16 de fevereiro de 2011

Crônicas cariocas: A cantoria é de quem?

Quando migramos para outros estados, os nativos têm o hábito de nos dizerem que cantamos ao falar. Aquele povo boêmio, que antigamente eram os frequentadores de um Bom Fim rodeado de figuras ímpares, imortalizados pelo Magro do Bonfa, personagem do André Damasceno, tem uma certa cantoria na fala. Os demais, no entanto, parecem tão comuns quanto qualquer falante que não tenha grandes influências de culturas mais enraizadas.
No Rio de Janeiro sim as pessoas falam cantando. Ao pedirmos informações sobre onde ficava o bar Garota de Ipanema - local épico, frequentado por Tom e Vinícius, de onde (diz a lenda) saiu a composição pra uma das músicas mais reconhecidamente brasileiras que existe -, o dono de um quiosque na Praia de Ipanema pediu a um auxiliar que o ajudasse a se localizar. Quando o outro começou a falar, algumas vogais, principalmente as fechadas, como /o/ e /u/, eram pronunciadas com maior acentuação ou produzidas mais ao fundo da boca, diferentemente do que julgamos mais comum, proposta ao contrair os lábios.
Com isso, a sonorização se tornou mais leve, ao mesmo tempo que dotando um ritmo constante: som curto, som curto, som longo, som curto, som curto, som longo. A ritmia parece muito associada ao canto de um frevo ou outras músicas tradicionais nordestinas. Soma-se a isso o famoso chiado, ao pronunciar o /s/, e o ronronar dos /r/. Assim, por mais natural que para eles isso seja, para quem vê de fora é uma atmosfera linguística totalmente diferente, nova, musicalmente aceitável.
Claro que é possível que pensem algo parecido em relação a nós. Mas os vários Magros do Bonfá já não parecem tão constantes como outrora - ao menos não os tenho escutado com constância. A nossa musicalidade, na verdade, parece muito com uma partida de futebol, em que o narrador destaca cada quadro que aparece num único lance - nossa pronúncia, independentemente de tudo isso, apenas caracteriza as inúmeras variações linguísticas que há no país, evocando toda a riqueza cultural nele disposto.

13 de fevereiro de 2011

Crônicas Cariocas: A cidade turística

Sempre reconhecemos pela mídia o Rio de Janeiro como a cidade maravilhosa. Lembro-me que há anos penso nisso como um exagero, já que sempre se transportou uma imagem com um determinado fim. Nos últimos tempos, acompanhamos a situação das favelas cariocas e as diversas ações do BOPE, inclusive representadas em filme - ficcional - sobre a realidade da polícia, do tráfico e dos morros. Agora, no entanto, fora comprovada a tão bem vista questão do turismo.
Cidade muito bem "explicada": várias placas indicativas, pessoas bem informadas, um número gigante de estrangeiros em busca de informações sobre a cidade. Para isso, é necessário ter informação. Mais: falar inglês. Muita gente fala essa língua por aquelas bandas. Quando estivemos na bilheteria para pegar o trem ao Cristo, os atendentes respondiam com a maior naturalidade as perguntas de holandeses, chineses, franceses e o que mais havia. Cidade preparadíssima, nesse quisito, para receber a Copa do Mundo.
Além disso, as paisagens naturais são fantásticas: Cristo, Pão de Açúcar, trilha da Urca, praias de Ipanema, Copacabana, Leme foram alguns dos lugares visitados. Todos muito bem cuidados e com a criminalidade em baixa. Não sei se é efeito das polícias pacificadoras ou se é o distanciamento dessas regiões que traz essa facilidade - afinal, tudo isso fica na direção da zona sul. O centro da cidade também é razoavelmente bem conservado, muito mais do que São Paulo, por exemplo. Os prédios históricos não são pichados ou sujos, mas conservados. Cada local contém policiais, mas não muito diferente do que vemos em Porto Alegre, creio até que em mesma quantidade, proporcionalmente.
O lado negro dessa história não foi visto com intensidade, mas a passagem do aeroporto do Galeão até a praia de Copacabana passa pela linha amarela, totalmente vedada por paredes de vidro, por dois motivos: mau cheiro e tiroteios. Já que ainda não fora possível resolver o problema da criminalidade nos morros por completo, o jeito foi isolá-los de certas zonas. Complicado isso, tendo em vista que as pessoas de bem acabam banidas. Em todo o caso, a criminalidade na zona baixa.
Ao ficar nessa situação oposta entre crime e turismo, esses dias de viagem mostraram que a cidade do Rio de Janeiro está muito bem. Não vivo no Rio, não sei como é o cotidiano, mas para quem a visita ainda pode ser vista como cidade maravilhosa, pois há o que se desfrutar naquele ambiente sem se preocupar necessariamente com um assalto ou uma bala perdida que possa ocorrer.

11 de fevereiro de 2011

Crônicas cariocas em breve!

Já fazia um bom tempo que não postava novamente. É um péssimo hábito: escrevo uma vez, noutra hora já fico pensando no que escrever - saio da frente do pc e não mais o faço. Tudo bem, isso um dia irá mudar. Um dia.
Desta vez, porém, mais motivos trancaram os escritos. Mal fiquei em Porto Alegre desde a última vinda do litoral. Parti novamente para Atlântida Sul e, mal tendo parado em Poa, fui ao Rio de Janeiro. Foram quatro dias muito intensos e de novos conhecimentos a serem traçados, reconfigurados e expostos nesse blog. Portanto, a partir das próximas postagens, teremos as Crônicas cariocas aqui expostas.
Além disso, estou no 12º livro de leitura das férias. Li obras sobre as quais nem escrevi aqui, mas ainda pretendo fazê-lo - caso o esquecimento não perturbe qualquer movimento na hora da digitação. O mais curioso é que, nesse momento, estou lendo o Gênesis. Não, não estou relenfo aquela obra sobre o que falei no final do ano retrasado, mas o da bíblia mesmo. Afinal, os mitos fundadores partem da mesma premissa que há nesse texto: não saber como tudo começou, ritualizar sobre uma determinada história e difundi-la através dos tempos. Assim os mitos permanecem e se recriam. Para tanto, ler essa obra e comparar com Caim, do Saramago, por exemplo, torna-se muito útil.
Ainda não virei um crente, se isso te preocupou.
Nos próximos dias, os textos seguirão.