17 de julho de 2010

Aproveitando as férias...

Ler é fundamental e todos já sabemos. No site Kzuka, dois editores do Grupo RBS deram suas dicas de leituras para a gurizada aproveitar nas férias. Selecionei um deles, bem fundamentado, para deixar de dica para gurizada:

* Luiz Antônio Araujo (@luizaraujo_) — editor de Cultura do jornal Zero Hora desde 2009. No jornal desde 1996, passou pelas editorias de Capa, Geral, Digital, Segundo Caderno e Política:

Ler é uma grande viagem. Com a vantagem de que você não precisa enfrentar lista de espera, overbooking ou o Salgado Filho fechado pela neblina. Quem lê – especialmente quem lê bons livros, mas, em última análise, qualquer tipo de livro – cresce, amadurece e aprende a conhecer a si e aos outros. Aqui vão, portanto, algumas dicas para estas férias:

Romance: é uma história longa, escrita em prosa (não em verso), por meio da qual o escritor nos conta acontecimentos sobre um ou mais personagens. Dizem que o primeiro romance foi "Dom Quixote", do espanhol Miguel de Cervantes, a história de um homem que enlouquece depois de ler livros de aventuras de cavalaria e sai pelo mundo a tentar repetir os feitos de seus heróis. Experimente ler "O Apanhador no Campo de Centeio", de J.D. Salinger (Editora do Autor), "A Viagem do Elefante", de José Saramago (Companhia das Letras), ou "Khadji-Murát", de Liev Tolstói (Cosac Naify).

Conto: é uma história curta e concentrada em prosa. Você pode imaginar que é mais fácil ler um conto do que um romance. Em termos: mesmo um conto exige atenção e envolvimento de quem lê. Quer fazer um teste? Leia "Os Melhores Contos de Horror do Século XIX" (Companhia das Letras), "Contos Completos", de Sergio Faraco (L&PM), ou "A Dama do Cachorrinho", de Anton Tchekhov (L&PM).

Poesia: é lance mulherzinha, certo? Errado. Por muitos séculos, o melhor da literatura foi feito em versos, incluindo a Bíblia e as epopeias gregas. A poesia não é mais a rainha dos corações, mas nem por isso deixa de ter encanto. Forme sua própria opinião lendo "Antologia Poética", de Vinicius de Moraes (Companhia das Letras), "Alguma Poesia", de Carlos Drummond de Andrade (Instituto Moreira Salles), ou "Caixa de Sapatos", de Fabrício Carpinejar (Companhia das Letras).

História: você é do tipo que prefere ler sobre coisas que realmente aconteceram? Pois saiba que isso é motivo de uma grande polêmica entre as pessoas que escrevem sobre História com H maiúsculo. De qualquer maneira, há muita coisa boa escrita por historiadores e mesmo por jornalistas para ler. Tente "1808", de Laurentino Gomes (Ediouro).

- Biografia: é a história da vida de uma pessoa, escrita por ela mesma ou por outros. Você curte? Então leia "Beatles – A Biografia", de Bob Spitz (Larousse do Brasil), ou "Chega de Saudade", de Ruy Castro (Companhia das Letras).

- Ciência: o seu negócio é entender as grandes descobertas científicas, o que o homem já descobriu ou está por descobrir, como surgiu o cosmos, essas coisas. Então você tem de ler "A Grande História da Evolução", de Richard Dawkins, ou "A Dança do Universo", de Marcelo Gleiser (ambos da Companhia das Letras).

Se nada do que você leu aqui lhe empolgar, faça a sua própria lista de leitura. Vá a uma livraria ou uma biblioteca, converse com os amigos, escolha os títulos que mais têm a ver com você e comece a ler. E não esqueça: ler deve sempre ser um prazer. Se aquele livro que sua avó lhe deu de aniversário está lhe chateando, deixe-o de lado. Talvez algum dia ele desperte seu interesse. O importante é ler o que você quiser, aqui e agora.

12 de julho de 2010

BBB (Bruno Brasil Barbárie)

por Fernando da Mota Lima – Quem conhece algo da tradição dramática e literária relativa ao crime sabe o que é o mito do crime perfeito. Ele consiste na fantasia do planejamento e execução do crime indesvendável, o crime que nenhum Sherlock Holmes teria a inteligência e o poder de decifrar e portanto punir. Uma das coisas que me horrorizam nos grandes crimes correntemente praticados no Brasil é a presença do ingrediente de brutalidade sem cálculo. Mata-se não apenas com requintes de barbárie, com impiedade inconcebível na nossa noção de normalidade humana, mas também com imperfeição grosseira. Noutras palavras, são crimes praticados sem nenhum vestígio de inteligência e cálculo. Chocam ainda por serem também isentos de paixão. O crime passional, não importando seu horror, é humanamente compreensível. O que talvez mais me horroriza no crime bárbaro é minha incapacidade de compreendê-lo, de enquadrá-lo em alguma noção de humanidade votada à destruição. Portanto, este artigo, escrito por alguém que nada entende de crimes nem deles felizmente participa, não pretende explicar ou compreender o que me parece em último caso inexplicável e incompreensível.
Por que estão se banalizando no Brasil crimes como este que o goleiro Bruno e seus associados são acusados de cometer? Serão fruto de algum mal obscuro e ininteligível existente em alguns indivíduos? Serão um mero produto do meio, como sugere a pergunta feita por Sandra Annenberg, apresentadora do Jornal Hoje, a um psiquiatra forense? Melhor dizendo, ela perguntou se a causa do crime não estaria no fato de Bruno ter vivido uma infância sem pai e mãe, marcada assim por formas traumáticas de privação infantil. Isso é coisa de psicologia de folhetim, ou sociologia de almanaque. Milhões de pessoas no mundo, sem exagero, sofreram formas de privação semelhante sem todavia incorrerem em qualquer tipo de crime, muito menos um do tipo que é imputado ao goleiro.
Estou com isso isentando as condições do meio de qualquer responsabilidade? Muito pelo contrário. O meio importa, sim. Importa de forma poderosa, mas não desse modo grosseiro sugerido pela pergunta da jornalista. A pergunta dela é sintoma, antes de tudo, da cultura da vitimização corriqueira no presente. Quero dizer, estamos sendo condicionados a isentar-nos de qualquer responsabilidade moral com respeito a nossas vidas e ações. Somos, noutros termos, vítimas da vida e das circunstâncias. Ora, penso precisamente o contrário. Penso que todo ser humano é moralmente responsável pelas ações que pratica. Isso não anula, friso, o peso variável das circunstâncias, apenas afirma a necessidade do reconhecimento de uma instância moral regendo nossas ações. Se não aceitamos isso como um fato, então precisamos coerentemente inocentar qualquer tipo de ação humana, além de suprimir a noção de liberdade ou livre arbítrio do horizonte humano.
Vejamos agora como o meio importa. O capitalismo brasileiro já foi mais frequentemente qualificado como selvagem. Era moda assim dizê-lo durante a ditadura militar, quando foi imposto ao país um processo de modernização capitalista autoritário. Ele consistia, melhor dizendo, na mobilização de processos de crescimento econômico que modernizavam o país sem todavia eliminar as condições de atraso e opressão típicas das sociedades pré-modernas. Esta é precisamente uma das singularidades do nosso capitalismo, a que moderniza reproduzindo as condições de atraso. Trocando isso em miúdos, o Brasil entrou para o clube privilegiado das dez grandes economias do mundo sem no entanto suprimir suas características retrógadas ou iníquas correntemente supostas na expressão herança maldita. É uma expressão, sabem os leitores, muitas vezes usada pelo próprio Presidente da República. Ela supõe, entre outras coisas, a persistência das duas grandes pragas que marcaram nossa formação como nacionalidade e povo: o colonialismo e a escravidão.
Peço desculpas aos leitores pelo parágrafo acima, pretensamente sociológico, mas ele importa para compreendermos algo do nosso capitalismo. Mais importante ainda, ele nos ajuda a compreender alguns grãos da nossa barbárie. Deixando a sociologia de lado, essa herança maldita se manifesta a todo momento em fatos sociais como estes: a miséria visível nas nossas ruas, a hiperexploração da mão de obra, o trabalho infantil, a corrupção endêmica, a política do deus dará, a democracia seletiva, com perdão do paradoxo, a prostituição disseminada na sociedade etc. Sintetizaria tudo isso dizendo simplesmente que no capitalismo à brasileira nos tornamos mercadorias baratas, mercadorias expostas, tão sem máscara ou verniz de humanidade quanto os crimes que são objeto deste artigo.
Exemplos? O Jornal Hoje, novamente ele, apresentou semana passada, em meio às repercussões sensacionalistas do crime imputado a Bruno, uma reportagem sobre a fortuna que ele perderá se for condenado. Vemos então um economista expondo, do alto de sua ciência sem alma, do seu saber inconsciente, quanto Bruno perderia se continuasse jogando no Brasil, quanto se se transferisse para a Europa, sonho de todo atleta brasileiro. Isso diz tudo sobre a banalidade do mal no noticiário da mídia, que aliás mais uma vez espremerá o crime até a última gota de sangue. O público, por sua vez, ávido de sangue, acompanha fascinado esse circo de horrores produzido pela mídia a cada crime sangrado na nossa realidade. Outros virão.
Exemplos? O acusado do crime a mando de Bruno, cujo cognome é Bola ou Paulista, foi expulso da polícia civil em 1992. Depois disso foi acusado de muitos crimes sem todavia sofrer qualquer punição. A própria polícia admite agora que é um homem frio e perigoso. A julgar pelo pouco que vi e ouvi, o dossiê do tipo é bem fornido de crimes. No entanto, viveu todos esses anos sob completa impunidade. Aliás, a julgar pelo que circula agora sobre a ficha corrida dos envolvidos, quem nessa história é inocente? Aliás, quem acaso teve a curiosidade de contabilizar o número de crimes que envolvem policiais ou ex-policiais?
Voltando ao contexto geral, nosso capitalismo continua sendo, reafirmo, capitalismo selvagem. Como acima frisei, longe de mim a presunção de propor qualquer explicação para o crime que aqui discuto. Mas como não perceber a sombra nefasta desse capitalismo pairando sobre nossos horrores? Como não perceber que no cerne da nossa anomia social, no cerne de uma sociedade privada de regulação civilizada, as instituições socializadoras fundamentais não funcionam? Melhor esclarecendo, a família, a escola, a religião, a mídia, nada disso funciona de acordo com ideais e valores inerentes a uma sociedade verdadeiramente civilizada. Por isso repito, sem pessimismo ou bola de cristal, que outros crimes virão, iguais ou piores, enquanto a roda viva do nosso capitalismo brutal continuará girando e faturando, vertendo sangue e consumindo vidas que valem zero. Não sou eu quem o diz, são os fatos apreensíveis na mídia, na indústria publicitária, na máquina produtiva, no circo de horrores que é o capitalismo à brasileira.

5 de julho de 2010

Como fazer adolescente ler?

Postado por O Livreiro em 22 de junho, às 11:55 em Amigos  |  Comentários (26)




Por Pedro Jansen*

Foto por Vanessa Ivonne, no Flickr
Foto por Vanessa Ivonne, no Flickr

Esse texto provavelmente vai fazer você bater na testa e dizer “nossa, e pensar que um dia eu não gostei de ler…” e então você vai se ver imberbe ou ainda sem ter pintado o cabelo, colecionando figurinhas, brincando de roda, de bola, “Comandos em Ação” ou vendo qualquer coisa na TV…
Você, um primo, um amigo [ou todos vocês juntos e mais gente ainda] já passaram pela época em que ler significava estudo e que estudo era uma coisa chata às pampas e, bem, infância não combina muito com chatice. Aí te mostraram um gibi aqui, um Monteiro Lobato acolá, a Coleção Vagalume do seu irmão vacilava na estante do quarto… E “plim” [perdão pela onomatopéia tosca], você começava a encarar leituras maiores, enredos mais intricados, mais personagens… E nessa época [vamos colocar aí que todo mundo que tá lendo esse texto nasceu da década de 80 pra trás...] se você não lia, você ouvia música, ou via um filme. Jogar video game era algo bem distante, jogadores de RPG eram intocáveis por sua excentricidade.
Livros da Coleção Vagalume
Livros da Coleção Vagalume

Agora corte. Comece a tracejar uma linha que te guia de meados dos anos 90 até hoje. Pense especialmente na gurizada que nasceu na virada do século e que hoje tem PS3, XBOX 360, Wii, PSP, Nintendo DS e milhares de maneiras diferentes de exercer sua imaginação, conduzir personagens, encadear histórias. E a leitura, que antes era a grande maneira encontrada para exercitar o imaginário, para conhecer novas palavras, para tomar gosto de ler aqueles capítulos imensos do livro de história… tudo se foi.
Nesse momento, pais e mestres mais quadradinhos podem até regojizar: “nós tanto falamos que essa história de videogame não podia ser boa coisa…”. Vamos com calma, né? Os atrativos hoje podem até ser infinitos e embora mais complexos, são mais recompensadores. Um jogo que precisa de 70h para ser finalizado, em que você pode controlar mais de 20 personagens em diferentes ações tende a ter mais apelo que um livro, cuja a história é imutável, “imexível”, estática, encerrada em si.
Qual a solução? As mesmas de antes: material atrativo, que converse com a realidade da gurizada e que não seja mala. Exemplos? Harry Potter mais uma vez é um. Scott Pilgrim é outro. Turma da Mônica Jovem? Mais um. A série de Percy Jackson? Sim. Pense nos símbolos e, principalmente, entenda o discurso. Fantasia, heroísmo e humor vão sempre ter espaço entre os jovens. Pode apostar. :)
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Pedro Jansen é piauiense radicado em São Paulo, jornalista, autor do livro “Deus Ex Machina – Quando o Rock Teresinense Nasceu do Nada” e blogueiro desde 2001. Foi repórter do jornal O DIA – PI e da revista VIP, da editora ABRIL. Foi também editor do Yahoo! Posts e atualmente trabalha na Revista da Livraria Cultura.

3 de julho de 2010

Seis bons romances policiais

No link abaixo, para aqueles que gostam de romance policial, hão de encontrar uma lista feita pelo blog Mundo Livro, do ClicRBS. Vale a pena conferir!
Seis bons romances policiais

2 de julho de 2010

Justiça seja feita

Acabo de acompanhar a eliminação do Brasil. A Copa do Mundo é realmente uma coisa fantástica, principalmente quando ela quebra nossos bolões. Talvez isso não seja o mais importante, mas vale pensar que tudo que lá ocorre não é fruto de mero acaso.
Eu apoiei Dunga em todas as decisões. Finalmente, desde 1994, eu não via uma seleção tão "time" quanto essa. Afinal, eram peças colocadas para fechar um esquema tático, uma espécie de unidade, em que as individualidades seriam suprimidas em nome de algo maior. Se lembrarmos 2006, a seleção fora feita toda sobre a arrogância e prepotência das individualidades, visto que isso não deu certo. Com essa mentalidade, Dunga venceu a Copa América, foi o primeiro colocado nas Eliminatórias e venceu a Copa das Confederações. Acho até muito pra alguém que não tinha experiência alguma no comando técnico.
Assim, a justiça foi feita, por todos os lados. Dunga manteve sua ideia, manteve convicções que muitos do povo e a mídia duvidavam, levou a seleção adiante. Os jogadores, nervosos pós-primeiro gol, não souberam voltar ao que o capitão do tetra se comprometeu. O Brasil perdeu por limitações técnicas também, mas muito mais pela falta de preparo psicológico - basta observar as atuações de Felipe Melo nas partidas em que atuou. Até Juan e Julio César tiveram seus maus dias hoje. Kaká e Luis Fabiano foram peças omissas também pela marcação holandesa, mas poderiam ter sido mais. A Holanda mostrou-se um selecionado de comportamento alterável, pois começou mal o jogo e soube reverter. Se o jogo tivesse apenas um tempo, os brasileiros estariam na semi-final.
Todos sairam com suas convicções: a imprensa, de que a seleção deveria ter convocado as promessas santistas e de que Felipe Melo não serve ao selecionado; o povo, de que o Brasil deveria ir mais pra frente, em busca da vitória, de que Dunga deveria entupir de atacantes o espaço que antes era razoável na zaga holandesa; por fim, Dunga, que só não saiu vitorioso pelo fato de que seus jogadores muito se abalaram após o primeiro gol. O próprio Julio César saiu de campo admitindo os problemas dos atletas.
E, dentre todas essas convicções, firmo-me: Dunga estava certo. A justiça fora feita.

1 de julho de 2010

Questões de meritocracia

Há horas que se debate a questão da meritocracia nas escolas. Sou favorável, desde que não desprivilegie o profissional que tenta, mas não atinge o mínimo de aprovados necessários. O jornal Zero Hora, tempos atrás, publicou uma série de reportagens que envolviam essa questão, abordando realidades da América do Norte e da Europa como modelos a serem desenvolvidos aqui - naturalmente não foi considerada a realidade local. De qualquer forma, exponho aqui uma reportagem veiculada, para que pensem sobre essa questão.

O X da Educação  |  18/06/2010 18h39min

Meritocracia em debate: sete ideias para qualificar os professores

itamar.melo@zerohora.com.br
1 - Formação de qualidade

Problema:
a formação no país é de baixa qualidade. Formação ruim gera professores ruins.
O que pode ser feito: além de melhorar a qualidade dos cursos, fechando os mais precários, é necessário rever o modelo brasileiro. Os futuros professores aprendem teorias pedagógicas, e não a ensinar. A saída é oferecer cursos voltados para a prática.

2 - Tornar a carreira mais atrativa

Problema:
a profissão atrai, em geral, pessoas que não se destacaram na vida escolar. Os mais talentosos procuram outras atividades.
O que pode ser feito: é preciso fazer a carreira de professor valer a pena. Os salários têm de ser competitivos, com perspectivas de crescimento. Carga horária e disponibilidade de recursos didáticos precisam melhorar.

3 - Premiar o mérito do profissional

Problema:
a qualidade do professor é o principal fator do aprendizado, mas no Brasil o quesito é pouco levado em consideração.
O que pode ser feito: recompensar os melhores é uma forma de estimular o aperfeiçoamento e a qualidade. Especialistas propõem mais treinamento ou mesmo punições a quem não consegue ensinar.

4 - Dar suporte técnico
Problema: os professores recebem pouca ajuda para fazer seu trabalho e para superar os obstáculos em sala de aula.
O que pode ser feito: promover os mais talentosos para a função de tutores dos colegas. Eles serviriam como auxiliares, indo às aulas para observar o docente, orientá-lo sobre o que pode fazer melhor e ajudá-lo a montar estratégias.

5 - Avaliar alunos e escolas
Problema: a escassez de dados sobre desempenho é um obstáculo para saber o que funciona e o que não funciona.
O que pode ser feito: montar avaliações permanentes e bancos de dados que permitam saber como estão evoluindo cada aluno, turma e escola oferece instrumentos para descobrir onde estão as falhas de aprendizado.

6 - Postergar a estabilidade
Problema: só é possível saber se um professor é bom depois que ele já está trabalhando em sala de aula, mas faltam mecanismos para corrigir e afastar os ruins.
O que pode ser feito: criar um período probatório durante o qual o profissional é avaliado e orientado muito de perto. Só depois disso, caso ele demonstre capacidade, seria efetivado.

7 - Dar mais autonomia para as escolas

Problema:
os sistemas são burocratizados e centralizados, com pouca cobrança de resultados.
O que pode ser feito: um modelo que tem se mostrado promissor é o de conceder ao diretor autonomia para gerir orçamento, definir métodos de ensino e escolher sua equipe de professores. Ele se torna responsável pelo resultado, podendo ser premiado ou punido.

 
ITAMAR MELO

Leitor digital de textos

Leitor digital de textos, o Kindle pode revolucionar hábito da leitura

Ivan Dias Marques | Redação CORREIO

A coluna dói e os braços também. Essa tortura de carregar um monte de livros para escola, faculdade ou para o trabalho pode estar com os dias contados. Desde o dia 19, os brasileiros já podem adquirir o Kindle, um e-reader fabricado pela livraria virtual americana Amazon, uma das maiores empresas na internet do planeta. Nele, é possível armazenar cerca de 1.500 publicações digitais que podem ser baixadas, cada uma, em menos de um minuto via conexão sem fio. O funcionamento do Kindle, que teve três milhões de unidades vendidas nos EUA só este ano, é simples. Uma vez comprado, o cliente já ganha a conexão direta com o site da Amazon, que possui cerca de 200 mil livros digitais, os e-books. Assim, na hora que quiser, seja em Salvador, Paris ou Tóquio, ele pode comprar um livro por cerca de US$ 9,99 (menos de R$ 20). A empresa envia o e-book através de uma conexão 3G (a mesma dos celulares mais modernos) e o comprador pode se deleitar em menos de um minuto.

Na realidade, o preço pela conexão sem fio já está incluso no valor da publicação digital. Além de livros, o Kindle também lê jornais e revistas virtuais e acessa a internet normalmente. A tela é diferente da do computador, com uma tecnologia chamada E ink, que faz a tinta ficar mais escura quando mais iluminada. Outra função bacana é não precisar mais buscar na memória em que parte do livro o autor escreveu determinada frase. O Kindle possui um mecanismo de busca em que é só digitar as palavras desejadas que ele indica as páginas onde elas se encontram. Além disso, nada de poluir páginas com anotações. Existe espaço exclusivo para elas.

Poréns

Mas nem tudo são flores e poesia. O preço do Kindle, vendido internacionalmente na segunda geração (existe uma terceira só para os americanos), chega a quase R$ 1 mil, depois de taxado pelos impostos de importação. Ainda existem poucos títulos em português no site. A maioria é na língua inglesa, o que limita muito o número de compradores nacionais. A visualização, por enquanto, é apenas em tons de cinza. A Amazon espera que só em dois anos o e-reader possa ter uma versão colorida. Apenas o jornal O Globo está disponível para compra virtual. A entrega do Kindle para o Brasil demora cerca de 20 dias. Mesmo com alguns poréns, ele pode colocar o futuro do livro físico em jogo.

Mercado de e-books está em crescimento na Amazon

Os leitores digitais, os e-readers, não são novidade. O que faz do Kindle o favorito para mudar as relações que temos com os livros é a conexão direta com a Amazon e ter a própria livraria por trás dele. De acordo com o americano Jeff Bezos, criador do aparelho e fundador da empresa virtual, 48% dos livros vendidos no site são lidos no Kindle. “Há alguns meses, essa participação era de 35%. O ritmo de crescimento é bastante rápido”, declarou à revista Veja.

O livro mais recente do escritor Dan Brown (de O código Da Vinci), chamado O último símbolo, vendeu mais exemplares digitais do que físicos. O preço do e-book era quase 30% menor que o da versão usual. “É o produto mais vendido entre todos os milhões de artigos que comercializamos no nosso site”, afirma Bezos sobre o Kindle. “É o nosso best-seller”.

Três das principais empresas de material didático americanas já fizeram acordo com a Amazon, o que vai possibilitar que e-books com esse tipo de conteúdo também sejam disponibilizados no site.

Mesmo causando burburinho, o Kindle é ainda a primeira pedra. Outras empresas como Sony, Samsung e Asus pretendem lançar aparelhos semelhantes no mercado. É a concorrência chegando. A tendência é que, como sempre ocorre, em pouco tempo a tecnologia avance e os produtos melhorem cada vez mais.

27/10/2009

Bia Tognazzi e suas desventuras ortodoxas

Mantive contato, durante a semana passada, com o Gustavo, da Editora Dublinense. De um papo bastante agradável via e-mail, em que falei sobre minha vontade conhecer algumas obras da editora com fins de veiculação entre meus alunos. Os temas das obras eram interessantes. Recebi quatro obras: Contas de mais-valia, Sanga menor, Crime na Feira do Livro e um que muito me interessou - já li e recomendei - chamado Moinhos de sangue.
Nessa obra, uma socialite porto-alegrense de 37 anos anseia um casamento. O problema eram seus inúmeros pré-requisitos: ricos, de bom sobrenome, educados e que a mantivessem acesa por muitos anos. Tudo bem que, ao revê-los, ela resolve desistir de encontrar um príncipe encantado e parte para aquele que melhor lhe sairia como marido. A pressão exercida pela mãe, a mais bela mulher de sua época na sociedade gaúcha, pela sobrinha, vista agora como a que mais chamava atenção, tirando o lugar dessa socialite, faz com que ela busque um par definitivo para retomar sua posição. Bia, a personagem principal, tem adoração por Ualdisnei, com quem não deseja casar, pois, além de ter um nome considerado bizarro, falava menas. Preconceito linguístico escancarado. De qualquer forma, ela aplaca Vitor Hugo, casado então com uma bêbada que dava vexames o tempo inteiro. Para tirá-la do caminho, resolve matá-la. A narrativa é toda montada através da ótica de Bia, que fará com que todos caiam em suas artimanhas.
Mais interessante que isso é a forma como Bia Tognazzi dialoga com seus próximos. Soninha, sua melhor amiga desde o colégio e patroa dos pais de Ualdisnei - o que promoveu o encontro entre Bia e Ual - é a fiel escudeira. Intitulam-se Maligna e Maléfica. Soninha, porém, de Maligna não demonstra nada: tem um casamento regular com Cláudio, dois filhos, cuida da casa. Bia não poderia ser assim, já que seu perfil é extremamente agitado, praticamente bipolar. Quando Bia mata a esposa de Vitor, ela não dá nem sinal de arrependimento, tanto que sua amiga nem desconfia de quem fora o assassino. Após, com as mortes posteriores - e do jeito que foram - Maligna desconfiará e acusará Bia, que mal dá bola pra isso e ainda chantageia Sônia.
As atitudes de Bia não têm fim trágico para ela. Num local em que se importa muito mais com as aparências e seus níveis sociais, não há motivo para querer buscar os reais culpados de crimes totalmente abafados pelos realizadores. Assim, o que Bia Tognazzi busca é atingido com êxito, tendo um casamento de sonhos, mesmo não amando ou sequer suportando o marido. Seu desejo era Ual, mas até esse ser ela acaba atingindo. O desatino pela posição gera uma série de desventuras, o que acarreta certo humor ao desenrolar da obra, pois é dessas cretinices que ela cria, através de um desbocamento voraz, que a faz forte e capaz de realizar as ações. Vira ortodoxa, pois o que faz pela primeira vez ela fará mais vezes, quantas forem necessárias. A personalidade de Bia é domada pelos instintos mais puros, porém realizados de maneiras mais trágicas.

Nacionalidade, futebol e identidade cultural

por Fernando da Mota Lima – Como sabem os estudiosos da nossa história política e cultural recente, “Um dia na vida do Brasilino”, de Paulo Guilherme Martins, é uma fábula nacionalista publicada no outono de 1961. É assim que o próprio autor data muito anticonvencionalmente seu livreto. O texto está agora disponível na internet, como quase tudo. Passou a circular nela como edição comemorativa dos 41 anos do seu lançamento. Dado que retorna inalterado, é razoável supor que Martins se mantenha fiel à mesma ideologia, que a subscreva com a mesma convicção com que a escreveu em 1961.

O sentido ideológico da fábula é de uma transparência meridiana: o cotidiano do brasileiro, simbolizado na figura de Brasilino, é atravessado do primeiro ao último minuto pela dominação onipresente do imperialismo econômico e cultural. O processo de acelerada globalização disparado a partir de 1964, ano em que os militares impuseram às forças de esquerda uma derrota devastadora, tornou no presente o mote do nacionalismo e anti-imperialismo de esquerda inteiramente anacrônico. No entanto, a ideologia sobrevive aparentemente intocada.

Figura de mil faces, tal a variedade camaleônica com que se amolda a todos os grupos políticos, econômicos e culturais que a adotam, a ideologia nacionalista goza de excelente saúde repontando no discurso exaltado dos que defendem nossa particularidade lingüística, nossa integridade culinária (bastaria lembrar a hilariante apologia da broa de milho feita por um político de esquerda vindo do exílio), as políticas estatizantes como linha de resistência à dominação econômica imposta pelos Estados Unidos, nossa amada e ameaçada identidade cultural. Não se sabe bem o que seja, nossa identidade cultural, mas o fato é que todos os dias alguém aparece na mídia para defendê-la e não raro salvá-la. É tão viva e vigilante que ocupa lugar de destaque no seio da nossa política cultural dispondo de secretaria própria no Ministério da Cultura: a Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural. O título soa um tanto paradoxal. Se celebramos a diversidade cultural, se o argumento da miscigenação cultural e racial tornou-se hegemônico na consciência brasileira, graças antes de tudo à obra admirável de Gilberto Freyre, como explicar a resistência imposta ao livre contato entre culturas em plena era da globalização? Como explicar a instituição de uma secretaria destinada a velar pela nossa identidade, além de a estimular com ações políticas concretas? Como explicar que até entre nós, entre brasileiros de uma região comum, acendam-se os ânimos de pernambucanos contra a invasão do carnaval baiano, que nos levantemos contra os sulistas, os baianos também, e portanto invalidemos um suposto princípio de unidade dentro da identidade nacional?

É também significativo o imenso prestígio político e intelectual de um ideólogo como Ariano Suassuna, defensor de uma noção de cultura e identidade cultural tão extremada que, perto dele, muitos dos nossos nacionalistas mais exaltados parecem cosmopolitas ou ainda entreguistas, se queremos usar um termo ancrônico, todavia ainda vivo na fala intransigente de Suassuna. Como ele próprio afirma sem meias medidas:

Um prêmio chamado Sharp, ou Shell, Deus me livre! Não quero. Acho esses nomes feios. Não recebo prêmio de empresas ligadas a grupos multinacionais. Não sou traidor do meu povo nem estou à venda. (…) A globalização é uma arma que os países ricos têm para perpetuar a dominação sobre os pobres. O patrocínio de multinacionais nos eventos de nosso país é uma tentativa de adormecer a resistência de nosso povo e aviltar a cultura brasileira pelo suborno dos intelectuais.

Coerente com sua concepção extremada de nacionalismo cultural, antes de tudo regionalismo enraizado nas fontes da cultura rústica sertaneja, Suassuna abre fogo contra toda e qualquer expressão da cultura urbana de massas, assim como qualquer expressão da cultura erudita contaminada pelo livre circuito dos empréstimos culturais. Sendo assim, na mesma entrevista dispara contra a bossa nova, o tropicalismo, o rock, Tom Jobim, Caetano Veloso etc. Para ele, globalização é apenas uma arma a serviço da dominação imposta pelos países do capitalismo central a países do tipo do Brasil. Para ele, os símbolos culturais americanos representam pura e simples dominação econômica e ideológica.

Ariano Suassuna fala todo o tempo pelo povo e em nome do povo. Infelizmente, o povo não parece nem um pouco interessado em seguir o enredo que escreve para a cultura e a identidade brasileira. Para desespero do nosso extremado ideólogo, os porteiros de condomínio querem mesmo dizer okei, não oxente. Nossos artistas primitivos, expressão da cultura rústica e pré-moderna celebrada por Suassuna, atendem alegremente ao convite que a cultura urbana de massas lhes acena. O povo brasileiro, não importando o sentido que desejemos atribuir a esse termo tão camaleônico como o nacionalismo cultural, persegue deslumbrado tudo o que o discurso salvacionista de Suassuna repele: o shopping center, o consumismo desvairado, o lixo e o luxo da cultura americana, a língua inglesa disseminada em todos os poros da nossa sociedade, o batuque eletrônico da música sem fronteiras. Deixo Ariano Suassuna em paz com seu regionalismo intransigente e intolerante. Ele importa, para o meu argumento central, como evidência dos extremos a que pode chegar a ideologia que aqui me ocupa.

Se há um símbolo consensual na nossa indefinida e inapreensível identidade cultural, não duvido de que seja o futebol. Aqui vai uma ilustração que me parece mais persuasiva do que a mais refinada elaboração teórica que eu acaso pudesse acrescentar a este artigo. A seleção brasileira enfrentou a argentina na antevéspera do Dia da Independência. Quatro horas antes do jogo ouvi vizinhos cantando festivamente o hino nacional. O fato me chamou a atenção o suficiente para que eu fosse até a varanda. De lá divisei grupos entusiasmados entoando o hino, alguns curiosamente perfilados em pose solene, como se tivessem a bandeira nacional tremulando à frente. Esta, aliás, não tremulava à frente desses grupos tomados de fervor nacionalista, mas tremulava em muitas das varandas e janelas que observei. Os jogadores brasileiros exibiram-se admiravelmente, venceram o jogo e a euforia atravessou sem exagero todas as nossas classes sociais de um extremo a outro do país.

Em contraste com esse espírito de autêntico orgulho nacional, de expressão de unidade cultural sobrepondo-se a divisões de classe e região, dois dias mais tarde vivemos o feriado que historicamente assinala nossa independência política. Preocupado em observar o fato cotejando-o com o precedente relativo à seleção brasileira, não deparei nenhuma expressão de autêntica e espontânea consciência nacional, nenhuma evidência coletiva de orgulho associado à nossa independência. A identidade cultural localizada por Mário de Andrade na inconsciência espontânea do povo parece emudecida durante o dia consagrado à independência política do Brasil. A julgar pela realidade visível, nosso Sete de Setembro é apenas um feriado qualquer que o brasileiro típico aproveita para desfrutar na praia ou dedicar ao lazer dissociado da memória histórica relativa à razão do feriado.

Mas o futebol compreendido como fator de unidade e identidade cultural justifica algumas ponderações que me parecem ainda mais relevantes do que tudo que acabo de anotar acima. Procedendo a um ligeiro exercício de imaginação sociológica, indago de mim para mim próprio qual seria a reação de um nacionalista empenhado na defesa de nossa identidade cultural se acaso vivesse na época em que o futebol começou a penetrar na nossa realidade cultural. Como sabemos, eis um fato importante para a maioria dos brasileiros, o futebol foi introduzido no Brasil por um inglês residente em São Paulo. Esporte de nacionalidade inglesa, o futebol chega à nossa terra no auge do colonialismo inglês, que de resto já dominava a economia brasileira há muito tempo. Ingressa no Brasil como esporte de elite, basta percorrer ligeiramente a iconografia relativa aos estádios de futebol nesse período inicial, e vai sendo gradualmente assimilado pelo povo. É um exemplo fascinante de assimilação cultural processado pela via do desnivelamento, como já nos ensinou Mário de Andrade. Se o jazz constituiu um exemplo de nivelamento, ascendendo de camadas negras socialmente marginalizadas para a elite, o futebol percorreu o percurso inverso.

Mas volto a nosso hipotético nacionalista paladino da identidade cultural. Seria razoável supor que no momento em que o futebol penetrava no Brasil ele reagisse indignado amparado no argumento da nossa autenticidade cultural, alegando provavelmente que o futebol não passava de um instrumento de dominação cultural imposto pelo colonialismo inglês. Falaria provavelmente em nome do povo, cuja integridade cultural precisaria ser por ele defendida, assim como no presente Ariano Suassuna e tantos nacionalistas e regionalistas generosos e abnegados o defendem. Infelizmente, o povo demonstra, mesmo quando tutelado politicamente, como é ainda fato no Brasil do século XXI, ser sujeito de determinados desejos e vontades. Assim, ignorando a alfândega cultural imposta por nosso intelectual nacionalista, foi se aproximando da bola de procedência inglesa, foi batendo bola aqui, mais adiante num terreno baldio, depois num campo de futebol e por fim chegou ao Maracanã, um dos palcos da universalidade futebolística. Como sempre ocorre em qualquer processo de empréstimo ou assimilação cultural, não adotou passiva ou mecanicamente o futebol. O que de fato fez foi adaptá-lo acrescentando-lhe sua ginga de corpo, seu modo próprio de assimilação. Sabem os entendidos, e neste assunto todo brasileiro é entendido, que nada afirmo aqui de original. Estou apenas repetindo com palavras próprias o que Gilberto Freyre e muitos outros intérpretes da cultura, nacionalistas ou não, já disseram bem antes de mim.

Mas o futebol representa no Brasil, além da unidade identitária acima argumentada, nossa maior fonte de orgulho nacional, até mesmo de arrogância nacional. Nem o avanço da globalização econômica e cultural, dissolvendo fronteiras e transportando jogadores através de nações, clubes e símbolos de paixão esportiva cada vez mais indeterminados, abala a estabilidade dessa potente raiz de orgulho e arrogância do brasileiro. O fato é que a globalização converteu a seleção brasileira numa autêntica legião estrangeira, como acertadamente observou Roberto Pompeu de Toledo. Os clubes competem agora em escala global e o jogador, apesar do costumeiro lero-lero nacionalista, quer antes de tudo fama e fortuna. Seu sonho é ir o mais cedo possível para a Europa, fazer vida e glória na Europa. Isso não anula o nacionalismo da torcida, que continua exaltando arrogante os triunfos da nossa legião estrangeira como se cada um daqueles heróis jogasse num clube nacional da nossa idolatria, mas confirma a prioridade objetiva da globalização do esporte.

Penso que as questões acima esboçadas merecem uma reflexão mais detida no momento em que o mundo inteiro acompanha a Copa do Mundo disputada na África do Sul. Ela constitui mais uma evidência da globalização que dissolveu as fronteiras do futebol. Quase todas as seleções competidoras têm de nacional apenas os símbolos estampados nas cores das camisas e no hino de cada seleção. Os jogadores e técnicos obedecem apenas ao critério do melhor contrato ou salário, acrescido da fama. Nossa legião estrangeira, que veste as cores do Brasil, é tão alheia ao cotidiano do nosso futebol que eu mesmo, apreciador deste esporte, desconheço vários dos atletas que nos representam. No entanto, a torcida brasileira, assim como a das demais nações, continua investindo paixão e sentimentos nacionais em símbolos globalizados pelo mercado. Esse fenômeno que no momento coloniza a imaginação das massas em escala global mais uma vez comprova o quanto a ideologia e a realidade objetiva se desencontram na história da cultura.

Da causa do gênero


Na tarde de quarta-feira, na UFRGS, durante a apresentação sobre teorias feministas dentro da literatura, certas alusões inquietaram os educandos. Esse tipo de crítica gira sobre a formulação de homem e de mulher perante a sociedade, transcorrendo seções como a androginia, o homossexualismo e a transsexualidade.
Interessante perceber que tudo nasce da questão física, diriam os antigos teóricos. Nasce-se com um sexo, masculino ou feminino. Depois disso, a ação que o meio provoca, somada à reação que o indivíduo terá acarretará seu gênero, masculino ou feminino. A partir disso, seus desejos passam a aparecer, já na adolescência, o que denotará, por fim, sua sexualidade, sua orientação sexual. Enfim, um ciclo que parece imutável aos olhos do senso comum – mesmo que a maioria desconheça esse tipo de relação.
Como analisamos a teoria de Butler, além de idéias que foram lançadas pelas questões de masculinidade e feminilidade na arte, creu-se na seguinte binonímia: homem e mulher, em si, não existem. São meros signos lingüísticos (a soma de um significante – a imagem veiculada pela palavra – ao seu significado – ao que conhecemos conceitualmente sobre tal) que se travestem na sociedade para reger o que cada um deve ser. Um olhar mais criterioso fará com que observemos que nem toda a apropriação de ser homem ou de ser mulher realmente denota o que somos.
Na literatura, isso é muito evidente. Perguntado sobre quem seria a musa inspiradora para a feição de Madame Bovary, Gustave Flaubert afirma que essa personagem ces’t moi. Ou seja, era ele mesmo. Que bendito fruto é esse que tramita entre o ser homem e o ser mulher numa sociedade fechada e de valores ortodoxos? Na verdade, todos nós. Flaubert seguiu apenas uma visão do que seria a mulher através de sua ótica, criando uma obra tão profunda que é considerada o marco inicial do realismo no mundo. Diversos autores de literatura infanto-juvenil também fizeram o mesmo, tais como Pedro Bandeira, Wagner Costa e outros, e mesmo assim não se viram colocados ou tratados como mulheres por conta disso.
As pessoas têm muita dificuldade para compreender o que é ser algo ou alguém perante o mundo. Sabe-se, outrossim, que o preconceito corre como um vendaval e destrói pessoas pela falta de informação e a posterior discriminação. Somos todos, em âmago, homens e mulheres em busca do encontro consigo mesmo, sem determinar o que é melhor ou pior. Basta que saibamos quem realmente somos.

Leituras adjacentes

Vale a pena ler, por mais longo que seja. Sou assinante da revista Amálgama e volta e meia seguem artigos muito bons. Noutra hora, postarei um sobre futebol e nacionalidade.

IGARAPEBA: UMA FÁBULA NORDESTINA
por Fernando da Mota Lima – Por duas vezes Igarapeba foi arrancada da sua vil e sofrida obscuridade. A primeira, no início do remoto ano de 1964; a segunda, no dia 29 de junho deste ano, quando entrou no noticiário estadual e nacional graças às enchentes que devastaram muitas cidades e vilas de Pernambuco e Alagoas. A primeira data está associada à passagem de Antonio Callado por Igarapeba, então assaltada por um clima de mudança e agitação política absolutamente inéditas na sua história sem história. Callado veio do Rio de Janeiro para escrever uma série de reportagens sobre a tensa e potencialmente explosiva situação política de Pernambuco, sobretudo na região dos canaviais ainda amarrados a relações de produção e trabalho típicas do Brasil colonial. As reportagens, mais tarde enfeixadas no volume Tempo de Arraes, foram publicadas no Jornal do Brasil poucos meses antes do golpe militar que sufocou as transformações em curso no país e particularmente em Igarapeba.




Na reportagem, depois capítulo de livro, intitulada “Fábula da Igreja e do Partido Comunista”, Callado descreve a atmosfera de tensão social liderada pelas duas forças empenhadas na hegemonia do nascente movimento dos trabalhadores organizados em sindicatos rurais: a Igreja Católica, tradicional aliada da oligarquia regional, e o Partido Comunista orquestrado pelo combativo Gregório Bezerra. Callado foi a Igarapeba entrevistar o padre Edgar Carício, líder do sindicato rural na região que compreendia a vila de Igarapeba. Citando o próprio Callado, o encontro ocorreu “… em Igarapeba, um fim de mundo a 175 km de Recife, à beira do grandioso e pérfido Rio Piranji”. O adjetivo grandioso entra na frase, convenhamos, como um cochilo retórico do admirável romancista. Pérfido, com suas águas contaminadas pela calda das usinas e da miséria ribeirinha, o Piranji sempre foi; grandioso, apenas quando seu volume ameaçador transbordava durante as enchentes ocasionais. É o que agora volta a acontecer, só que num grau de devastação sem precedente.



Liguei a TV ontem (29) à noite para ver o noticiário sobre as enchentes na tradicional zona canavieira de Pernambuco. De repente, vejo Igarapeba enquadrada em planos gerais filmados de um helicóptero. Em seguida, cenas filmadas na própria vila: as águas do rio grandioso e pérfido rolando barrentas, os vestígios da ponte destruída, único ponto de conexão entre a vila e a estação ferroviária, que há muito não acolhe trens, e a estrada sinuosa e lamacenta que conduz à rodovia e à “civilização” pernambucana. Por fim o povo, o mesmo povo da minha infância. Vê-lo na TV, com seus corpos retalhados pela miséria e o obscurantismo daquele mundo sem história é repor na minha consciência e memória o pior de minha infância. Quando Antonio Callado passou por Igarapeba, eu, ainda menino, vivia já no Recife, onde vim estudar com toda a minha família. Sendo assim, nada sei em termos de experiência vivida de tudo que aconteceu naquele remoto e turbulento ano do governo Arraes.



O que sei, ouvindo o repórter da Globo enquanto a câmera enquadra planos da vila, é que três coisas cresceram em Igarapeba desde a esquecida passagem de Antonio Callado pelas suas poucas ruas: a população, a miséria e a força destrutiva do pérfido Piranji, agora justamente grandioso. À fábula ironicamente esboçada nas páginas das reportagens e do livro de Callado soma-se uma outra, ainda mais terrível: a da inércia social e política que há séculos castiga uma região assolada pela miséria e o desamparo das gentes. A enchente traz para Igarapeba e sua população irreparavelmente sofrida apenas essa dádiva divina: Igarapeba está na Globo, Igarapeba enfim existe para o Brasil, talvez para o mundo que sopra histericamente suas vuvuzelas para animar em escala global uma Copa do Mundo que tem mais ruído do que futebol.



Por fim, um outro sopro de memória acionado pela reportagem da Globo. Custa-me ainda compreender o arbítrio da memória humana que recria num passado tão brutal apenas os traços nostalgicamente transfiguradores da realidade. Aludo, noutros termos, aos processos psíquicos que nos transportam de volta à infância vivida entre escravos, desvalidos e tantas outras formas brutais de opressão selecionando desse mundo submerso apenas as memórias de beleza e gratificação egocêntrica. Penso, por exemplo, na célebre passagem de Minha Formação na qual Joaquim Nabuco, nosso grande abolicionista, recria nostalgicamente sua infância de senhor de escravos; penso nos meus parentes e amigos provenientes de Igarapeba, que organizam anualmente um Encontro dos Amigos de Igarapeba para celebrar um passado que idealmente recorta apenas a memória conveniente à nossa natureza egoísta. É por essas e outras que cultuamos o mito da infância feliz. Em contraponto, penso em Infância, de Graciliano Ramos, obra rara na grandeza com que investe contra nossas entranhadas mitificações do passado e da infância.



Passada a enchente, que deixará rastros de miséria ainda maiores do que aqueles secularmente enraizados na vida dos igarapebenses, Igarapeba afundará novamente na sua vil e sofrida obscuridade. Seus poucos privilegiados, os que de lá saíram para viver uma vida melhor, certamente renovarão o encontro anual no qual confraternizam por um dia na igrejinha da vila com os humilhados e ofendidos condenados a mofar naquela Sibéria tropical. Como a fábula da miséria nordestina se prolonga através de séculos sem vestígios de solução aparente, é provável que no futuro próximo sobrevenha outra enchente de semelhante magnitude para repor Igarapeba no noticiário do Brasil, talvez do mundo.

28 de junho de 2010

Todos já sabiam

Um local em que tudo é voltado para o mais simples. Uma cidadezinha do interior, poucos habitantes. Um clima quente, um povoado em que todos se conhecem. Essa é a ambientação de Crônica de uma morte anunciada, de Gabriel García Márquez. Todos já sabiam o que iria acontecer. Nada fizeram.
Um cidadão que tem seu nome veiculado desde que uma moça espancada afirma ter sido ele a maltratá-la faz com que toda uma geração se comprometa com o ódio e assuma a situação de não deixar a honra de lado. Há inúmeras facções da sociedade que ainda primam por essa tola e estúpida situação. Se todos soubessem que quem realmente fez aquilo com a mulher não foi o prometido à morte, surpreender-se-iam tanto que não fariam nada contrário.
Num momento em que a busca pela solidariedade ainda é uma constante na vida de todos, esse tipo de ideia vai na contramão. Naturalmente a obra de García Márquez tem muito mais a aprofundar do que isso, mas o fato de eu estar estupidamente preocupado com o jogo do Brasil contra o Chile me impede de pensar em aprofundar esses pensamentos. Aliás, todos já sabiam: vitória do Brasil.

23 de junho de 2010

Sobre a morte de José Saramago

por Luciano Oliveira *

O título deste artigo é uma evidente brincadeira com o ateísmo militante de Saramago, agora que o grande escritor português morreu. Se seu espírito partiu desta para outra ou, como ele incisivamente acreditava, tudo o que um dia se chamou José Saramago  carne, fluidos, desejos, ossos, inteligência  agora virou literalmente cinzas, nunca nenhum de nós saberá, porque tudo isso pertence agora ao Grande Mistério. Devo dizer que conheço pouco sua obra. Mas me lembro ainda hoje de um longínquo carnaval em que, refugiando-me já da ruidosa folia que só fez piorar desde então, li, maravilhado, O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Era um grande escritor, dono de um estilo todo seu que o leitor identificava assim que lia as primeiras linhas  da mesma maneira que três acordes identificam a música de um Piazzolla, por exemplo. Foi um desses autores que invertem o gesto do leitor que larga o livro quando quer: o texto dele nos agarrava!
Isso é uma coisa. Outra são as idéias desse renitente comunista e ateu português. Sei que de acordo com um velho fair-play  afinal de contas o defunto não está mais aqui para se defender , não se deve falar mal de quem acabou de falecer. Mas, no caso de figuras públicas, suas ideias como que se despregam da boca que as enunciou, passam ao domínio público e, nesse espaço, é legítimo, sim, delas discordar; e, até, reafirmar tal discordância exatamente num momento como esse em que a morte, com o seu poder de beatificação, produz uma espécie de culto ao grande morto, como se tudo o que ele tivesse dito merecesse devoção.
Não é o caso. É preciso lembrar que Saramago, politicamente, protagonizou, antes de escrevê-lo, seu próprio “ensaio sobre a cegueira”! Apenas em abril de 2003, depois que o regime caquético de Fidel Castro fuzilou três desesperados cubanos que seqüestraram um barco de turistas numa tentativa mambembe de fugir da Ilha  uma operação em que ninguém saiu ferido e deu literalmente com os burros n´água  é que Saramago escreveu um artigo em que declarava seu afastamento do regime cubano com uma frase que ficou famosa: “Até aqui cheguei”. Chegou tarde. O mais surpreendente é que, a despeito disso, continuou proclamando-se um comunista de velha cepa, como se o stalinismo, o maoísmo e todos os milhões de mortos que esses regimes produziram fossem desvios de percurso, e não algo inscrito na lógica mesma da ideia estapafúrdia de produzir um “homem novo” através de um regime político. Como disse certa feita outro grande escritor, Graham Greene, “a inocência é uma forma de insanidade”…
Voltando ao assunto sugerido pelo título, há algo de primário no ateísmo militante em que o morto parecia se deleitar. Crenças são crenças e é difícil argumentar racionalmente a respeito delas. Descrenças, também. Mas certas provocações de Saramago eram tão ásperas que pareciam ecoar um vetusto anticlericalismo de comunista português que passou boa parte da vida adulta vergado sob a ditadura beata de Salazar, à qual nunca faltou a bênção da Santa Madre Igreja. A ideia de Deus como o “maior absurdo” criado pelo “cérebro humano”  palavras suas  soa gratuita e, metafisicamente falando, é primária, porque nada resolve acerca da questão fundamental do próprio Ser  que já atormentou a cabeça de tantos filósofos: por que existe algo ao invés de nada? Noutros termos, por que o universo existe? Questão intransponível. Despercebida pelo homem comum, ela interpela a certeza do ateu que acha absurda a existência de um Deus incriado, mas não nota que a existência de um mundo sem Deus, por conseqüência também incriado, é igualmente absurda! A questão atormentou Aristóteles, que a resolveu através da hipótese  incorporada, aliás, à teologia cristã por São Tomás de Aquino  do “primeiro motor”, espécie de exigência lógica para o pensamento salvar-se do bloqueio em que a questão o mergulha.
Outra provocação lhe era particularmente cara, a de que as religiões, “sem exceção”  as palavras são igualmente suas  “fizeram à humanidade mais mal do que bem.” Trata-se de uma afirmação, como diria o filósofo Karl Popper, “infalsificável”. De um lado porque não se conhece sociedade humana que não tenha tido religião. Então, como comparar?  como saber se a ausência de religião produziria um mundo em que há mais bem que mal? Europeu e, portanto, inserido na tradição judaico-cristã, Saramago, ao dizer essas coisas, provavelmente tinha em mente instituições como a Santa Inquisição e eventos como as guerras de religião que ensangüentaram a Europa durante muito tempo  aquela e estas, de fato, coisas más e, aliás, muito pouco cristãs! Mas disso pode-se deduzir que o sentimento do sagrado não foi igualmente responsável por coisas boas? A Santa Madre, por exemplo, não gestou apenas a intolerância de Santo Inácio de Loyola, abrigou também o infinito amor por todas as coisas de um São Francisco de Assis. Aliás, saindo da órbita ocidental, o que dizer do Budismo  segundo o qual os homens não têm o direito de fazer mal sequer a uma minhoca?…
Deixemos tudo isso de lado. O grande escritor está morto e não mais escreverá. A mão que compôs com tanta humanidade o Evangelho Segundo Jesus Cristo não está mais aqui. Mas o livro está! Invertendo o que disse Drummond, “as coisas lindas, muito mais que findas, estas ficarão”.

* Luciano Oliveira, Recife, é professor de sociologia da UFPE.

22 de junho de 2010

Tom Bombadil

Li ontem As aventuras de Tom Bombadil. Como eram duas traduções, li a literal, independente da forma, preferindo os versos brancos e a técnica mais narrativa para compreender um pouco dessa personagem. Durante os 16 poemas presentes, procurei me manter ligado numa sequência histórica de fatos literários. Pena que justamente isso não havia.
A função do poema lírico tem seu fim em si mesmo. O épico é aquele que apresenta uma história sequencial em casa parte ilustrada, ainda dividido em cinco principais: apresentação, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo. Nos poemas sobre Tom Bombadil, há uma série de aventuras as quais o personagem se encaixa, além de outros em que ele conta sobre mitos e lendas da Terra-Média. É um livrinho bem curioso, de fácil assimilação e que busca refletir sobre os acontecimentos anteriores às grandes narrativas desse mundo, colocadas no Silmarillion e no Senhor dos Aneis.
Achei muito interessante o poema sobre a Princesa Mi e a outra princesa que ficava num poço de cabeça para baixo. As duas nunca se veriam, pois a "afogada" não podia ver a beleza de Mi, já que ansiava ser tão ou mais bela que a outra. Assim, as duas se sentiam apenas pelos pés, numa imersão provocada pela imagem da irrealização. Afinal, o desejo pelo que se não pode ter já é uma busca sem vitória, pois se aceita desde o início que nada será como se busca.
Apesar das várias narrações, as feições mais belas do texto se prendem às descrições do ambiente e das personagens. O aparecimento do Homem-Salgueiro, do próprio Bombadil, da Princesa Mi e do Troll configuram boa parte da rede de personagens que se destacará nas obras supremas de Tolkien. É uma boa leitura pra quem se interessa pela assunto e quer conhecer como ocorreu a formação das lendas da Terra-Média. Só não busquem muitas aventuras por lá.

Dos passos certos em linhas tortas

Nunca sabemos exatamente o que o amanhã no oferecerá. Nosso momento normalmente é tão volátil que, numa raspa de circuntância, pode ter tudo modificado. Os sinais começam a aparecer e só saberemos de nossas respostas depois de tudo que possa ocorrer num vendaval se ir. É o que deve acontecer em 10 dias comigo.
Na verdade, tenho quase certeza do futuro fato. Uma entrevista totalmente em inglês com alguém que dificilmente arranha o verb to be não pode ser suficiente para conquistar uma vaga. A tal escola tem seus encantos: um grande número de alunos presentes - mais ou menos o triplo de minha atual -, sendo que cerca de 30% dão internationals. Alunos das Américas, da Inglaterra, de alguns países europeus. Atraente! Quase a metade do corpo docente é oriunda de Inglaterra, EUA, Nova Zelândia e Austrália. Seria uma troca cultural extasiante. Só que sempre há um porém em tudo.
As chances de me garantir nessa escola, no meu modestíssimo ponto de vista, são quase irreais. O americano que me entrevistou ainda disse: "Congratulations for your english! With a little practice, you'll say perfectly!" - Mas pára por aí. Um elogio desses serve apenas pra que eu não me arrependa de tentar. E disso realmente não me arrependi, apesar de que, quando a secretária me ligou e pediu pra eu conversar com ela nessa língua, estive por conseguir me comunicar - só me faltavam palavras e perder um pouco desse medo.
Quando optei pro fazer a graduação em Letras, omiti as línguas estrangeiras. Vejo agora que um pouquinho de inglês seria exatremamente necessário. De qualquer forma, minha linha certa continua seguindo pra um rumo comum e, sinceramente, não espero ser chamado. Afinal, minha rota seria desviada e uma construção de anos poderia desmoronar - principalmente em minha cabeça - para tentar um novo desafio numa hora incerta. And I'll try to talk in English in the future, because the recent past confirms that I need to know more.

21 de junho de 2010

Falecimento

Hoje o dia foi realmente muito triste. Pensei que me sentia mal pelas dúvidas que me tem acometido ultimamente, mas percebi que nada valiam perto da notícia que recebi agora à noite. Faleceu um dos meus maiores - senão o maior - mentor dentro da área de Letras. Meu maior incentivador, que me dizia ipsis literis: "vai fazer o Mestrado, vai fazer o Doutorado e ganhar a vida!".
Quando na graduação, já no quase longínquo ano de 2002, eu o conheci. Então professor de Literatura Portuguesa I, falavam maravilhas sobre o cara - muito mais pelas conversas do que propriamente pelas aulas. Sisudo, começava as aulas com questionamentos do cotidiano antes de adentrar o conteúdo. Mil palavras que para alguns foram em vão. Para mim, não. O velho professor me trouxe muito conhecimento - acadêmico e mundano. Lecionou Literatura Portuguesa II, Literatura Brasileira II, Literatura Infanto-Juvenil. Frequentei todas essas aulas. Foi meu orientador no Trabalho de Conclusão de Curso. Lembro como se fosse ontem: "como tu podes ir adiante, vou te ajudar a montar um ótimo TCC". Foram 110 páginas de muito discurso erótico-amoroso. Não que ele fosse muito apto à ideia que resolvi cultivar, contudo sempre foi engenhoso em qualquer parte de minha montagem.
O antigo professor me dava carona quase sempre. Teve até algumas vezes em que esqueci de pegar dinheiro para passagem de trem e lá vinha ele com umas notas amassadíssimas de R$ 2 pra eu voltar. Isso quando ele não oferecia a carona. Aí a conversa se prolongava: caminho mais longo, mais papo. Não pensem que era besteira ou uma pedofilia velada: era uma conversa do cotidiano literário, da vida acadêmica, do muito a aprender e a respeitar.
Morreu o Dr. José Fernando Louzada de Miranda. Abri o jornal, milagrosamente vi o obituário - que, engraçado, hoje uma aluna me perguntou quem o lia - e notei seu nome. É uma perda muito grande. Muito conhecimento que pouco era reconhecido enquanto fui seu aluno. Publicou muitas obras, difíceis para o público de hoje, devido ao teor minucioso com que queria que nós abordássemos os textos. Independentemente disso, morreu um ícone da PUCRS e do Unilasalle, seja pelas palavras ou pelas atitudes e, acima disso, pela grande pessoa que sempre fora.

20 de junho de 2010

Amor e equivalências demoníacas

Como dissera, um de meus alvos nesses dias inóquos foi Do amor e outros demônios, do Gabriel García Márquez. Num dia, à noite, tossindo e sentindo moleza pelo corpo, peguei dois livros para ler, dentre os quais o citado. Uma leitura inquietante, apesar de momentos mornos, repleta de seres que só podem fazer parte da literatura fantástica.
A obra trata sobre uma menina que fora desprezada desde a infância por pais que nunca se amaram. Um cão raivoso a morde e tudo parece se encaminhar para a morte da menina; pelo contrário, quem morre é o cachorro. A partir daí, a narrativa toma contornos sobre-humanos, pois se passa a crer que Sierva María está dominada pelo demônio.
Surge a figura inquietante do Padre Delaura. Servo do bispo local, ele é convocado a exorcizar o corpo da moça. Excentricamente, o pároco se apaixona pela possuída, com quem deseja ter uma relação intensa, porém se reprime diante de sua condição eclesiástica. De qualquer forma, em dada altura da narrativa, ambos ficam frente a frente, postos em prova seus sentimentos, para a redenção acontecer.
O amor entre o padre e a moça denota diversos demônios. O amor é o principal deles, tendo em vista que as imagens são mais claras do que os sentimentos representados: o pai e a mãe de Sierva María têm um casamento de fachada, já que ele era um nobre que não obteve seus ideais amorosos quando mais jovem, casando-se com idade avançada e com uma mulher muitos anos mais jovem que o despreza. Levando em conta o péssimo relacionamento e a gravidez dela, passam a se odiar ainda mais, jogando no feto todas as atrocidades que diziam um ao outro. Assim, Sierva fora jogada aos escravos, que a cuidaram e a tornaram comum. Outro demônio presente na obra é a veneração religiosa como preconceituosa e distante da dos escravos. Um dito amor transcendente que não aceitava a religião alheia e promovia bizarras circunstâncias as quais os escravos eram obrigados a ter. Padre Delaura é outro que sofre por isso, pois crê no amor de Deus antes da fé, mas deve servir ao que seus superiores o indicam. Outra situação, para não me delongar, é a da própria Sierva: o amor pela cultura dos escravos é demonizada, transformando-a num ser totalmente privado de suas vontades por não poder exacerbar seu desejo.
Entre inúmeras circuntâncias de aproximação entre o amor e o demônio, parece ficar de lado o inchaço no tornozelo de Sierva, o que fora mordido pelo cão raivoso. Como ela é cuidada, a mancha vai desaparecendo aos poucos, salvo cuidado do Padre Delaura. O único amor não demonizado é o que não se concretiza, pois Delaura é retirado de suas operações na região. Sierva não pode ter nem seu amor, apesar de tantas ações estranhas e discutíveis que ela rege no decorrer do enredo.
Assim é a obra de García Márquez. Quem nunca leu, deve um dia ter uma oportunidade para isso. O rosto selvagem com que são pintados os personagens alivia a degradação do homem contemporâneo, já que colocá-lo na condição em que deve se encontrar futuramente parece muito mais suave do que ver toda sua derrocada. Dessa forma, reforça-se a ideia de que esse tipo de leitura reflete nossa realidade. Ainda mais quando percebemos que há muito mais demônios do que amores presentes em nossas vidas, sejam esses velados ou expostos.

Finalmente!

Já não era hora! Depois de um século sem postar - na verdade, um mês e meio - resolvo reaparecer, já na metade final de junho, com o propósito de me reafirmar enquanto blogueiro. Achei até interessante que alguns alunos começaram a postar mais constantemente em seus blogs, tratando de assuntos de seu cotidiano e sobre ideias que criaram no decorrer de seus tempos. Muito legal! Só pra constar alguns deles, numa próxima postagem colocarei links.
Muitas coisas aconteceram nesse meio tempo. Apresentação de trabalho na UFRGS, participação no Seminário Nacional de História e Literatura com apresentação e ovação, possibilidade de grupo de estudos na FAPA, conselhos de classe realmente cansativos - muito mais devido aos numerosos textos e provas a serem corrigidos -, mas o que mais me preocupa vai acontecer na próxima terça-feira: uma entrevista de emprego que, se confirmada proposta para mim, pode mudar totalmente o rumo da minha vida.
Existe uma escola em Porto Alegre chamada de Panamericana. Busquei algumas informações sobre ela: pertence a uma rede americana de ensino - inclusive o diretor é yankee -, em que o horário é do modelo americano (das 8h às 15h, com dois intervalos) e teria de lecionar com algum embasamento de inglês, pois há uma série de alunos estrangeiros. Seria uma atividade desafiadora. Muito desafiadora. Muito atraente, por conseguinte. Ainda reza uma lenda de que pagam muitíssimo bem, o que melhora ainda mais a situação.
Nem me passa pela cabeça largar o Santa Luzia. Nunca trabalhei em local melhor. Abandonar os meus queridos alunos é algo que me deixa com o coração na mão. Nesse tempo de ausência, inclusive, tivemos a Feira do Livro da escola e minhas doçuras fizeram atividades muito boas - Jogos Literários, (301) Acorrentados (2010 e Chá Literário (202). Largar isso pra começar tudo de novo é realmente complicado... Veremos o que acontecerá depois de terça-feira.
No mais, alguns livros serão resenhados adiante: Crônica de uma morte anunciada, Do amor e outros demônios, ambos do Gabriel García Márquez, e a conhecidíssima Lucíola, de José de Alencar. Muito bons, diga-se de passagem. Deixarei para adiante, pois agora preciso terminar um artigo para enviar à FAPA.
Aguardem novas postagens.

21 de maio de 2010

Ando meio desligado...

[...] Eu nem sinto meus pés no chão...
Ando bem relapso com esse blog. Há mais de uma semana não posto nada. Não fossem as inúmeras atividades escolares somadas às profissionais, me daria (sem mesóclise, quero descanso!) maior liberdade pra isso. De qualquer forma, espero que nas próximas semanas volte a postar com maior afinco, voltando a uma postagem por dia. Nem os poemas tive como continuar, tal é a necessidade de rever várias coisas!
De qualquer maneira, peço aos meus estimados leitores que aguardem novas manifestações adiante.

13 de maio de 2010

Discussões acadêmicas

Durante minha última aula na UFRGS, alguns colegas levantaram questões interessantes sobre o objetivo de realizar um pós-graduação em nossa área. O que mais me admirou, no entanto, foi a fala específica de um colega que, perguntado sobre o motivo de realizar tal curso, concluiu que não sabia. Seríamos nós, pós-graduandos, formadores de um seleto grupo no país, meros promotores da profundidade de conhecimentos que são pífios ao próximo?
Lembrei de meus alunos. Geralmente, no primeiro ano, perguntam-me por que motivos estudam Literatura. Respondo de forma simples: aprofunda a consciência sobre todas as coisas. Normalmente pedem para que eu aprofunde, tendo em vista que eles acham que a Filosofia e a Sociologia fazem o mesmo. Aí eu os faço lembrar: quando lê um texto de Sociologia, por exemplo, a aplicabilidade de um conteúdo é objetiva; sendo assim, é observável o que se trata. Já a Literatura não necessariamente torna palpável aquilo que se vê nos livros. Afinal, qual a prática que há numa obra poética que trate sobre um assunto sobre o qual eu não entendo? Não se entende num determinado momento, contudo após a leitura aprofundada, que exigirá não apenas a compreensão, mas a interpretação, fará com que o elemento chegue a novos conhecimentos. Com isso, a Literatura se torna importante pelas relações sinápticas que ela promove, criando um âmbito de relações maior entre todas as coisas que nos circulam. Faz com que observemos a realidade através de novas óticas, lançando maior números de hipóteses pra justificar nossas atitudes e, por conseguinte, avaliar a do próximo para que com essa aprendamos.
Quando o colega tratou sobre não saber os porquês de o levarem ao pós, especificou a questão do reconhecimento. Realmente, não o temos. Aliás, temos muito pouco. Boa parte do povo ainda pensa que leitura é mero entretenimento. Muita gente acha que sabe Língua Portuguesa pelo simples fato de falar ou por ter uma gramática ao seu lado. Isso, infelizmente, nos desqualifica, pois nossos argumentos se perdem no senso comum. Se é alguém de área médica com uma novidade, de uma área judiciária com um nova lei ou de um novo cálculo matemático geralmente é mais bem aceito: é palpável. É observável. Quando se promove o pensamento, o povo geralmente falha, já que não é ensino a isso. Se estuda. O tecnicismo da educação brasileira desvia da reflexão seus atuais objetivos. Assim, fica difícil que alguém nos escute.
Está confirmada minha estreia na FAPA, em Outubro. Já lancei até o resumo para a coordenação. Colhi material e farei duas apresentações de PowerPoint para ilustrar tudo. E pra que isso? Por que eu não acredito na minha formação? Não, muito pelo contrário: é desse fruto que aparecem as oportunidades de crescimento. É desse estudo que avançamos e mostramos ao próximo o que somos e o que podem ser. Brota do aprofundamento dos estudos essa explicação sobre a importância da Literatura. É disso que vem o lado entusiasta, aquele que quer mostrar o diferente para os demais e identificar que podemos seguir buscando o desenvolvimento intelectual de todos. Meu objetivo é esse: quero que o próximo cresca. Se eu conseguir auxiliar, melhor ainda. Pra isso preciso de formação, algo que sustente meus pontos de vista. Vale a pena fazer a pós-graduação.

9 de maio de 2010

Do (futuro) doutorado

Na sexta-feira passada, minha Tia Eni, como de costume, me deu um dinheirinho como presente de aniversário. Ela me dissera pra gastar com o que eu quisesse, da mesma forma doce que me dizia quando era pequeno, ao pegar um brinquedo ou um jogo de videogame e ela dizer pra que eu aproveitasse bem. Assim foi feito: fui à Saraiva do Praia de Belas. Leitor, deves pensar que sou um fanático pela Saraiva. Em termos, sim. Se a Livraria Cultura não fosse tão longe ou se a Palavraria tivesse umas promoções bem boas, de repente frequentava outras.
Mas não é sobre isso que o post trata. Comprei dois livros do Bernhard Schlink, pagando a bagatela de R$ 70. Há muito nao fazia isso por livros. Tanto que minhas últimas aquisições foram de livro em lojas de 1,99, aqueles mesmos que o autor Nei Duclós veio a me falar noutra hora. Na última leva, comprei 14 livros e paguei só R$ 35. É um contrasenso horrível. De qualquer forma, completei minha coleção de obras do Schlink. Ao menos as traduzidas. Caso tu tenhas lidos as postagens anteriores, lembrarás de que tratei sobre O outro e A menina com a lagartixa. Pois é, são dele. Agora adquiri O leitor, aquele mesmo do filme, e A volta pra casa. Pretendo avançar nessas narrativas até a metade do ano.
Justamente há um motivo claro pra isso: estou pensando seriamente em tratar sobre o herói degradado e sua aventura mítica nas obras desse autor. Talvez o tema seja meio singelo e aí mora meu receio. Caso seja muito pouco pra avançar nos estudos acadêmicos, terei - ah, que dor! - de tratar sobre as letras de metal... Acho que seria um trabalho muito bom de fazer, delicioso mesmo, mas muito mais difícil. Como professor, o trabalho consome muito tempo e, pra fazer uma boa produção, teria de rever meus horários pra tentar algo melhor. O problema é que teria de reduzir horas, acumular tempo na faculdade com leituras, projetos de pesquisa, montagem da tese. Ainda há tempo pra decidir, ao menos.
A ideia para tratar no doutoramento é analisar a aventura mítica do ser humano em busca de uma identidade desconstruída pelo próprio homem na pós-modernidade. Isso é meio nebuloso para alguns, na teoria, contudo a prática nos mostra cotidianamente o que quero dizer: pessoas que não sabem o que querem da vida, processo de infantilização do adulto, entre outros. Tudo isso me interessa e a literatura explora muito bem cada elemento. Com um pouco de teoria, somada ao bom senso de meu futuro orientador, creio que seja possível chegar a uma conclusão que me garanta uma titulação que ainda não temos na família. Haja tempo pra que tudo isso se realize.

Blogueiros

Comecei hoje a analisar os textos de meus gloriosos alunos em seus blogs. A proposta de redação fora de criar uma biografia para algum personagem da obra A canção dos nibelungos, o texto medieval de minha dissertação de mestrado. Até agora, fechei a análise de uma turma. Entre bons e maus resultados, o que realmente me interessou foi a criatividade de alguns seres.
Desde passagens que relatam sobre seres eternos, relacionamentos trágicos, até a miscigenação entre a obra e o texto do autor foram possíves de se observar. A interrelação com a atualidade não passou batida no que a gurizada escreveu, tendo em vista que qualquer ideia que escrevessem seria embasada no mundo real. Uma das coisas mais interessantes de serem observadas foi como alguns conseguiram chegar a um detalhamento tal para explicitar cada passo da personagem que mais pareciam autores já consagrados. Curioso isso: ao mesmo tempo que reclamam por escrever, conseguem exposições realmente boas para pessoas de 14 ou 15 anos.
Passos para que essa gurizada se torne escritora são muito a serem dados. De qualquer forma, nunca descobriremos se realmente podem chegar adiante se não facilitarmos esse processo. Tanto as propostas mais narrativas quanto o blog como canal para publicação se tornam mais atraentes, pois não será apenas o crivo do professor que fará com que essa pessoa escreva ou fique na sua.

7 de maio de 2010

100 postagens poéticas

Desde a semana retrasada, estou mantendo o Silêncio em Poema. A atividade tem sido bastante interessante, pois, como já dissera, minha veia poética nunca fora meu forte. De repente, passei a escrever e comecei a gostar de algumas produções que tenho executado. Como a média de um por dia tem sido mantida, imagino que nos próximos três meses eu deva chegar a cem postagens - o que seria um milagre pra que não é proficiente nisso.
Assim, defini uma coisa: ao chegar na centésima postagens, tentarei selecionar os 50 ou 60 melhores poemas para uma publicação. Claro que entrará o problema: quem vai publicar? Duvido que alguém se interesse, pois produtoras e editoras grandes querem autores grandes e rentáveis. Não creio me encaixar nesse perfil. Partiria para uma produção independente, algo que me motivasse a realmente publicar. Ainda assim, teria de selecionar os poemas.
Entra, enfim, uma proposta, leitor: gostaria de teu auxílio para decidir quais textos publicar. Tu entras no blog e deixa um comentário, algo do tipo "publicável" ou o que quiseres falar sobre o texto. Sabem como são poemas... Ora é difícil de identificar o que transmitem, ora são claros demais. Por enquanto, gostaria do gosto, daqueles que mais foi apetitoso ler. Seria muito agradável contar com a colaboração de todos.

6 de maio de 2010

Tempo de acreditar?

Existe uma música do Angra, chamada Evil Warning, que começa assim: Time to believe in the dream that you've seen / In a world that is broken and mean / One day the sun it will shine for us all / Take the freedom that you have fore-seen. Para simplificar, fala-se que é tempo de acreditar em algo, no meio de tanta miséria, crendo que a liberdade pode elevar o homem. Será que finalmente chegou a hora de acreditar?
Inter versus Banfield. Um time precisando de resultado frente ao campeão argentino, não muito tradicional, mas disposto a se tornar. O colorado consegue a classificação ao buscar exatamente o placar que precisava. Uma partida em que a equipe teve equilíbrio técnico, mas os mesmos erros de fundamento tradicionais. Pede-se que acreditem no time, que se queira elevá-lo e torná-lo ainda maior, mas a que ponto? Seria apenas nossa força psíquica a levar o time adiante?
É uma série de questionamentos que levarei comigo. Até porque amanhã, ao sair para o trabalho, ouvirei meu cd com 150 músicas de metal e lá está perdida a citada anteriormente. E vou lembrar que tenho de acreditar, que preciso antever algo positivo no meio de tantos problemas que esse time tem. Falsas expectativas não podem ser criadas, pois não há nada que garanta êxito adiante. Tomara que seja tempo apenas de acreditar.

4 de maio de 2010

Da boa passagem

De todos os momentos passados ontem, acho que, além da pizza do Boka Loka, uma coisa bastante curiosa foi o fato de que há quem não me cumprimente. Curioso isso? Concordo. Há quem não me cumprimente. Essa situação seria bastante comum se fosse relacionada a pessoas desconhecidas ou que nem soubessem de meu aniversário. Pior são aquelas que sabem e ficam à distância, isoladas.
Penso que, de vez em quando, acabo assim. Prefiro ficar na minha. Só. Quieto. Sem querer mandar recados alheios. Sem querer dizer o quanto fico feliz pela sua festa, pelos seus anos, por tudo. Melhor ficar quieto. Afinal, se posso evitar dizer um monte de bobagens, pra que falar, né? Deixa estar. O pior das indicações de uma parabenização é quando esta não é sincera, fruto de uma necessidade mútua de bom relacionamento. Felizmente, acho que passei dessa etapa. Acho.
Positivamente, as inúmeras manifestações. Até as inesperadas! Gente que pouco sabem sobre nós ou que tem um baixo nível de intimidade. Essas criaturas curiosas parabenizam. Seria por tentar se aproximar? Seria por ser bem quisto por quem assim o faz? Não sei, pois não as conheço profundamente. Só poderia falar das que conheço. De que adianta, porém, falar dessas, se essas justamente não dão sinal de vida?
O famoso parabéns sempre é bem vindo. Certamente, muito mais assim será quando dotado de muita seriedade. Acima dos gestos de respeito e bondade mora a verdade. É dessa verdade que se espera um elogio ou uma crítica sincera. Não se pode prender apenas ao modus operandi do bem viver que ele não será sempre coberto de bons frutos. Só a verdade supera o sentimentalismo e a pífia arte de conviver bem.

3 de maio de 2010

O velho caminho de retorno

Há datas que não precisariam ser comemoradas. De qualquer forma, volta e meia nos deparamos com um novo Natal, uma nova Páscoa ou um novo Aniversário. Agora, o vigésimo sétimo. O tempo vai passando e parece que o caminho de volta aos acontecimentos passados é constante.
Rir ou chorar nessas datas é cerimonioso. Praticamente taxativo. Quem sabe apoteótico - por que não? Independente desse momento, uma série de situações de vida são rememoradas. Carrega-se a emoção ao rever o passado e relembrar de outros épocas e outros bolos: enquanto infanto, nos aniversários preparados pela mãe no prédio de minha avó, com inúmeros desconhecidos e beijos e abraços de tudo quanto era lado; as comemorações com jogos de futebol ou com videogame em casa; as festas em boates, em churrascaria ou num boteco mais encorpado. Agora, sem festa. Sem música, sem som, sem zumbido: apenas refletindo.
É mais um aniversário e a passagem para uma idade mais avançada. Ainda que todos os problemas se resolvessem com as mensagens carinhosas e as recepções calorosas que temos, sobre espaço para pensar e rever se está tudo bem. Se tudo que desejamos acontece ou se não é mais do que o tempo se esvaindo. Numa hora se chega à conclusão.

2 de maio de 2010

Nostalgia e decepção

Resolvemos vir ao litoral, nesse final de semana. Como era feriado no sábado e a Bibiana pegou folga no hospital, partimos na sexta-feira à tarde. Maravilha: tempo bom, cachorrada enlouquecida no carro, ida primeiramente a Tramandaí e depois a Atlântida Sul. Tudo realizado, mas antes do tempo devido. Antes do Gre-Nal, estarei retornando à capital.
De algumas coisas que fizemos, numa me detive: vimos Lua Nova. De tanto que a gurizada falou nesse filme, somado ao desejo que tínhamos de vê-lo, o assistimos. Como em Crepúsculo, minha decepção não foi muito diferente: em boa parte da narrativa, a intenção de achar para Bella um par ideal, tendo em vista a partida de seu amado Edward Cullen. O envolvimento com Jacob e os permeios entre depressão e imagens de Edward dão a tônica da narrativa.
Por um lado, foi algo nostálgico: a época em que eu curtia essas histórias de relacionamentos mal resolvidos que encontravam uma solução extrema. Tal como dito no filme, Romeu e Julieta tinham como transformar o problema do relacionamento não aceito pelos seus; Edward e Bella viviam sempre na esperança. Tristão e Isolda também acharam sua forma de encontrar o fim de tudo, bem como Medeia, afastando-se de vez de Jasão. Já o vampiro e a humana viviam - e, pelo jeito, continuarão vivendo - intensas dificuldades, contudo a esperança sempre é presente, a fim de que tudo termine bem para ambos - e juntos.
A minha adolescência não foi permeada dessas histórias tão melosas. Claro que algumas eram, mas não transformadas em narrativas que privilegiassem apenas o desvio amoroso, a dificuldades em entrar a alma perfeita. Na Odisseia, por exemplo, Odisseu retorna à Ítaca, mas depois de muitas aventuras e combates, apenas para ter sua amada Penélope nos braços novamente. Os percalços que o filme ilustra para os dois personagens são ainda simples, apesar de tentar buscar a mesma estrutura narrativa.
Talvez isso seja marca da pós-modernidade. Os elementos narrativos utilizados na construção das personagens privilegia demais os dados dos relacionamentos modernos. Não há heróis de força absoluta, sem defeitos ou capazes de decidir o futuro de uma nação: Lucian Goldmann que era esperto, aproveitando Bakhtin e Barthes: o herói moderno é degradado, necessita do próximo para sobreviver. Bella continua esperando pelo seu próximo, só se realizando através de seus pensamentos. Edward fraqueja e retorna, mas vampiro, portanto imortal. E assim segue a história, sem que possamos ter uma solução definitiva perante os problemas mundanos.

28 de abril de 2010

Alice e o fim da adolescência

Desde que soube do lançamento da versão de Tim Burton para Alice no país das maravilhas, tive muita curiosidade para vê-lo. Fui. Ontem à noite fui levando a Wonderland, a reconhecer os antigos personagens e toda a saga envolvendo Alice até o fim da adolescência. Apesar dos grandes efeitos especiais, das figuras perfeitamente expostas naquele contexto, não é um filme impressionante - apesar de bom. É muito mais a exposição sobre o fim da infância do que qualquer outra coisa.
Alice é pedida em casamento por um lorde inglês. Na ânsia de não saber o que fazer e com inúmeras pessoas dizendo como ela deve proceder, foge. Fuga, aliás, derivada pelo aparecimento do coelho de terno, que a guiará de volta ao País das Maravilhas, que visitara ainda criança. Essa ida a fará se redescobrir e voltar ao mundo não mais como a frágil, dócil e infantil Alice, mas como uma mulher de voz e capaz de interagir no mundo dos negócios - até então desconhecido para o universo feminino, tendo em vista a tradição machista que este acarreta.
É interessante percebermos que o enredo se faz sobre as dificuldades de Alice em reconhecer o que é ilusório e o que é real; as andanças por um mundo que lhe parece fantasioso e que não se faz apenas assim. Cada aventura que passa, cada marca que lhe é registrada, tudo mostra que os movimentos e decisões são plenamente reais. O contato com a lunática de diversos personagens - vide Absolem, Chapeleiro Maluco, Lebre - a mostra a irrealidade das coisas, mas seus momentos de lucidez a colocam num ambiente favorável ao conhecimento sobre tudo que existe e que se deseja conhecer.
A adolescência é um marco na vida das pessoas justamente por ser a época em que não se sabe que caminho trilhar. Brincar ou beijar? Namorar ou ter só amigos? Assumir decisões ou delegar ao próximo? Ajuda de pai e mãe ainda necessária? Dentre essas questões, o que fica não é a retomada do que é subjetivo, individual: é a decisão correta, o melhor para o grupo, o bem estar social. Isso denota crescimento, tendo em vista que o homem é um ser extremamente social. Não basta apenas ficar preso aos seus ideias - como diversos adultos fazem - sem compreender que o próximo sempre será afetado pelas suas decisões. É um crescimento proporcional às várias migalhas do pão do crescimento que Alice precisa em Wonderland.
Há, portanto, um link diretamente ligado entre o Submundo e a adolescência. Os passos de Alice não são meras caminhadas literárias ou fílmicas, dotada de percalços e adversidades que limitam suas decisões. Nada disso: é a porta para o crescimento, para o rompimento da visão infantil e para o avanço do estado natural das pessoas. Perde-se a Alice criança e ganha-se a Alice adulta. Uma troca e tanto.

26 de abril de 2010

Nova exploração

A análise de poemas nunca foi meu grande foco como teórico da literatura. Até porque nunca fui um grande fã da mesma. De um tempo pra cá, porém, ando meio irreconhecível: mantendo leituras durante o tempo de trabalho, conseguindo escrever mais do que em anos não fiz. Eis que surgiu uma nova empreitada: Silêncio em poema. Além deste blog e de A hora de José Ramiro - que está mais lenta do que o dia de Naziazeno, em Os ratos -, resolvi testar um pouco dessa vertente. Pensando na minha produção, é praticamente vanguardista. Espero, no mínimo, que essa produção renda um pouco mais do que nosso lento e mal amado José.
Se quiseres conhecer um pouco mais, clica aqui!

Clima de anúncio

Hoje foi dia de o Jornal B.O.News ser encorpado. Até aprendi a usar o Microsoft Publisher com essa. Com os textos na mão, boa vontade da gurizada e conversas sobre a formatação, hoje adiantamos a feição do jornal. A primeira edição deve sair até a semana que vem.
Venho dizendo isso a horas: "semana que vem". Quero logo que esse jornal brote. Quero que ele não seja de uma única edição. Quero vê-lo são, em mãos, tocável e legível. Já não basta ter que indicar todas as possibilidades para a realização. Preciso do produto em mãos. É uma vontade bem explícita, naturalmente. O clima de anúncio vem rondando há semanas e ainda não pude tratá-lo como deve. Mesmo assim, sairá em breve.
Talvez uma das nossas maiore dificuldades seja lidar com a ansiedade. Estado de agitação plena, pendendo entre o nervosismo e a felicidade. Às vezes parece que o ato não concretizado traz incertezas, porém não devemos necessariamente observar sob esta ótica: é uma pausa para o acontecer. Com a publicação dos textos, teremos muito mais do que um espaço para as traquinagens da gurizada, mas um caminho de reflexão no qual quero que se espelhem os textos lá presentes. É um jornal escolar que ambiciona a criticidade.
Por enquanto, esperá-lo-emos. A mesma tranquilidade que deve ser gerada enquanto temos nossas reuniões deve ser mantida antes do lançamento. Está tudo certo, enfim. São só digitações, diagramações. Tudo dará certo. Ou, ao menos, é a esperança.

23 de abril de 2010

Nos próximos dias...

Resolvi explicitar, nos próximos dias, como deve ser minha tese de doutorado. Um pouco arriscado, pois sempre há um aproveitador de ideias perdido por aí. De qualquer forma, verbalizar um pouco o que me ocorre mentalmente pode facilitar essa produção, que deve ser inovadora. Espero que ao menos esse objetivo seja atingido.
Misturar a literatura e o heavy metal é muito mais do que aproximar gostos por fantasias até certo ponto diferentes: é trazer à tona os perigos da intertextualidade, as conotações prováveis e malfadadas até então. A literatura, pelo seu poder catártico e transformador do pensamento da humanidade; o metal, a lírica densa de homens e mulheres que ansiam pela expressão e pela reflexão a partir de seus ditos.
De qualquer forma, a experimentação começará. Para que bem entendam um pouco sobre o tratamento das questões, exporei a tradução de algumas músicas que formam uma cadeia narrativa, a fim de explicitar a aproximação entre os dois lados. Sugiro que já vão adiantando um pouco seus pensares a respeito dessa questão, pois não será tão pouco o que deveremos avaliar.