Terás que ficar na sala, ali embaixo, ou ao ar livre...
- Deve ser bala comer uma mina ao ar livre!
- Então fica aqui em cima, do lado de fora...
- Beleza!
            Então, resolvem esperar pelas meninas. Não demorou vinte minutos após a ligação e elas chegam, ofegantes. Tocam o interfone:
- Oi! Aqui é a casa do Jorginho?
- Na verdade, é do Jesper, mas ele quem te ligou...
- Ai, que ótimo! Podemos subir?
- Evidente...
            E as quatro moças sobem. Ouve-se um barulho infernal de tamancos batendo no chão, no hall de entrada. Pegam o elevador, marcam o sexto andar. Logo, chegam no apartamento do dinamarquês.

- E aí, gatinho? - dispara uma das meninas ao Dina.
- Oi... Entrem... - responde docemente o menino.
            A tal Márcia era uma loira alta, com 19 anos, cerca de 1,75m, com coxas roliças e glúteos empinados. As outras trabalhadoras eram esplendidamente bonitas. Marcela, com seios estupidamente grandes, mas proporcionais, tinha estatura mediana, com pele morena-índia, devendo ter uns 20 anos. Outra moça, a Babi, tinha a mesma altura da Marcela, mas sua beleza prendia-se a sua tez, destacada pelos olhos azuis claros, sorriso de menininha, nariz pontiagudo. Já a mais nova, com 17 anos, Heleninha era uma mulher feita. Cabelos castanho-claros, olhos cor de mel, barriguinha lisa, malhada, pernas fortes, bumbum cheio e seios estonteantes. Elas estavam prontas para iniciar seu árduo trabalho.
            Jorginho logo chama Márcia, penetrando a língua pelos lábios da mulher. Leva-a para o andar de cima. Já Dina, mais comedido, fica com a Babi. Primeiramente, uma pequena conversa, logo beijando-a. A belíssima Marcela foi a tentação de Toledo, que também subiu com ela. Então, sobraram Bola e Heleninha. O garoto ficou tão pasmo com a beleza da guria que ele mal se movimentava.
- Oi, oi, oi... - fala suavemente Helena.

- Ahn... Oi...
- Hmmm... Estás me parecendo tímido...
- Eu acho que bebi demais...
- Hmmm... Que nada, não tens odor algum... Deixe-me ver na sua boca...
            E disfere-lhe um beijo que, ao invés de fazê-lo fechar os olhos, os arregala ainda mais.
- Nossa... Fazia tempo que não me beijavam assim! - relata ele.
- Hehehe... Isso porque tu não tocaste um dos meus pontos de prazer...
            E ela pega a mão do gordinho e leva até seu seio. Pressiona-o contra. Faz cara de prazer. Muito prazer. O cara geme. Ela também. E ambos correm para o terraço.
            Chegando lá, os dois casais já chegaram aos finalmentes. Jorginho e Márcia já estavam nus, trepando lenta e carinhosamente. O Toledo ainda estava de calça, com a menina fazendo um strip para ele. Bola e Heleninha correm para o terraço.
- Cara, sempre sonhei com sexo ao ar livre! - berra ele.
- Nunca fiz isso... Deve ser o máximo, ainda mais contigo...
- Vamos lá, então, guria... Ora de botar a maquina para aquecer!
            Ela vai abrindo a braguilha da jeans do menino. Abaixa a cueca. Manuseia o órgão. Ele geme como se nunca houvesse mexido. Abre a boca. Ela penetra a língua nele. Despem-se. Transam.
            Nessa altura, o Jorginho já estava em fase final de relação com sua garota. Toledo penetrava com receio em Marcela. Pensava toda hora se ela não estaria com AIDS. E também estava com medo de uma ejaculação precoce. Concentrou-se.
            Já Dina parecia passar as melhores horas de sua vida. Penetrava na menina com gosto, orgulhando-se de quem escolheu. Analisava cada movimento da garota, cada suspiro, cada gemida. Parecia ter se apaixonado. Um bom tempo depois, após sua gostosa transa, Dina pergunta à menina:
- Como pode uma beleza de pessoa como tu estares metida nesse meio?
- É meu único modo de pagar a faculdade... Só assim dá...
- Que tu cursas?
- Fisioterapia.
- Nossa, que legal. Faço Enfermagem na Federal.
- Que ótimo! Poderemos um dia trabalhar juntos!

- Com todo o prazer... Aliás, se quiseres estudar biologia e anatomia comigo, terei prova dentro de duas semanas... Adoraria tua presença...
- Eu também iria adorar, mas esse meu trabalho me impede.
- Não fale assim. Se eu pudesse, te tiraria dessa vida.
- É... Infelizmente não é assim que a coisa acontece...
- Mas por que tu escolheste fisio... Que barulho é esse?
- Parece som de telefone.
- Mais especificamente o interfone! Quem será essa hora?
O dono da casa sai da cama, correndo para atender o aparelho, ainda nu:
- Meu, isso aqui tá muito booooooooom!! - berra Toledo, na extensão.
- Ah, cara, não me atrapalha! - retribui Dina.
            Ele volta para o quarto, não antes de ouvir os gemidos de Bola e Heleninha no terraço. A única coisa que não queria eram problemas.

            No andar de cima, Jorginho estava esgotado, caído por cima de Márcia.
- Hmmm... Adorei, Jorge! Você foi muito bom... Jorge? Jorginho?!
            E o cara estava desmaiado. A bebida consumida em excesso, além do esforço demasiado resultaram no cansaço da figura, que ficou estirada no carpete da pequena sala, enquanto Márcia vestia-se. A garota de programa olha para a salinha ao lado e vê Marcela colocando a cabeça de Toledo entre seus seios. Observa as movimentações do lado de fora e vê Heleninha em posição de cachorrinho, com o Bola por cima. Mas, de súbito, ambos param. Márcia resvala o olhar para outro lado. E o interfone toca novamente. Dina sai correndo do quarto de novo, depois de conversar longamente com Babi, estando vestido. Atende o comunicador. Era a polícia:
- A vizinhança está reclamando do barulho que está saindo desse apartamento. Gostaria de poder averiguar o que ocorre.
            E o Dina, ainda imaturo para essas situações, deixou com que os policiais subissem. Não sem antes de perguntar.
- Tem algum menor de idade aí?
- Eu! - grita Heleninha, fadigada.
- Puta merda... Estamos ralados! A polícia está vindo!
            Um múltiplo “o quê” é dito por absolutamente todos os presentes no apartamento. Em pouco tempo, soa a campainha. Todos se vestem enquanto Dina vai abrir a porta.
- Boa noite, policiais.
- Boa noite, rapaz. Antes de mais nada, qual sua idade?
- Vinte e um, senhor.
- Certo. Depois peço seus documentos. Gostaria de saber o que se passa nesse lugar.
- Nada demais, senhor, apenas uma festinha para poucos convidados.
- Pelo que me relatou sua vizinha do 501, o barulho era de festona.
- Creio que ela exagerou.
- Não foi o que disse o senhor do 403.
- Aquele senhor é um velho rabugento...
- Comporte-se, guri! Vamos entrar e verificar o que ocorre.
- Não, não...
            Mas não consegue impedir. A polícia entra no apartamento e revista o andar de baixo. Encontra Babi sentada na cama de Dina, comportada. Olha-a. Sai em seguida. Resolve subir as escadas que dão na cobertura.
            Lá, Jorginho havia sido retirado e colocado no banheiro. Marcela ainda não havia se trajado e Heleninha e Bola estavam totalmente nus. Correram para trás da porta que dá acesso ao pátio, mas deu tempo apenas para colocarem as roupas íntimas. Os policiais já estavam lá em cima.
- Eu te conheço, mocinha! - apontando o dedo para Márcia.
- Desculpe-me, mas não lembro do senhor.
- Pois eu sim. Voluntários da Pátria, 6 de dezembro de 1999. Porte de drogas. Liberada por falta de provas. Por favor, posso verificar sua bolsa?
- Ela não está aqui.
- Não me faça de palhaço. Dê-me!
            Ela observou a bolsa, mas o policial deu um pulo sobre ela e a apanhou. Tirou a identidade da menina, viu que tinha 19 anos. Tirou a carteira escolar, dinheiro, anti-concepcional, camisinha, agenda e um saquinho plástico. Abriu-o. Pó. Pó branco.
- Dessa vez, gata, foi em flagrante. Façam o teste nessa gurizada toda. Se ninguém tiver se drogado, só vou levar essa doida. A única prova é contra ela. Aparentemente o saco tá fechado. Vamos!
            Assim, os dois acompanhantes fazem a revista. Começam por Toledo, vêem a identidade, não encontram drogas nem demonstra ter ingerido. Faz um pequeno teste e confirma. Logo, faz o mesmo com Marcela. Mesmo encantado com aqueles seios incríveis, o policial faz tudo corretamente.
            Enquanto isso, Heleninha acabava de se vestir e Bola permanecia apenas de cueca, olhando pela fresta da porta, para ver o que ocorria. Nesse tempo, um dos policiais entra no banheiro. Encontra Jorginho desmaiado. Chama o policial responsável. Ele vê a situação e encaminha o garoto para o Pronto Socorro. Logo, o ajudante sai da sala, vai para o terraço e não vê nada. Quando se vira, sente que há algo (e grande) atrás da porta:
- Ora, ora... Vejamos isso! Um gordinho e sua bela acompanhante!
O guri fica vermelho, tamanha vergonha. Ele é revistado e nada demais encontram. Já na rapariga, atesta-se sua baixa idade. É encaminhada à Fase. De lá, seriam seus pais avisados sobre a situação.
            Ao final, Jorginho, Helena e Márcia foram levados. Cada um para um lugar. E nem desconfiaram que as meninas que restaram também eram prostitutas. Aliás, nem descobriram que as outras eram. Babi e Marcela olharam para seus parceiros e logo dispararam:
- E nossos cachês, little boys?
            Dina e Toledo empalideceram. Não sabiam nem quanto deveriam pagar. Sabiam, apenas, que aquela tinha sido uma noite que nunca iriam esquecer, tamanha loucura fora. Apesar do infeliz final, foi uma noite de intenso prazer. De muita música. De belas garotas. E de uma grande dívida.

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