29 de março de 2010

Docência superior

Cativo há anos a vontade de lecionar no Ensino Superior. Não é uma instituição, mas uma institucionalização: desejo que gostaria de ver realizado dentro de pouco tempo. Depois do Mestrado, pouco pude fazer para avançar nesse objetivo, afinal, havia muito trabalho e outras atividades paralelas. Eis que agora essa possibilidade tende a se realizar. Quem sabe em breve.
A especialização na FAPA anda me abrindo uns caminhos muito interessantes. Além de estar gostando muito, há uns e-mails que recebemos que parecem trazer esperanças ainda maiores sobre esse desejo escancarado. Num desses, enviado pela Prof. Maria Luci, animei-me a responder sobre a possibilidade de fazer um curso de extensão para a instituição. Ela respondeu afirmativamente e pediu para que eu falasse com a diretora do curso. Falei, mas ainda não pude me encontrar com ela. Pediu que eu fosse à sala da direção na quarta-feira. Nesse dia, é possível que eu tenha uma resposta sobre o que posso fazer. Ou não fazer nada, de repente.
Sei que posso lecionar alguns cursos dentro da área de Literatura. Aventura mítica, processo de socialização da criança na literatura, literatura social, revisão do herói: da antiguidade aos dias de hoje, entre outros. Falaria mais alguns, mas acho temerário largar muitas informações antes da realização da entrevista. Já pensou se alguém pega minha ideia e se manda a falar com a mulher antes que eu? O mundo dos vivos também serve nesse recinto...
De qualquer maneira, lecionar num novo âmbito é extremamente motivante. Buscar essa realização não impede que façamos o que já realizamos no Ensino Médio, mas certamente servirá de embasamento para as realizações em nível superior. Afinal, quem garante que pra sempre estaremos no mesmo lugar, vivendo os mesmos momentos? É sempre preciso pensar adiante.

28 de março de 2010

Dos atrasos

Sei que ando bem relapso em relação ao blog. Aliás, espero sanar essa dificuldade nos próximos dias, mais precisamente na Páscoa, quando terei tempo livre. Já ficam, de qualquer modo, alguns tópicos dos que tratarei: falhas das redações dos alunos, docência em ensino superior e as novas leituras da UFRGS. Basta ter aquele bom tempinho pra recomeçar as escritas.

23 de março de 2010

As dificuldades do autorreconhecimento

A culpa sempre é do outro. O outro sem faz de um jeito e eu de outro. Aquilo que ele fez, as coisas que ele falou, o jeito que ele andou. Enfim, joga-se ao outro possíveis falhas que tenhamos em nossa trajetória. Antes de reconhecermos nossas falhas, passamos a questionar os acertos do outro e sua forma para chegar em determinado objetivo. Não é diferente - aliás, muito constante - com os adolescentes, principalmente com aqueles em quem o pensamento abstrato mal começou.
Gosto muito do trabalho com variações linguísticas, gírias, norma padrão e coloquial, comunicação em geral. Desde a semana passada, venho trabalhando com a gurizada de primeiro ano. Apesar da grande vontade exibida para chegar a conclusões - muitas vezes sem necessidade, precipitadamente -, os educandos encontram um grande dilema: o autorreconhecimento frente a situações de fala. Para fazê-los refletir, expus um texto escrito totalmente de forma coloquial, em que a pontuação fora praticamente invalidada, muito próximo da fala, permeada de um pensamento dotado de lacunas, que promoveu diversos flashes e cortes no pensamento. Algo como "Daí meu blz olha só a mina é tri e pah mas te liga naquilo q ela disse sobre fica contigo acho q n eras mas tem q tentah igual pq bah ela é mto tri" e por aí vai. Aparentemente, nada de anormal para quem costuma passar horas no MSN falando abobrinhas - ou coisas úteis, naturalmente - com os amigos - ou os parceria, os mano, a gurizada e afins. Quando leram aquele texto no quadro, acharam absurdo. Ouvi alguém dizer "mas é um retardado escrevendo". Fiquei apenas pensando - e isso me remete àquela cena do Uma noite no museu 2, quando O Pensador anuncia que pensa (e assim fica durante muito tempo), sem qualquer conclusão. A diferença foi minha conclusão: a dificuldade enorme de enxergar a própria escrita virtual numa situação de sala de aula.
Talvez seja esse um dos fatores que ilustre a dificuldade de contextualizarmos os conteúdos na escola. Discute-se isso na faculdade desde sua tenra idade. Não é um mero problema, mas o processo de contextualizar passa pelo de socializar: autorreconhecer é uma atividade maior do que um mero aprendizado comum, insípido, sem qualquer divertimento. É levar pra vida inteira que aquilo que realizamos faz parte de nosso processo vital e que podemos constantemente refletir sobre o mesmo, em busca de algo mais.

22 de março de 2010

Dante e a primeira entrevista

Hoje recebemos no ISL o autor de livros didáticos de Matemática Luiz Dante. Um sujeito bastante simpático, de linguagem fácil e muito afável. Durante cerca de 1h30, contou-nos um pouco da sua trajetória enquanto autor e como professor, o que abandonou há pouco tempo, devido às atividades solicitadas pela sua editora. Além disso, concedeu aos alunos da 301 uma entrevista, a qual encabeçará a primeira edição do jornal da escola.
Receosos, os educandos receberam com certo êxtase a notícia de que poderiam entrevistar o Dante. Um reportagem em especial, uma entrevista com alguém renomado, distante do nosso povoado, apenas para começar a publicação escolar. Selecionaram um pequeno grupo de perguntas, foram ao encontro do autor. A vontade parecia tanta que eles não conseguiam fechar as matracas pelo corredor. Tudo bem: Dante os recebeu, animadamente respondeu ao breve questionário e os deixou bastante satisfeitos. Primeiro passo, rumo ao futuro do jornal, realizado com sucesso.
A grande disposição da gurizada me pareceu o ponto alto da tarde de hoje. Além de irem num número bem razoável, foram bastante participativos e realmente animados a realizarem o trabalho. Certamente, além da entrevista com Dante, outro ponto que rendeu gargalhadas e boas ideias foi em relação ao nome do jornal. Minha modéstia me impede de qualificar como mágicas algumas das propostas levantadas, mas eram tão engraçadas que houve momentos em que não me contive. Ri junto. Muito divertido mesmo. Nomes como 7º período, Último ano, B.O.News foram alguns dos citados. Espero apenas que saibam levantar nomes sérios!
Agora, é hora de começarmos realmente a trabalhar. Com o primeiro material coletado hoje, poderemos fazer render muitas leituras durante o período. O trabalho iniciado tem tudo para dar certo e, se depender do bom humor que houve durante a tarde, certamente riremos do sucesso dessa empreitada.

21 de março de 2010

Pérolas do ENEM 2010

Fazendo uma busca sobre alguns trabalhos de alunos para abordar em sala de aula, deparei-me com as pérolas do ENEM 2010. É justo que se coloque nesse blog, tendo em vista que há educandos lendo e que necessitam de alguns exemplos sobre o que NÃO se deve fazer.
Veja abaixo!

Pérolas do ENEM 2010

19 de março de 2010

Síndrome de Terceiro Ano?

Toda vez que entro numa sala de aula, principalmente no início do ano, as dúvidas sobre o que me espera em cada lugar são constantes. Afinal, turmas novas, caras novas, outras nem tanto, acabam todas se transformando ano após ano. Realmente, aquilo que foram num ano dificilmente se repete no próximo. Isso que anda me preocupando em certos elementos.
Independentemente de histórico escolar, boas notas e tarefas realizadas, o terceiro ano dá um toque de soberba em certas mentes. A turma mais velha da escola, a que está com um pé fora da instituição, que promoverá uma formatura, chorará as despedidas, rirá determinados momentos. Por enquanto, porém, os motivos de risos foram menores que os de choro: não me sinto bem com a situação de alguns excelentes alunos que resolvem deixar de lado suas aptidões cognitivas pra ocupar tempo com conversas, desvirtuações e asneiras pseudointeressantes. Tudo é uma questão de momento. A síndrome de Terceiro Ano, tão comum para certas pessoas, parece andar de mãos dadas com grandes figuras que conheço.
A vontade de conversar e de não fazer nada é uma constante. Soma-se ainda o desleixo com o material que lhe é distribuído, além de pouco aproveitar o que deve aparecer em sala de aula. Desvirtuar atividades é outra rotina. A soma desses elementos adoece a compreensão de cada um, do seu motivo de estar presente num terceiro ano. Talvez por isso a incidência de aprovados num vestibular mais exigente, como da UFRGS, não seja tão alta para alunos terceirandos. Lembro que, de meus ex-colegas, apenas um - entre 60 - fora aprovado um mês após nossa formatura. Os demais, só em particulares - que é bem mais simples, diga-se de passagem. Fui entrar na UFRGS quase dez anos depois de formado - claro, dadas as condições que tive nesses anos todos -, mas na época da escola, realizar a UFRGS fora um tiro no escuro, tendo em vista toda a dificuldade que foi o ano 2000.
Tenho exemplo no couro das dificuldades da Síndrome de Terceiro Ano. Fiz-me professor e não gostaria de que meus alunos passassem pela mesma situação. Sei, no entanto, que a maioria deve seguir esse caminho, pois parece ainda faltar algo que os delegue à categoria de estudantes em estado permanente, independentemente da série ou do susto que se leva. Já houve problemas por essa Síndrome. Nao gostaria de vê-la novamente tão cedo.

15 de março de 2010

Moral e ética

Iniciou-se a disciplina de Seminário, finalmente. E o professor será o mesmo da minha aula de terça. Não sei se é bom ou ruim ainda, pois pouco conheço o Prof. Foohs, mas já descobri algo interessante: formado em Letras, com Mestrado em Linguística e Doutorado em Informática na Educação. Ele conseguiu uma aproximação bastante forte entre os elementos linguísticos e a linguagem computacional, por fim relacionando com a Educação. Não é à toa que ele faz parte do comitê de pesquisa da UFRGS.
Interessante foi a aula e a discussão sobre desagregar a ética e a moral. Sempre se pensa a ética vinculada a valores e a possibilidades de ação sobre os mesmos. Na verdade, parcialmente certo, mais para errado do que pra correto: quem se preocupa com isso é a moral, a reação sobre valores previamente aceitos por determinado grupo social. A ética, entretanto, trata sobre as relações de causa e consequência de fatos que giram sobre atitudes humanas e o quanto se atinge a sociedade. Prende-se mais ao fato, ao que existe enquanto concretude; a moral tem por preceitos os seus valores e as posteriores aceitações e negações que os atos gerarão, como eu vejo isso, se é "bom" ou "ruim", culturalmente aceito ou não.
Se a ideia de disciplina será trabalhar com a ética, teremos que nos desprender dos valores sociais previmanete aceitos. Aquela velha história de indicar o certo e o errado que as pessoas fazem devem deixar de existir, pois são altamente subjetivos tais valores. Se nos prendermos a isso, sempre atuaremos enquanto persuasivos a nossa causa, sem se preocupar com o que realmente existe. A discussão é filosófica, mas o resultado é prático: vermos o que realmente acontece é o que gera novos conceitos para a sociedade e seus avanços. Tomara que assim seja.

Jornal escolar: caminho de aprendizagem

Lembro-me da faculdade. Folhetim Só Letrando. O Luciano e eu fazíamos com afinco. Ele tinha serigrafia, reproduzia tudo em casa - ou na ZH, onde ele trabalhava. Os assuntos do mundo acadêmico - mais especificamente o das Letras - passavam pela gente. Como eu era bolsista, tinha acesso a inúmeras informações, fossem de reuniões, cursos de extensão, linhas de pesquisa ou pesquisas novas etc. Formulávamos textos até inconsequentes, como um editorial sobre o qual fui chamado na coordenação para responder. Áureos tempos.
Agora, minha turma de terceiro ano produzirá o jornal da escola. Não todos, uma parte interessada e que pode frequentar reuniões, mas que se deonstraram muito interessados no assunto. Teremos conselho editorial, repórteres e diagramadores, no mínimo. Caso haja necessidade de mais gente, mais buscaremos. O mais interessante foi notar a vontade de certos elementos em contribuir com esse trabalho. A velha necessidade de falar, de expor o que pensa, de trazer aquilo que sente ao conhecimento alheio. A exposição sempre foi um fraco do homem, pois, desde as relações mais remotas, houve a busca por conhecer o outro e reconhecê-lo no meio. Com isso, imagino que teremos um bom trabalho pela frente.
Haverá um blog para tal trabalho. Será mais uma forma de expor um pouco sobre os assuntos, complementando aquilo que não pudermos colocar em folha. Será um espaço para que todos exponham seus pontos de vista, discutam com os colegas sobre o que lá estiver, para promover um grande debate sobre temas contemporâneos. Através disso, não apenas os educandos do terceiro ano realizarão o jornal, mas toda comunidade escolar, travando uma grande discussão e promovendo o crescimento mútuo, seja do jornal, dos colaboradores, dos leitores ou de todos que se envolverem com a escola.
É para ser um trabalho grandioso. A partir de agora, teremos maiores possibilidades de vê-lo realizado, tendo em vista que já recebi o aval da coordenação. Peço que meus queridos estudantes preparem-se, pois em breve teremos a melhor forma de expor pensamentos para o próximo: através de uma escrita simples, contudo dotada de informação, em que encontraremos não só a fofoquinha do cotidiano, mas a possibilidade de crescimento em relação ao próximo e a nós mesmos.

13 de março de 2010

Uma prova de amor ou um egocentrismo descomunal?

A Bibiana precisa fazer um trabalho para o pós que envolve o filme Uma prova de amor, estrelado pela Cameron Diaz, pelo Alec Baldwin e outros gloriosos. A princípio, fiquei pensando: "faz tempo que não faço um trabalho sobre algum filme". Acho que a última vez foi na graduação. Nos pós, só vendo ou com apresentações alheias. Geralmente eu ficava com a teoria. Talvez por isso que algumas vezes eu me sinta um mestre fajuto: teorias e teorias, aplicações poucas. Isso não é tão assim.
Vimos o filme. Excelente. Até estou pensando em levar pra gurizada, pois ele destaca um tema, no mínimo, muito curioso: uma mãe projeta uma gravidez para salvar outra filha de um câncer. Durante boa parte da infância, a menina mais nova transplanta leucócitos, medula óssea e outras razões saudáveis de seu corpo para ajudar a irmã, que piora com o passar o tempo. O último lance da mãe é querer tirar um rim da filha para salvar a outra, que tem decretada falência de tal órgão. A problemática começa quando a menina, de apenas 11 anos, vai a um advogado pedir que lhe ajude com uma emancipação, não a que conhecemos, mas médica, em que ela possa ter controle sobre seu corpo e decidir o que fazer. O advogado, atônito, questiona sua vontade, que lhe é reafirmada. Assim, começa o processo da morte da irmão.
Ao optar por tal questão, Anna, a filha caçula, põe em xeque as reais necessidades que sua mãe tinha. O desespero em salvar a filha mais velha foi tanto que até reproduziu uma nova criança, afim de salvá-la, mas esquecendo de sua vontade própria, sua vida e seus anseios. Afinal, se a mãe queria tanto salvar uma filha, por que não buscou outros meios que não envolvessem o uso do corpo humano apenas como uma ferramenta de auxílio à sobrevivência alheia? Qualquer alternativa ficou fora de questão quando o médico avisou sobre a gravidade da leucemia de Kate. Logo, houve uma prova de amor para a salvação da menina ou a engrenagem de um egocentrismo único, que foi incapaz de observar que o retorno de Kate era improvável?
De tantos caminhos errados em relação ao próximo tomados pela mãe, Anna tomou a atitude: queria ser normal. Não queria viver com apenas um rim, não queria mais sofrer com agulhas, nem se sentir mal com as contra-indicações promovidas pelos transplantes. Se a mãe não era capaz de ver sua situação, se o pai era omisso e não tinha conversas com ela, apelou para a justiça. Posteriormente, se saberá que Kate a incitou a tal ponto, pois também não aguentava as agrúrias da mãe. Assim, ela poderia se libertar e finalmente dar fim a tudo que acontecia.
Há de se pensar que uma mãe realmente pode - ou deve ou tentará sempre - salvar a vida de um filho. O que não se pode colocar na frente é seu sentimento em detrimento ao de todos os outros envolvidos. A prova de amor fora dada pela irmã, que não sonegou os desejos da outra, enquanto a mãe buscava vida onde já não se podia encontrar. O destino da história? Veja o filme. Tenham certeza, apenas, de que o amor preponderou.

Preconceito linguístico e a colocação pronominal

Na aula de hoje, com a Prof. Maria Luci Prestes, discutimos um pouco do que trato com meus alunos de primeiro ano: norma padrão e variedades linguísticas. Para ilustrar um pouco mais sobre isso, trouxe uma apresentação de um seminário sobre linguística que houve no ano passado, na FAPA mesmo. É interessante como há uma gloriosa contradição entre algumas afirmações que frequentemente são realizadas.
Nesse ano, aderi à ideia de dar menos gramática para a gurizada. Na verdade, nos preocuparmos menos com isso. A gramática é vista, lida, revisada, exercitada, mas a essência das aulas está nos textos que eles produzem, tanto que tenho dado um período por semana pra que ao menos construam esboços ou planejamentos de texto. E o que faço nos outros dois? Trabalha-se com interpretação, com conteúdos de produção textual - a parte mais teórica -, diversos tipos de texto e com a gramática. Esse é um processo que vem desde o ano passado, gradualmente, até porque preciso conhecer essa nova modalidade de ensino. De qualquer forma, isso suscita a ideia de que de certa forma se deixa de lado um pouco do preconceito linguístico que carregamos, pois deixar a norma culta relegada a segundo plano faz com que tracemos melhores considerações sobre como cada um deve usufruir da língua em diversas situações.
Tratamos um pouquinho sobre o Marcos Bagno, que é talvez o maior questionador do uso da gramática na escola. Ele diz que, como professores, devemos sabê-la, já que isso é o traça o diferencial do educador e que nos facilita a compreensão do mundo da escrita e suas possibilidades de realizá-la - ou seja, num ambiente mais formal, norma culta; num mais despojado, como na troca de e-mails, mais coloquial; quando expressar sentimento, não há por que ser tão normativo. Ao mesmo tempo, quase imperceptível, nota-se que sua linguagem, sua produção é feita num português bastante culto, distante da ideia de despreendimento de tal norma. Numa obra mostrada pela Maria Luci, vimos que ele começa seu texto com um dito erro gramática, que é começar um parágrafo por pronome oblíquo - "Me deleita...". Após, apenas o uso de ênclises, dando aquela falsa impressão de que, escrevendo dessa forma, o texto torna-se mais "bonito" ou mais "culto".
Sempre lecionei o seguinte: há uma explicação pra mesóclise, um ou dois para ênclise; os demais, todos viram próclise. A colocação dos pronomes tende à adequação à situação em que se escreve, não ao quão belo o texto possa parecer. Se ampla maioria de meus leitores forem da classe menos escolarizada - apesar de dificilmente isso trazer leitores -, minha linguagem não pode ser tão culta, pois não me entenderão. Logo, não é o mais adequado. É possível escrever bonito sem se preocupar com normas gramaticais, bem como é plenamente possível estar dentro dessa norma sem se preocupar com a beleza da mesma.

12 de março de 2010

Revisor de textos

Já anunciei em outro momento que comecei o curso de Especialização em Assessoria Linguística e Revisão de Textos. Hoje, a Bibi deu uma guinada nessa vontade: "tens que fazer uns cartões pra distribuir entre meus colegas." É verdade. Eles estão na fase do planejamento do TCC e em breve precisarão de um revisor para a versão final. Hora de dar as caras.
Corrigi trabalhos desse gênero, nas áreas da Enfermagem, da Nutrição, do Jornalismo, de Letras. Quando era monitor na faculdade, era inclusive uma das coisas que mais fazia. Dificilmente iam a mim pra pedir auxílio para as disciplinas, a não ser os caras daqueles cursos que tinham Português Instrumental lecionado pelo Prof. Celso, que foi meu paraninfo na graduação. Bem doidão ele era. Aliás, deve continuar sendo. Lecionou Semântica e Pragmática pra gente. Enfim, o que interessa é que se abriu uma portinhola pra arrecadação de novos fundos.
Tenho que pensar agora em formular um cartão especial pra isso. Custa, mas é útil. Seria o primeiro que faria de verdade. Vi uns no Shopping Total que pareciam muito bons, bem legais e vistosos. De repente, uma ideia. Acho, entretanto, que não adianta ficarmos apenas na distribuição de cartões, pois não há retrospecto nem indicativos de que o trabalho é bom. Claro que pra chegar nesse ponto alguém tem que ver o que fazemos. Tomara que os cartões circulem e não se arrependam...

11 de março de 2010

José Ramiro de volta!

Demorou, mas saiu: capítulo 2 de A hora de José Ramiro está no ar! Confira aqui!

Dos avanços do blog

Desde a formação desse blog, ainda não havia recebido - ao menos evidenciadas - pessoas desconhecidas. Pensei apenas que meus textos fossem uma mera passagem de meu tempo, que poucos leriam ou coisas do gênero. Quando o Nei Duclós passou por aqui, pensei ter sido um raio - aliás, altamente impactante - que não cairia novamente tão cedo. E não caiu, ao menos nenhum autor reconhecido voltou a pairar. Há, contudo, a presença de seguidores distantes.
Primeiramente, vi os seguidores e notei não conhecer alguns. Ruim? Bem capaz. Gostei, e muito. É uma grata surpresa. Felizmente, parece que tem gente dando uma bisbilhotadinha nesses modestos escritos. Hoje, recebi o comentário de certo alguém que não se nomeia, mas posta como Fun Jovens. Blogzinho interessante, bem voltado para que meus alunos veem. Ao menos nesse sentido, parece que há uma aproximação bem razoável entre o que se escreve e o que se deseja ler. Naturalmente é uma manifestação ainda incipiente, mas que, com o decorrer do tempo, pode se consolidar ou simplesmente não evoluir. Basta atentarmos aos fatos posteriores.
Dessa forma, não se pode deixar de levantar questões sobre a leitura de blogs. Seriam frequentadores assíduos os que aqui vem? Seriam lapsos de vontade, leituras singelas e breves? Rápida passagem para ver quem é que escreve e sobre o que trata? Vai se saber... O que interessa é que ainda vem gente aqui. E isso que nem passei o endereço na escola, para visitação alheia.

Das motivações por nota

Duas educandas me desafiaram esse ano: querem tirar nota 10 no ano, seja em Português ou em Literatura. Mostrar-se atentas, dispostas e realizando as atividades com júbilo são objetivos estabelecidos. Como num lance de comodismo, o desejo pode não passar de pueril vontade. Agora, se realmente tocarem isso adiante, posso ter surpresa em minhas disciplinas.
No meu histórico como professor, ainda falta essa realização. Não houve um elemento sequer que teve média anual máxima comigo. Se não me engano, em umas três ou quatro oportunidades, houve quem tirasse 10 no trimestre. Tudo em Literatura. Falta esse feito em Português. Lembro-me que a primeira foi a Mariana Ayala, que hoje volta e meia vejo na UFRGS, cursando Pedagogia; o Igor, da mesma turma, poderia ter sido um desses, caso tivesse me entregado o trabalho final de Literatura. Das que me desafiaram, uma já conseguiu num trimestre: Caroline. A outra, Desirée, precisa me mostrar a que veio, enfim. Espero que isso as torne ainda melhores alunas.
A única coisa que me pergunta nisso tudo é porque nenhum dos guris tenta isso. Só as moças. Talvez tenha algo relacionado com a questão da maturidade e da ciração de objetivos, como estudamos em Psicologia da Educação, da realização do adolescente por objetivos de curto prazo, não os de longo. Tomara que, após saírem da escola, esses elementos identifiquem que buscarem boas notas não é um simples aumento de ego, mas a instauração do conhecimento como modificador pessoal.

9 de março de 2010

Memorial

Finalmente, uma aula. Comecei o ano letivo. A super disciplina de Pesquisa em Educação me faz mais uma vez aluno de Ciências Sociais = na verdade, mais de Pedagogia do que qualquer outra coisa, levando em consideração que desde a primeira metade do ano passado não tenho aulas no Campus do Vale. Como não podia deixar de ser diferente, a disciplina apresentou uma peripécia.
O professor Marcelo Foohs pediu para que nos apresentássemos. Nome, curso, semestre e se já frequentou a disciplina de Estatística. Ainda não a fiz, mas pretendo. Apesar de ser ruim em Matemática, é obrigatória e não teria escapatória mesmo. Azar. O pessoal começou a se apresentar: gente da licenciatura em Psicologia, muitos de Sociais, alguns de Química e Educação Física, além de uma senhora que não disse qual era o curso. Lucas, 3º semestre de Ciências Sociais e ainda não fiz Estatística. Assim foram todos. Quando chegou na mencionada senhora, veio o inusitado: a mulher esbravejou, xingou Deus e os céus, tudo por conta de que talvez a disciplina prescindisse de Estatística. A velha surtou. Cheguei a pensar em chamar a Bibiana pra resgatá-la, mas depois arrefeceu. O professor tentava justificar os motivos do uso da pesquisa, mas ela já havia se transformado numa onça. Onça velha, claro. Enfim, ele conseguiu por os pingos nos is e ela sossegou. Nada como um primeiro dia de aula!
O mais interessante veio adiante: uma das três avaliações da disciplina é um memorial, um narrativa em que tu contas tua trajetória no semestre, refletindo sobre o mesmo. Até aí tranquilo. Só não foi assim porque teve um colega que perguntou três vezes como se fazia. Três vezes. E eu ainda me perguntando como meus alunos não entram em totalidade lá... Apesar disso, o memorial é mais ou menos o que temos feito nesse blog: refletir um pouquinho sobre as coisas que acontecem no dia a dia, na escola, nos estudos, nos livros, no cinema. Acho inclusive que vou mudar o nome do blog para Memorial do Professor Lucas. Bonito, né? Não? Tem razão, também não gostei. Mas a ideia é a mesma.
Quando fui para o Campus do Vale me matricular no doutorado em Letras, pelo menos por lá não houve nada demais. A não ser a barra da minha calça que virou um caldo só. De qualquer forma, consegui me matricular na disciplina desejada, apesar de a secretária ter me dito que aquela era uma disciplina obrigatória e que normalmente não aceitavam alunos especiais. Não, não são deficientes, mas aqueles que não têm vínculo direto com o curso, obtido por concurso. O que interessa é que quarta-feira se iniciam os trabalhos por lá. Felizmente, na Letras.

8 de março de 2010

Peripécias da UFRGS

Um dia para relembrar. Fico com essa sensação após essa segunda-feira. Dia Internacional da Mulher, foco principal do dia 8. Para cumprimentar a Bibiana, aceitei seu pedido de levar seu pai à rodoviária, rumo a Butiá. Espero que tenha sido útil, pois ando sem grana até pra uma flor - encantada, viva, morta ou de plástico. Nada foi mais inusitado, porém, do que a UFRGS me proporcionou.
Já estava meio desacreditado em relação às disciplinas que faria nessa primeira metade do ano, em virtude da lotação das salas às quais me candidatei. Eis que hoje, por volta de 14h30, entro na internet para ver a situação e, quem sabe, trancar a faculdade. Supreendo-me: duas das três disciplinas que tentara foram aceitas. Ficou faltando apenas o Inglês, justamente a maldita cadeira que eu queria fazer pra relembrar um pouco mais antes do teste de L2 do doutorado. Enfim, fiquei razoavelmente feliz, por hoje já teria aula para realizar.
Assim, fui à FACED. Um monte de bixos sujos e pintados, um monte de gente perdida e chegando atrasada às aulas, nenhuma novidade maior. Minha aula começava 18h30. Cheguei 18h20. Fiquei esperando 10 minutos. 15 minutos. 20 minutos. 25 minutos. Finalmente, chega o professor para abrir a sala. Minha felicidade só não foi completa porque o docente pediu desculpas pelo atraso e pela falta de professor da disciplina, e que por isso estávamos dispensados até a próxima semana. Fantástico! Quando finalmente minhas disciplinas são aceitas, as únicas duas que posso realizar, uma não tem professor! Ma-ra-vi-lha!
Voltei pra casa, rosto de tacho, vontade de fazer sei lá o quê. Meu desejo é que semana que vem tenha professor. Além de esperar que a aula de amanhã também o tenha. Duas cadeiras matriculadas e duas sem professor, duro de aguentar, hein? Aliás, amanhã é dia de ir ao vale fazer a inscrição do doutorado. Alguém tem R$ 250 pra me emprestar?

7 de março de 2010

Dos filmes

Nessa última semana, três filmes passaram pelos meus olhos, deixando algumas ideias: Percy Jackson e o ladrão de raios, Um olhar do paraíso e Tá chovendo hamburguer. Dois mais próximos do que conhecemos como infanto-juvenis e um drama muito bonito. De qualquer forma, significações muito úteis foram extraídas.
Percy Jackson traz à tona novamente a questão da mitologia grega. O filho de Poseidon está no meio dos homens, após o deus ter se relacionado com uma humana. Sabemos que isso resulta em semi-deuses, tal como Hércules, por exemplo. A desconfiança sobre o roubo do raio de Zeus paira sobre o guri, que se compromete a levá-lo de volta ao Olimpo ao encontrá-lo. A bem da verdade, ele queria apenas ir a Zeus para justificar não ser o ladrão, mas como quis o "destino" que o raio aparecesse, ele o levou. As referências míticas são intensas em diversas obras literárias e fílmicas, mas não tão expostas quanto nessa produção. Em vários textos, podemos encontrar características de deuses em certos personagens, bem como de representações da Grécia antiga nos ambientes relatados. Nesse filme, há uma ruptura com o imaginário e a abertura de um canal objetivo: deuses e homens convivem no século XXI, abandonando as simples referências que eram e tomando corpo próprio, local próprio, ao mesmo tempo em que a Terra segue seu ciclo vital. Assim, as conclusões sobre as personagens são mais óbvias, bem como o caminho de cada um deles.
Um olhar do paraíso reflete sobre temas muito comuns hoje: pedofilia, assassinatos, traumas pós-mortes, superação. A menina Salmom, como a chama o assassino, fora morta em 1973 e conta como fora sua vida e seu assassinato ao espectador. Sua irmã quase é mais uma vítima do mesmo, mas consegue escapar. Susie voltava da escola e fora convidada por um vizinho para conhecer sua nova casa para crianças. Lá, ele promove o sequestro e o assassinato da guria. Aparentemente sem motivos, mas logo começa a se justificar: por que alguém mataria uma criança que nada o fez? Por que ela foge com tanto desespero? Só fugiu porque se sentiu de certa forma agredida. Ele só foi atrás porque seus planos não deram certo. Antes que ela contasse o fato, algo deveria ocorrer. Morte. Assim se mostra um pouco da questão da pedofilia,  principal tema, tão discutida e ainda tão ingênua para muitas pessoas. Sabemos que a atração, segundo Freud, provém das relações humanas criadas ainda na infância, determinando nossos gostos e nossos desejos. Por alguma coisa do gênero não ser realizada, somada à deficiência de educação e sociabilidade de certos indivíduos, o desejo pela criança nasce. Poderia ser tratada se as pessoas reconhecessem que o que as leva a uma criança e não a um adulto é uma fraqueza igualmente infantil. O filme relata de forma tão contundente essa questão que a série de assassinatos promovidas pelo vizinho dos Salmom começa pela esposa e só depois se dirige a crianças. Pode-se deduzir inúmeras ideias, dentre as quais a irrealização do homem nos padrões sociais e o apelo à pedofilia.
Por fim, Tá chovendo hamburguer. Uma narrativa que seria banal se a experiência de Flint Lockwood não envolvesse comida. Especificamente o hamburguer. Para quem viu o documentário Super Sized Me - A dieta do palhaço, de banal tem muito pouco. Na animação, trata das aventuras científicas de Flint, que deseja criar uma chuva de comida através da água, para uma cidade que perdeu muito espaço econômico com as restrições externas à sardinha, carro-chefe da economia local. Assim, a vontade de comer coisas diferentes e gostosas impulsiona o desejo de Flint e a ganância do prefeito, que quer trazer maiores investimentos para a localidade através disso. Quando a experiência funciona, diversas comidas caem do céu e são aproveitadas por todos. Ao final, a máquina é destruída e tudo teoricamente volta ao normal. A utopia de que a comida caia do céu, como propõe o filme, é desfigurada em seu final, ou seja, não é possível crer em ajuda de onde só há problemas. Flint, afinal, era o rejeitado, o problemático, o que ninguém gostava; ele cria a máquina que gera a beleza e os problemas da história; ao final, ele mesmo tem de destruí-la. Pensando em ajudar os outros, despertou o desejo de outros em se aproveitar disso, o que acaba tornando inviável tal auxílio. Assim, a cidade precisou se readaptar aos velhos costumes para manter sua vida. Também há inúmeras considerações sobre as relações entre pai e filho, mas isso deixarei pra outra oportunidade.
Perguntaram-me esses tempos se eu só tinha coisas ditas boas pra falar de livros e filmes. Não, não só as tenho: procuro extrair o que há de melhor em cada narrativa, pois de tudo se aproveita algo. O que muitas vezes dificulta chegar a tal ponto é um certo preconceito que temos sobre tudo. Se vencê-lo, fica mais fácil aproveitar o que se expõe de bom a nós.

5 de março de 2010

Das idolatrias

Ouvindo um pouco de rádio agora à noite, detive-me sobre as reclamações sobre o goleiro Marcos, aquele que foi campeão do mundo com a Seleção de 2002 - jogando muito, aliás - e de um litígio sem fim com a torcida do Palmeiras. Seu time perdeu para o Santo André na quarta passada e o goleiro novamente fora crucificado. Não que sua ação na partida fosse boa, mas se torna desnecessário ser tão invasivo em uma crítica que apenas tende ao ódio e ao distanciamento entre ambas partes.
A relação entre a torcida e seus ídolos é cheia de percalços. Inúmeros exemplos poderiam ser citados, mas a questão sempre gira em torno dos acertos e falhas que uma mísera partida podem partilhar. Se o goleiro falha, vira frangueiro; se o centroavante erra um lance de frente para o gol, vira perna-de-pau. Essa tênue linha que separa o amor e o ódio pelos ídolos liga-se intimamente ao extremismo das torcidas em relação aos seus clubes: se o time vence, é motivo para chacotear o adversário; se perde, reclama-se até das mães dos atletas, que não fizeram brotar um elemento melhor para o mundo. Tudo isso gerado por uma sociedade que anseia por realizações imediatas. Através disso, esquece-se o histórico e ficam os acontecimentos recentes. Caso isso ocorresse na Idade Média ou na Antiga, seria bastante compreensível, já que eram sociedades que não admitiam falhas. Hoje, entretanto, encontra-se no erro uma oportunidade de melhora, para que tal evento não ocorra novamente.
Não se sabe até onde podem ir as emoções humanas. Que diga o Salvador Cabañas, atacante paraguaio do América, do México. Sem contar aquele seu colega que levou um tiro nas nádegas. Após a Copa de 1994, vencida pelo Brasil, o zagueiro colombiano Escobar fora morto por suas falhas no jogo de eliminação de sua equipe. Seriam torcedores a realizarem essas ações? Ou seres tão dominados pela sociedade corrompida, que os fazem chegar ao ponto de eliminar vidas em virtude de suas paixões? Há de se pensar melhor ao criticar efusivamente alguém, ainda mais quando essa paixão se transforma em ódio descomunal.

Retorno do lado eterno

A partir de sábado, retomo minhas atividades como aluno. Eu atacaria em três empreitadas, dessa vez: graduação em Ciências Sociais, na UFRGS; uma disciplina de Doutorado em Letras, também na UFRGS; além, por fim, da especialização em Assessoria Linguística, na FAPA. Tudo estava muito bem encaminhado, não fosse eu ver o site da Universidade Federal ontem.
Há uma esquematização organizada para as matrículas, o ordenamento. A pessoa fica mais bem ordenada, se isso é possível, na medida em que realiza todas as atividades do semestre, pode frequentar o curso sem problemas de horário, entre outros. Fiz minha solicitação de matrícula para três disciplinas de graduação: Inglês Instrumental I, Pesquisa em Educação e Seminário: Educação, Trabalho e Profissão. Eis que busco o resultado e diz que todas as turmas estão lotadas. Sendo assim, sem disciplinas. Não posso tentar outras, pois não tenho horário para tal. Possivelmente, acabarei sem a graduação nesse semestre.
No sábado, inicia o curso da FAPA. Reunião geral com os educandos de pós-graduação e, após, uma palestra específica para cada curso. A expectativa é muito grande, já que faz horas que não vejo teorias sobre linguística. Ao optar por me especializar em Literatura, acabei deixando muita coisa de lado. O desejo do regresso, porém, não fora atenuado e isso se realizará agora. Já a cadeira de doutorado na UFRGS, como aluno especial, tem matrícula na próxima terça. Lá vou eu marchar com uma bela grana. Se tudo der certo, no final do ano tento a entrada em definitivo e não pagarei mais nada...
De qualquer forma, o lado eterno, o lado estudante, regressa de férias. Espera-se a mesma motivação, a vontade de novamente ter o que concluir como estudo. Tomara que seja mais uma passagem virtuosa, sem necessidades quaisquer. E que a UFRGS tenha consideração sobre minha situação como acadêmico de Ciências Sociais.

4 de março de 2010

Bela e Christine: apogeu da leve expressão

Gosto muito de trabalhar com duas histórias: A bela e a fera e O fantasma da ópera. São dois textos de exemplar figuração feminina, do quadro de avanço da mulher da metade do século XX em diante. Leva-se em consideração que há várias versões para ambas, incluindo os musicais, as versões trash e os desenhos de Walt Disney. Dee qualquer forma, a figura feminina dessas personagens sobrevoa a questão da expressão, a ideia de que a voz é de quem fala, realmente.
Na versão musicada da banda finlandesa Nightwish, The beauty and the beast relata o diálogo entre ambas personagens: a incansável busca pela realização amorosa deflagrada pela Fera, que verá refreada qualquer ação tendo em vista a negativa da Bela. Coroa sua decepção ansiando a eterna ovelha presente nela, cujo lobo não irá desistir de sua posse. Ela, contudo, explica ao ser que não o quer mal, apenas não pode ficar com ele, já que sua frieza e incompreensão, somadas à instintiva vontade de possuir, fecharam seu coração e nada mais se tiraria de lá. A voz feminina não é mero acerto da música: corrobora com a frequente valorização da mulher na sociedade atual. Ter voz não é simplesmente existir enquanto ser, porém existir socialmente, de forma ativa. Um lapso se dá, aparentemente, quando ela sugere estar presente com o outro para sempre; a leitura aprofundada revelará, no entanto, que as suas ideias devem ser eternamente presentes nele, já que ela o quer auxiliar a descobrir o outro lado de sua brutalidade: a redenção de sentimentos expostos e retribuídos.
Por outro lado, a banda finlandesa reaproveita as falas do musical The phanton of the opera para reproduzi-las em sua música. Christine, a protagonista, não enxerga a imagem do fantasma, mas assimila sua existência através de seu crescimento: o canto. Se levarmos em consideração que as manifestações artisticas são frutos da expressão única do indivíduo, dotadas de subjetividades e relações mundanas, perceberemos que o avanço da moça não é uma mera ação de um fantasma ou de um homem travestido disso, mas da capacidade interior de explorar os próprios sentidos. Não basta identificar um ser que dialoga com outro através da obscuridade ou da inexistência, pois com nada tem identificação a capacidade exclusiva de cada ser em se expressar. Ou seja: algo ou alguém pode ser o mote, o incentivo ou aquele que liga o botão para um máquina funcionar - este, no entanto, não substituirá a ação referida pelo que a executa, mantendo o distanciamento entre os dois seres. Logo, um é propulsor; o outro, o executante. Se o fantasma era o propulsor, a voz de Christine não era um trabalho do fantasma, mas a sua aptidão que ganhara fôlego. Com isso, a voz feminina novamente ganha leveza e autenticidade, não permitindo que a manipulação do fantasma seja completa - como não o é, no decorrer do enredo.
A leve expressão que ambas personagens destacam não deve ser vista de forma despercebida. Ambas falas - ou cantos - são reflexos de autêntica expressão do homem, sem domínios de outrem. Cantar já denota a expressão dos sentimentos, mas a descoberta de sua individualidade através dos pensamentos reforça sua canção: não se pode nutrir a esperança da criticidade em um indivíduo se o mesmo não tem voz necessária para executá-la. Bela e Christine tiveram. Nós também temos. Será que nos falta uma Fera ou um Fantasma que nos faça falar?

2 de março de 2010

Reforço à tese

Sou entusiasta do turno integral. Gostaria de tê-lo hoje, de estar trabalhando hoje nisso. De repente, nem estivesse na frente do computador escrevendo no blog se já existisse para mim um turno integral no Ensino Médio. Ao que me consta, ademais, há quem também comungue desse pensamento: os educandos.
Na Zero Hora de hoje, foi publicado o ponto de vista dos educandos sobre a educação em turno integral. Achei muito interessante uma menina, creio que do Anchieta, ter dito que ela deve optar, em Artes, por Música, Artes Plásticas ou Teatro, quando ela gostaria de fazer todas. Outra moça disse que queria ver aumentadas as horas de Língua Inglesa, pois tem apenas uma durante a semana. Talvez a escassez do tempo ainda seja o principal fator para mostrar que deve existir um outro turno.
Durante o intervalo, conversei com alguns colegas sobre essa questão. Todos a favor da existência de um novo turno de trabalho. Não simplesmente por ser mais trabalho, por ganhar mais ou algo do gênero - que será consequência, mas por trazer o aluno para sala de aula não por mero divertimento, e sim como um tempo de proveito para a convivência, para o estudo e para o crescimento. Oficinas de Literatura, Cinema, Física; reforço escolar obrigatório, mas com opções de frequência, de acordo com a necessidade; recreação, atividades esportivas, queimar calorias. A gurizada tem muita energia e a escola - não a minha, mas enquanto estrutura social - ainda não acompanha tudo que eles precisam. 
Fica o convite à reflexão: vale a pena ou não termos esse novo turno? Ilustrar ao educando e aos seus pais as reais vantagens - e as desvantagens também - de um sistema assim pode gerar um debate muito interessante. Quem sabe, adiante, teremos uma mudança na esfera escolar para que haja educandos cada vez mais capacitados e felizes pelo seu melhor desenvolvimento. O chato é vermos pessoas querendo mais e ninguém oferecendo isso a elas.

1 de março de 2010

Turno integral

Desde ontem, o jornal Zero Hora publica reportagens sobre as vantagens do turno integral nas redes escolares. Escolas que mantivessem seus alunos em seu ambiente durante a manhã e a tarde trariam resultados mais eficientes para educadores e educandos, afinal, manteriam o estudo durante o dia e à noite poderiam desfrutar de suas casas ou em companhia de seus amigos e namorados.
Sempre fui favorável à educação em tempo integral, para todos os níveis. Se até o ensino superior pode - vide as grades curriculares que a UFRGS oferece -, por que a educação básica também não poderia? Durante a manhã, o educando receberia a aula formal, como ele a tem hoje: disciplinas a cada 50 minutos. Haveria o intervalo normal e uma pausa às 12h. Com isso, o almoço, oferecido pela escola. Lá pelas 13h30, retomar-se-iam as atividades: disciplinas que hoje não pertencem às grades, como Psicologia, Política, Música, Educação Sexual, períodos de reforço escolar, atividades físicas por esportes diferentes. Há muito o que poderia ser agregado aos modelos de ensino. Então, por volta das 17h30, fechar-se-ia o dia e no seguinte os alunos retornariam.
As vantagens desse sistema existem? Não é apenas uma forma de manter certas cabecinhas ocas ocupadas durante o dia? Forma apenas de cansá-los? Com certeza, haveria uma reconfiguração na estrutura do educando: no futuro, possivelmente ele trabalhará oito horas diárias, o mesmo que ele poderia ter na escola. Alguém dirá: "mas ainda são crianças ou adolescentes e devem aproveitar enquanto podem". Concordo, mas acho inclusive que isso poderia ocorrer na escola, seja com atividades de recreação, de ajuda mútua ou com um mero papo. Ninguém quererá na escola apenas pessoas com a cabeça baixa, estudando. Assim, minimizariam os riscos de se manterem na rua ou sem atividades em casa, o que na nossa sociedade já acarretou em diversos problemas, como depressões, envolvimento com drogas, "vagabundagem" ou coisas afins. Naturalmente que isso não acontece nem acontecerá com todos, contudo diminuir esses riscos facilita a vida tanto de pais quanto de alunos.
Por bem da verdade, esse assunto traz muitas ideias, teorias e consequências. Buscar informações sobre o turno integral seria útil para todos, pois a escola é o principal meio de convívio dessa gurizada. Fora da escola, nem os educadores nem os pais sabem precisamente quem são os seres com os quais eles se relacionam. O turno integral pode trazer benefícios intelectuais, psicológicos e sociais quando bem aplicados. Pensar sobre isso pode garantir um bom futuro a diversos filhos espalhados por aí.

Walter

Quem trabalha na educação sabe que, por vezes, é muito difícil lidar com certas pessoas. Desde os elementos mal intencionados, aqueles que querem apenas aparecer, os que têm dificuldades cognitivas, os que são envergonhados, até os bem-feitores, quando muito assoberbados. Em nada disso parece diferir o caso do atacante Walter, do Inter.
Aquele que já escutou alguma entrevista dele já percebeu sua linguagem e sua forma de se comunicar. Já houve momentos em que ele maneou a cabeça e desviou da pergunta; também quando fala, liberando um linguajar simples, parecido com aquele que se fala no interior, numa roda de amigos, quando pequeno. A simplicidade é companheira do jogador como se fosse aquela a quem recorrer sobre qualquer necessidade. O problema disso vem acoplado: a simplicidade demonstrada pelo jogador parece trazer um estado cultural ainda incipiente. Pela fala, pelo manejo dos olhos e pelo desvio das perguntas, a falta de escolaridade - ou de aproveitamento da mesma - reflete em suas atitudes: impulsivas, sem explicação, dotada de certa infantilidade.
Se não há nada demais com ele, por que não aparece nos treinos? Se ele quer jogar na Europa, por que não desfila seu futebol no gramado do Beira-Rio? Se o problema for além, como o emocional, por que não o ajudam trazendo e fincando sua família aqui, aliando a um tratamento psicológico? Por que ele não se ajuda, seria a principal pergunta. Ele não pode se ajudar se não tiver maior conhecimento sobre si mesmo. Infelizmente não o conheço, apenas o vi uma vez no Praia de Belas com o Leandro Damião, mas é um guri que, como inúmeros brasileiros, sofre pela falta de escolaridade, de conhecimento, de auto-conhecimento.
Clubes de futebol não podem ser apenas lapidadores de craques. O indivíduo, para chegar ao sucesso profissional, necessita de amparo psicológico e social. Antes de vermos Walter como um grande jogador, será necessário vê-lo como um cidadão consciente de seus atos, de sua estrutura. Quem será Walter caso ele se mantenha mais dias preso em casa, sozinho? Um mero homem, quem sabe sem profissão, perdido, jogado pelos cantos de um mundo que não coopera para a reabilitação do próximo.