2 de janeiro de 2010

Deus X Caim

Terminei de ler Caim, do José Saramago. Gostei. Aliás, frequentemente gosto dessas narrativas que desviam um pouco a atenção da ideia de que Deus é o todo poderoso e centro de todas as coisas. Já tive alunas devotas - algumas até em excesso -, mas nunca me atrevi a discutir algo relativo ao Supremo com alguém desse naipe. Seria perda de tempo, talvez.
Caim fora punido por Deus pela morte de Abel, por ter se vangloriado de seu empreendimento ter sido aceito pelo Divino e o dele não. O curioso é que essa punição faz com que a personagem participe de todos os grandes movimentos consagrados pela bíblia, como a destruição da Torre de Babel, o massacre de Sodoma, o sacrifício de Isaac, entre outros. Agora, o que mais ganhou notoriedade na obra, foi o seu relacionamento com Lilith: a bela rainha de Nor a aceitou em seu leito e lá mantiveram intensas relações. Caim poderia se tornar o rei de Nor, mas como seu destino não era esse, seguiu viagem e deixou um filho no reino. Adiante, encontraria Noé e sua arca, matando todos os humanos presentes, para que Deus não mais lhe visse a espécie.
Claro que pra chegar a tal ponto, houve um motivo forte: a descrença na palavra divina, tendo em vista que tudo que o Senhor pedia para que fosse feito em terra, Caim via como punição a todos, nunca como ajuda. O sacrifício do senhor da terra de Us, por exemplo: fora colocada à prova sua fé perante Satã, que lhe tirou tudo que ganhou em vida e lhe aplicou chagas terríveis. Como independentemente disso a personagem não negou o Deus, este se viu agraciado e simplesmente ganhou uma aposta com Satã, que duvidou de sua crença enquanto homem rico. Caim, observando tudo, conclui que o tal ser superior que o homem evoca não é melhor do que nós, pois peca tanto quanto os humanos, de acordo com as leis mundanas - não divinas.
Isso é muito forte na literatura pós-moderna: pós-segunda guerra, o homem descreu de tudo aquilo que lhe era mais sagrado, pois era capaz de antever a morte do próximo. Fora levantada a fala de Nietzsche: "Deus está morto". Afinal, as pessoas queriam mudança, mas nem ajuda transcendental auxiliava em tal mudança. Com isso, o movimento de auxílio ao próximo começou e a solidariedade foi expandida para todos os cantos do mundo - basta lembrar da Rosa de Hiroxima, de Vinícius de Morais.
Gostei muito desse livro. Os dois que já me comprometera ler durante as férias já haviam acabado, agora mais esse. Preciso de alguns a mais para manter a atividade.

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