28 de abril de 2010

Alice e o fim da adolescência

Desde que soube do lançamento da versão de Tim Burton para Alice no país das maravilhas, tive muita curiosidade para vê-lo. Fui. Ontem à noite fui levando a Wonderland, a reconhecer os antigos personagens e toda a saga envolvendo Alice até o fim da adolescência. Apesar dos grandes efeitos especiais, das figuras perfeitamente expostas naquele contexto, não é um filme impressionante - apesar de bom. É muito mais a exposição sobre o fim da infância do que qualquer outra coisa.
Alice é pedida em casamento por um lorde inglês. Na ânsia de não saber o que fazer e com inúmeras pessoas dizendo como ela deve proceder, foge. Fuga, aliás, derivada pelo aparecimento do coelho de terno, que a guiará de volta ao País das Maravilhas, que visitara ainda criança. Essa ida a fará se redescobrir e voltar ao mundo não mais como a frágil, dócil e infantil Alice, mas como uma mulher de voz e capaz de interagir no mundo dos negócios - até então desconhecido para o universo feminino, tendo em vista a tradição machista que este acarreta.
É interessante percebermos que o enredo se faz sobre as dificuldades de Alice em reconhecer o que é ilusório e o que é real; as andanças por um mundo que lhe parece fantasioso e que não se faz apenas assim. Cada aventura que passa, cada marca que lhe é registrada, tudo mostra que os movimentos e decisões são plenamente reais. O contato com a lunática de diversos personagens - vide Absolem, Chapeleiro Maluco, Lebre - a mostra a irrealidade das coisas, mas seus momentos de lucidez a colocam num ambiente favorável ao conhecimento sobre tudo que existe e que se deseja conhecer.
A adolescência é um marco na vida das pessoas justamente por ser a época em que não se sabe que caminho trilhar. Brincar ou beijar? Namorar ou ter só amigos? Assumir decisões ou delegar ao próximo? Ajuda de pai e mãe ainda necessária? Dentre essas questões, o que fica não é a retomada do que é subjetivo, individual: é a decisão correta, o melhor para o grupo, o bem estar social. Isso denota crescimento, tendo em vista que o homem é um ser extremamente social. Não basta apenas ficar preso aos seus ideias - como diversos adultos fazem - sem compreender que o próximo sempre será afetado pelas suas decisões. É um crescimento proporcional às várias migalhas do pão do crescimento que Alice precisa em Wonderland.
Há, portanto, um link diretamente ligado entre o Submundo e a adolescência. Os passos de Alice não são meras caminhadas literárias ou fílmicas, dotada de percalços e adversidades que limitam suas decisões. Nada disso: é a porta para o crescimento, para o rompimento da visão infantil e para o avanço do estado natural das pessoas. Perde-se a Alice criança e ganha-se a Alice adulta. Uma troca e tanto.

26 de abril de 2010

Nova exploração

A análise de poemas nunca foi meu grande foco como teórico da literatura. Até porque nunca fui um grande fã da mesma. De um tempo pra cá, porém, ando meio irreconhecível: mantendo leituras durante o tempo de trabalho, conseguindo escrever mais do que em anos não fiz. Eis que surgiu uma nova empreitada: Silêncio em poema. Além deste blog e de A hora de José Ramiro - que está mais lenta do que o dia de Naziazeno, em Os ratos -, resolvi testar um pouco dessa vertente. Pensando na minha produção, é praticamente vanguardista. Espero, no mínimo, que essa produção renda um pouco mais do que nosso lento e mal amado José.
Se quiseres conhecer um pouco mais, clica aqui!

Clima de anúncio

Hoje foi dia de o Jornal B.O.News ser encorpado. Até aprendi a usar o Microsoft Publisher com essa. Com os textos na mão, boa vontade da gurizada e conversas sobre a formatação, hoje adiantamos a feição do jornal. A primeira edição deve sair até a semana que vem.
Venho dizendo isso a horas: "semana que vem". Quero logo que esse jornal brote. Quero que ele não seja de uma única edição. Quero vê-lo são, em mãos, tocável e legível. Já não basta ter que indicar todas as possibilidades para a realização. Preciso do produto em mãos. É uma vontade bem explícita, naturalmente. O clima de anúncio vem rondando há semanas e ainda não pude tratá-lo como deve. Mesmo assim, sairá em breve.
Talvez uma das nossas maiore dificuldades seja lidar com a ansiedade. Estado de agitação plena, pendendo entre o nervosismo e a felicidade. Às vezes parece que o ato não concretizado traz incertezas, porém não devemos necessariamente observar sob esta ótica: é uma pausa para o acontecer. Com a publicação dos textos, teremos muito mais do que um espaço para as traquinagens da gurizada, mas um caminho de reflexão no qual quero que se espelhem os textos lá presentes. É um jornal escolar que ambiciona a criticidade.
Por enquanto, esperá-lo-emos. A mesma tranquilidade que deve ser gerada enquanto temos nossas reuniões deve ser mantida antes do lançamento. Está tudo certo, enfim. São só digitações, diagramações. Tudo dará certo. Ou, ao menos, é a esperança.

23 de abril de 2010

Nos próximos dias...

Resolvi explicitar, nos próximos dias, como deve ser minha tese de doutorado. Um pouco arriscado, pois sempre há um aproveitador de ideias perdido por aí. De qualquer forma, verbalizar um pouco o que me ocorre mentalmente pode facilitar essa produção, que deve ser inovadora. Espero que ao menos esse objetivo seja atingido.
Misturar a literatura e o heavy metal é muito mais do que aproximar gostos por fantasias até certo ponto diferentes: é trazer à tona os perigos da intertextualidade, as conotações prováveis e malfadadas até então. A literatura, pelo seu poder catártico e transformador do pensamento da humanidade; o metal, a lírica densa de homens e mulheres que ansiam pela expressão e pela reflexão a partir de seus ditos.
De qualquer forma, a experimentação começará. Para que bem entendam um pouco sobre o tratamento das questões, exporei a tradução de algumas músicas que formam uma cadeia narrativa, a fim de explicitar a aproximação entre os dois lados. Sugiro que já vão adiantando um pouco seus pensares a respeito dessa questão, pois não será tão pouco o que deveremos avaliar.

22 de abril de 2010

Agonia Fantasma

Texto publicado no último dia 19 que, magicamente, não estava presente no blog... Vai se entender...

***

Existe uma música do Epica com esse nome. The phanton agony relata, dentro do contexto - afinal, a canção faz parte de uma história que é narrada através do álbum-, sobre o fato de não observarmos mais do que nos é exposto, de buscarmos pouco além daquilo que realmente se mostra. Se todo nosso cotidiano fosse aplacado por situações de interpretação de dados, teríamos muita dificuldade em entender o que se passa em nossa frente.
Os cruzamentos de informação que há trazem à tona o jogo de possibilidades que podemos tratar no decorrer de uma vida inteira. Vemos diversas sinalizações sobre o que devemos fazer, para onde devemos nos curvar, de que forma podemos agir: o problema é que dificilmente precisamos uma conclusão. Mais: que seja coerente. Nossos atos são tão sujeitos à mutabilidade - seja por fatores psicossociais, econômicos ou culturais - que a sequência de pensamentos não faz com que fiquemos presos a um só ideal. O pensamento voa. O tempo voa. A causa de uma situação, num momento, passa a ser inexplicável em outro. Assim, a agonia se instala. Uma agonia translúcida, vinda de um raio dimensional tão distante a ponto de não identificarmos os porquês de estarmos assim. A nulidade prepondera, mas o sonho se mantém firme e constante.
Todos temos alguma noção sobre as diferenças entre o bem e o mal. O problema é sequer pararmos para identificar quando isso realmente ocorre. O pedido de desculpas inesperado, a falta de ação diante de uma conclusão, a discussão sobre um tema acabado. Se não questionamos, não podemos esperar algo diferente de quem nos ouve ou nos lê. A agonia se torna fantasmagórica, pois, assim, nunca se saberá o que realmente foi dito ou se quisera dizer, nem a quilômetros de distância.

21 de abril de 2010

E as desculpas?

De um lado, as emoções partidas; do outro, a inoperância de certas palavras. Onde ficam as desculpas? No ato de quem fala mal? Certamente. E no lado de quem não vê ou não consegue enxergar a situação alheia? Também ficaria. Da dicotomia das desculpas afloram inúmeras situações de desconforto.
Eu me desculpo por tudo que teria feito. Muitas vezes não é o suficiente, pois a situação indica maior penúria  do que leveza. Prefere-se o seu lado a contentar ambas partes. Sou parte disso. Somos todos partes disso. Revela-se a questão a quem a aplica: ser ou não ser objeto da desculpa? Ignorar ou ser ignorado? Hamlet já destacara essa situação no longínquo século XVI. Enquanto isso, vamos relembrando, novamente, que "há mais mistérios entre o céu e a Terra do que nossa vã filosofia é capaz de atingir..."
Eu admito meus erros. Quero que sejam desconsiderados, sim, mas com justiça. Não se faça deles uma forma de amargura, de destruição. Quero-os puros, inteiros, mas vívidos. As desculpas não bastam, sabemos, quando as ações são piores do que a cura. A cura, no entanto, também está em nós: aceitarmos a falha do próximo e revermos posicionamentos ainda transtornantes. Vitimei eventos em nome do erro. Estraguei caminhos em nome do vento. Saí do percurso em busca do acerto. Nenhum caminho seria diferente? Poderia sê-lo, por vezes deveria. O que ficou, em verdade, sempre foi o estado verdadeiro da situação.
As desculpas pendem de lado. De qualquer forma, meu lado estará sempre permeado pelas mesmas. De quebra, as situações nos embebedam de recordações fulcrais e fatigantes, que nos embalam num ritmo frenético, intenso e, ainda assim, misterioso. Afinal, só as desculpas podem sanar aquilo que mal fazemos. Ao chegar ao interlocutor, resolveremos a dúvida. Através de palavras. Através da ação e da reação.

Um grito de socorro no meio das palavras ou das inoperâncias amorosas

De momentos em momentos, somos prostrados por situações de resoluções imediatas. Não seguro de um lance que, pelo pensamento ou pela sorte, pode determinar o futuro da situação, chega-se a conclusões nem sempre tão doces quanto se gostaria. Num mar de lampejos e dificuldades, as ações tendem a enveredar por aquilo que dificilmente ansiamos.
Um diálogo, uma discussão ou uma briga agregam diferentes significados. Em verdade, são níveis de abstração na relação entre dois elementos. Sim, abstração. Quanto menos palpável é o diálogo, menos fácil se torna a conclusão, mais simples de retomarmos outras situações é possível. Pelo lado empírito, sempre se resolutará pelo que melhor se assemelha; pelo lado científico, aquilo que é o melhor para todos.
Assim, não há espaço para que, num diálogo, mantenhamos apenas um breve silêncio, um espaço de quietude absoluto. Concordo. O problema se dá quando um grito é reflexo da inoperância amorosa, da falta de vermos um pouco mais do outro em nosso discurso. De uma singela homenagem pode-se tirar grandes transtornos, dependendo da colocação que é feita. E o efeito de uma palavra mal colocada sempre gerará um novo distúrbio.
Há de se ter vontade, amor e muita paciência para a relação com o outro. Se num vago momento somos capazes de felicidades imensas, não há porque noutro tudo ser destituído e transformado em ato falho: um coração não é uma pedra ou um texto científico. Por um lado, porque sente; por outro, porque não é passível de comprovações em teses. Simplesmente existe.

19 de abril de 2010

Agonia fantasma II

Aos curiosos, a tradução do The phanton agony, do Epica:

Eu não te ouço, eu não te escuto
Você ainda existe?

Eu não te sinto, eu não te toco
Você existe?

Agonia fantasma

Eu não posso te provar, eu não posso pensar em você
Nós existimos de verdade?

II. Entre esperança e desespero

O futuro não passa
E o passado não vai subjulgar o presente
Tudo o que resta é uma ilusão obsoleta

Nós tememos todas as coisas que não poderiam ser
Uma agonia fantasma

Nós dormimos a noite
Ou dividimos a mesma velha fantasia?
Eu sou uma silhueta da pessoa que vaga nos meus sonhos

Lágrima de beleza sem precedentes
Revelam a verdade da existência
Nós somos todos tristonhos

O envelhecido desenvolvimento da consciência
Nos afasta da essência da vida
Nós meditamos tanto,
Por isso nossos instintos irão esvanecer-se
Irão esvanecer

Qual o sentido da vida
E qual o significado se todos nós morremos no final?
Faz sentido aprender ou nós nos esquecemos de tudo?

Lágrimas de beleza sem precedentes
Revelam a verdade da existência
Nós somos todos pessimistas

Me ensine como ver e me livre da descrença em mim
O que temos é o que vemos, a agonia fantasma.

III - Nunca mais

A lucidez da minha mente foi revelada em novos sonhos
Sou capaz de viajar onde meu coração vai
Na busca de auto-realização

Esse é o jeito de fugir da nossa agitação
E nos aprimorarmos
Use a tua ilusão e entre nos meus sonhos

17 de abril de 2010

Pausa para o café

Antigamente, noutra época em que eu escutava o Sala de Redação, o Ruy chamava os comerciais dizendo o seguinte: "vamos para a pausa do café Haiti" - e começavam a cantarolar aquela chamada: "Haiti, Haiti, Haitiii... Tá fazendo na cozinha, tá cheirando aqui!". O cafezinho é um atrativo para o pensamento. É a pausa para a reflexão. Ou para o ócio. Um tempo de silêncio, de reflexão.
Há momentos na nossa vida que deveriam ser como a pausa para o café. Os problemas do cotidiano, íntimo ou explícito; o trabalho, a vida; o homem e suas funções biológicas, seus traumas e suas soluções. Tudo deveria ter uma pausa para o café. Que corpo não se salvaria se não parasse de bombear maus elementos pelo mesmo? Que rtabalho não seria mais rentável se não tivesse algumas pausas? Que amor não duraria mais se não houvesse um cafezinho? Intrinsecamente, os valores poderiam ser diferentes. Até o monetário: com mais pausas, mais cafés sairiam; logo, mais barato ficaria. E refletiríamos e beberíamos café, constantemente.
O sabor amargo pode confundir um pouco. Não seria apenas o "lado negro" falando enquanto bebemos? Falácia: por ser escuro e não enxergarmos no fundo é que nos faz pensar. O que há no fundo da xícara? O que há no reflexo que vejo? O que há em mim realmente? Seria eu tão escuro e nebuloso quanto o líquido? Justificaria minha presença no reflexo por ser alguém - e isso me faria bem, no mínimo. Aprofundando esse pensamento, poderia presentificar-me no café não como um mero reflexo, mas como o próprio: amargo, mas que ninguém dispensa. Egocêntrico. Não, porém, inverossímil.
A pausa do café nos ajudaria bastante. Não é impossível que um curto espaço de tempo não nos faça transpor mais do que nossa imaginação determina: há muito o que descobrir dentro de nós mesmos, dentro de xícaras ou nos pingos derramados do café. É hora de pensar. É hora de beber café. Pode chamar novamente, professor!

16 de abril de 2010

Discursos e discursantes

Há momentos em que a dificuldade em entender o próximo prepondera. Surtos de mensagens equivocadamente escritas, num universo de possibilidades de interpretação, dão margem às mais variadas ideias e atrocidades escritas. Mensagens vão e vem, muitas vezes deixando a função do autor totalmente perdida e sem resolução.
Flagrei, dias atrás, uma mensagem altamente suspeita: pessoa desconhecida fala sobre quem desconhece, lançando ideias a seu respeito. Fosse numa análise psicológica, na relação especialista-paciente, seria de se entender; se fosse na busca de elementos textuais da literatura, em que se comprova uma tese pelo discurso elucidado, também não haveria problemas. O problema é a tentativa de incutir ações ao que não há de fato; fato, sim, é a irresponsabilidade da afirmação. Fosse em uma cultura extremista, dependendo sobre quem se falasse, renderia pena de morte - ou, no mínimo, de apedrejamento. Como o ocidentalismo prepondera por essas bandas, uma discussão pode ser travada, mas em nada deve chegar.
O cuidado com as palavras é dever do discursante. Quando o discurso já está formado, o interlocutor passa a ser seu grande foco, tendo em vista que o autor já teria "morrido", como elucidou Barthes, em A morte do autor. Perde-se a pessoalidade na medida em que se interpreta a questão, mas sempre existirá aquele que escreve ou que fala a mensagem. Esse deve ser sempre responsabilizado pelos seus atos.

12 de abril de 2010

B.O.News

Apesar de minha contrariedade em relação ao nome lançado pelos alunos do terceiro ano para colocar no jornal, está instaurado o Jornal B.O.News. Pretende ser um veículo de grande interesse para a gurizada, levando em consideração que a ideia é mantê-los atualizados sobre os acontecimentos da escola e do mundo, no que convir a todos.
Para quem quiser acessar, basta clicar aqui. Todos os educandos da escola estão convidados a colaborar, desde que informações úteis e sem qualquer juízo de valor sobre elementos escolares. Claro, temos de evitar a fadiga, afinal. Se alguém tiver sugestões, reclamações, lembretes, até algum anúncio para classificados, é só mandar um e-mail para jornalb.o.news@gmail.com, pois lá serão atendidos e possivelmente o ajudarão a expor o pretendido. A gurizada parece bem disposta a montar bem o jornal!
Já há duas reportagens prontas, além de uma crônica sobre um acontecimento esportivo recente. Ademais, exposição sobre festas e recados a serem veiculados parecem já presentes também. Caso queiras colaborar, já sabe como fazê-lo!


10 de abril de 2010

Avanços a nível acadêmico

Como comentei no texto anterior, alunos meus apresentaram trabalhos sobre literatura e mais alguma coisa. Isso no caso do 2º ano, já que o primeiro apresentou sobre Literatura e Cinema e o terceiro apresentará nessa semana sobre Literatura Africana. De qualquer forma, alguns trabalhos foram tão bem elaborados que me deixaram realmente extasiado.
Dois, em particular, pela montagem e pela amostra, foram muito interessantes; outros pela temática e pelo quanto há para aprofundar o tema. Ideias como as expostas sobre Literatura e Animê/Mangá foram certamente profundas e passíveis de apresentação em nível de graduação. Claro que não houve a possibilidade de aprofundar sobre todos os desenhos selecionados, mas algumas coisas me chamaram a atenção: as representações orientais para Alice no país das maravilhas, Hamlet e sobre a história de Jack, o estripador - que, aliás, se relaciona com a história do Canibais, tendo em vista que Charles Darwin deu seu parecer sobre a condição desse imigrante alemão e o comparou ao famoso serial killer inglês. As questões de intertextualidade que envolvem os segmentos não demonstram uma mera reprodução dos clássicos textos, mas uma releitura ambientada através da cultura local.
Outro trabalho de muito interesse foi de uma dupla que falou sobre Literatura e Heavy Metal, pegando particularmente a banda americana Iced Earth. Já conhecia bandas que contavam histórias em seus álbuns, mas essa selecionada pelos guris traz músicas que releem biografias de personagens famosos em nosso imaginário, como o Lobisomem, o Drácula e até o Spawn, bastante famoso nos quadrinhos dos anos 90. Através de sua visão, a banda relança o olhar sobre tais personagens, a fim de identificá-los aos interlocutores como seres que ambientam mais do que o espaço literário, mas o musical também.
E por que isso ocorre? Entra em acordo com o que fora dito no post abaixo: o imaginário da adolescência exige conhecer até o irreconhecível. Buscar mais e reler espaços faz parte da mística do descobrimento. A constância da revisão faz parte da tentativa de conhecer o obscuro, o que não se terá frente à frente - a não ser por um surto ou por visões suspeitas. O imaginário corre solto, e só ele pode trazer as respostas desejadas.
Além desses, sobre Literatura e Adolescência - que é um campo muito vasto, cheio de questões psicopedagógicas, além das sócio-econômicas -, Literatura e Balé - pegando a questão da ópera e da narrativa sem falas -, Literatura e minisséries - uma das mais populares formas de transição entre texto e mídia -, Literatura e Internet - principal foco de publicação e dificuldades de mantenimento de autoria atuais, além do reaproveitamento de Dante Alighieri em inúmeras formas de construção. A gurizada foi realmente muito feliz nas escolhas e se saíram super bem! Parabéns!


Justificativas para a mania dos vampiros

Em mais um lapso de vontade de comprar livros, adentrei a Saraiva do Praia de Belas ontem. Depois de muito pesquisar - e cansar a Bibiana, que recém saíra do trabalho -, vi um livro que cabia no meu bolso e de temática interessante: Imortal: contos de amor eterno. Li a contracapa e a maioria dos contos se voltam para a questão vampiresca. Isso me fez lembrar as apresentações de trabalho de meus alunos de 1º ano, sobre Literatura e Cinema, em que a maior parte resolveu fazer sobre a série Crepúsculo. Agora há motivos fortes para compreender.
No prefácio da obra, a autora P.C. Cast, famosa por suas histórias fantásticas, tece alguma teoria bastante subjetiva sobre a paixão do público leitor pela série antes dita. Num de seus argumentos, ela explora a questão da imortalidade como um processo de conscientização do adolescente que está se inserindo no mundo adulto, tendo em vista que sua necessidade de saber os porquês da vida extrapolam, muitas vezes, as respostas que o mundo tem a oferecer. Aí que nos deparamos com a insistente entrada de adolescentes no mundo das drogas, no confronto direto com seus ditos superiores, com a vontade incrível de fazer uma viagem ou de simplesmente se isolar dos pais. Após essa provação, o cidadão retorna - quando retorna - um homem de novos conceitos, pronto para ingresso à vida adulta. É uma aventura mítica que se instaura.
Lembro quando estávamos na escola e um colega me disse: "se eu pular do viaduto da Duque (Viaduto Otávio Rocha), eu não me quebro." Não satisfeito com a reação dos demais, foi efusivo: "tenho certeza!". Naturalmente, ele nunca tentou tal fato. Não que eu saiba, ao menos, já que faz horas que não nos falamos. O que interessa é esse transcendentalismo exacerbado que um cara de 16 anos buscou por um instante. Provavelmente, hoje em dia não teria tal reação, tal vontade ou até tal argumento. De qualquer forma, num período da vida, já se imaginou mais do que ser apenas o que a física expunha. Quando era menor, sonhava voar. Nunca num avião ou num paraglider: o corpo faria isso. Ao melhor estilo Super-Homem, inclusive. Superar fronteiras distantes, avançar pela estratosfera e não mais identificar pessoas quando olhar o mundo. Seria o mesmo que acessar o Google Earth no computador, mas ao vivo.
O tempo passou e não pude fazer isso na realidade. Uma pena. Ao menos nesses sonhos somos capazes de seguir adiante. O que P.C. Cast diz tem a possibilidade de aproximar essas questões entre os leitores e seus vampiros favoritos. Não podemos esquecer, no entanto, que tudo ainda faz parte de um universo mágico, da formação do nível abstrato do pensamento e que - (in)felizmente - não precisamos morder pescoços por aí.

5 de abril de 2010

Centésima

Centésima postagem. Quando montei este blog, não pensei que chegaria tão longe tão cedo. Afinal, vendo os posts de diversos elementos e suas extensões, o quanto falavam e imprimiam sobre determinados conteúdos, achei que os meus demorariam mais a nascer. Pensei que isso só seria feito de forma simples e aos poucos, mas com quase um texto por dia deu pra montar algo bem legal.
Certamente um dos melhores momentos foi o contato com o Nei Duclós. Divertidíssimo, por sinal. Pena que o contato arrefeceu. Quem sabe no dia em que eu montar a obra impressa do José Ramiro - que anda difícil, pois lentamente ele tem saído de minha mente -, ele não faça minha orelha. Claro, ela já é feita, mas pro livro seria muito bom. Além disso, algumas resenhas ficaram bem razoáveis, como sobre as obras que comentei no início - O outro, Gênesis, Jogando por pizza, entre outros - e as questões sobre a escola também. Imagino que alguns ilustres leitores tenham se identificado com alguma coisa - ou não, caso a autocrítica seja escassa.
De qualquer forma, tem sido bastante prazeroso escrever aqui. Minha modesta esperança é que o mesmo esteja sendo para os leitores. O José Ramiro anda difícil, mas espero que também esteja cativando aqueles que o leem. Até tem quem reclame que ainda não fora adiantado um novo post...

4 de abril de 2010

Leituras obrigatórias 2010

A UFRGS sempre me traz mais trabalho do que poderia. Por um lado, é bastante útil que isso ocorra, levando em consideração que nos atualizamos com seus novos pedidos; por outro, a trabalheira já é tanta e ainda temos que nos preocupar em ler por obrigação.
Peguei a lista que primeiramente a Desirée me conseguiu, depois conferi tudo no site. Até porque tinha que ver quanto custava cada obra. O pagador de promessas. Dias Gomes. Nem lembrava mais desse livro. As poucas lembranças que tenho se referem à série que a Globo veiculou há uns cem anos. Tenho uma versão em vídeo que passarei para a gurizada, mas em preto e branco. Bem novinho. Além dessa obra, surgiram outras curiosas: Feliz ano novo, do Rubem Fonseca, eu li no colégio. Era um livro bem bom, pros meus juvenis olhos. Teria de relê-lo ou buscar informações sobre o mesmo. Rubem Fonseca sempre teve um linguajar chulo, mas totalmente apropriado às cercanias sociais que abordava. Leitura boa, mas pesada. Tem um cara que está de volta à ativa: Guimarães Rosa. Depois de Primeiras histórias, agora é a vez de Manuelzão e Miguilim, contudo apenas dois contos. De qualquer forma, Guimarães Rosa é fabuloso, excelente, só que com a linguagem difícil, por vezes distante da realidade da gurizada. Acho até que os contos selecionados não são tão complicados assim, mas teria de relê-los também - Prof. Suzi nos fez ler no terceiro ano, no Sévigné. Por fim, o único que realmente não conheço, vencedor de um Jabuti há pouco: O filho eterno, do Cristóvão Tezza. Procurarei mais informações pra poder abordá-lo corretamente.
O grande problema que é causado, além da trabalheira desnecessária, é o acesso aos livros. Todos caros. Não se paga menos de R$ 30 na maioria. Um só é mais barato, o do Dias Gomes. O dos outros é difícil. Pena que eles não enviam essas obras pros professores reverem suas situações para realmente utilizar como leitura obrigatória, propriamente.

3 de abril de 2010

A menina com a lagartixa

Antes de ver o Shutter Island, passeávamos pelo Barra Shopping. Além de ter sido perseguido por três alunas e uma comparsa, lanchado no McDonalds e visto uma roupas, fomos à Livraria Saraiva. Lá, no meio de tantos lançamentos, um livro me chamou a atenção: A menina com a lagartixa, de Bernhard Schlink. No final do ano passado, já lera O outro, desse autor. Como já havia gostado, li essa nova obra numa sentada - ou deitada -, na sexta pela manhã.
O enredo é de uma dramaticidade muito sensível. Um menino que mal sabe do trabalho do pai, apesar de frequentar seu escritório; uma mãe que apenas reclamava da vida, após a decadência social. O curioso era a reclamação a respeito de uma certa menina judia. Quando menino, nem sabia o protagonista o que era uma menina judia. Contexto: Alemanhã, início da década de 50. Pai era juiz da região onde moravam, e ajudava os judeus. Fora punido por si próprio ao encaminhar para a morte um companheiro: álcool e posterior morte foram sua solução. A mãe não desenvolvia frases complexas com o marido ou com o filho. No antigo escritório, depois na nova casa e, após a morte do pai, no seu quarto em uma pequena cidade onde estudava, o quadro de René Dallman, A menina com a lagartixa, rondava.
A busca que a personagem principal faz é descobrir a origem daquele quadro que tanto o fascina. O que se descobre no decorrer do texto é que o caminho realizado para tal feito determinará quem realmente é aquela pessoa, o que foram seus pais, quais foram as ações que identificaram quem realmente eram, tanto a si quanto aos parentes. Os judeus aparecem com pouca identidade no início e terminam com real importância. Assim, temos uma obra que não se prende apenas ao que anseia uma personagem, mas a todo um contexto sócio-cultural que ilustra o ser humano como alguém perdido no mundo, que não pode buscar algo mais senão através da busca por seus reais valores. Numa certa altura da obra, o então menino resolve que quer conquistar uma bela garota - mas nem paixão sente por ela. Não houve ainda a identificação do que é amor ou paixão. Quando concretiza o objetivo, ela nada mais é que nada, trazendo enojamento ao rapaz, que a deixa partir após sua primeira noite amorosa. Ele só conseguirá se reconhecer após dar um destino ao quadro, que o perseguia pela incessante vontade de saber quem realmente era.
Vale lembrar que as obras de Schlink giram sobre o eixo da identidade. Em O leitor, o guri que lia os livros para a mulher mais velha também não sabia quem realmente era, até a punição que a mesma recebe por seu crime de guerra, no julgamento de Nuremberg; em O outro, o marido segue atrás de um amante da finada mulher para conseguir identificar o que foi a relação de ambos pelos anos que sucederam; por fim, em A menina com a lagartixa, o envolvimento da personagem se dá através da identificação de soluções para sua vida. Falando em vida, é esse o caminho que trilhamos pelo tempo que temos: reconhecer quem somos para partirmos em busca de nossos ideais.

2 de abril de 2010

Ainda sobre a docência superior...

Na quarta-feira, conversei com a diretora do curso de Letras. Abriu-se a possibilidade de lecionar por lá, com mais evidência no que é mais simples, mas não menos importante: um minicurso para a semana do Fórum FAPA. É o início. De qualquer forma, não se restringiu a ideia de montar um curso de extensão. Vi, no entanto, que isso depende do bom aproveitamento do que me fora ofertado.
Assim pretendo começar. Pelo que me lembro, o Fórum é na metade do ano, o que me dá um pequeno tempo pra elaboração do curso, sua metodologia e seu cronograma. Acho que terei de formar bem meus parâmetros para ser bem visto lá dentro. Quem não quer algo mais, afinal? Só o fato de ter sido chamado já fora um alento; aprovado, então, ainda mais interessante. Agora, só a ontagem mostrará até que ponto poderemos chegar.

Viver como um monstro ou morrer como um homem bom?

A questão introduzida pelo título teria uma óbvia resposta se não passasse pela representação do que é verdade ou mentira. Saber que a realidade a qual vivemos não passa de uma criação de uma mente insana pode ser a maior verdade que tenhamos a contemplar, a nãe ser pela própria realidade que nos cerca. Num jogo entre o que se pensa que é e o que é realmente, uma palavra introduzida ou um pensamento inequívoco dão graça ao movimento de qualquer pessoa.
Ontem, fomos ao cinema ver Shutter Island. Fora traduzido para o português como A ilha do medo. Como não sou muito chegado em filmes que suscitem reações de pavor já nas cadeiras do cinema, inicialmente refuguei. Ao ler a sinopse e ser incentivado pela minha enfermeira psiquiátrica, resolvi encará-lo. Mostra-se uma ilha, em que se trata de pessoas com desvios psíquicos, numa época pós-guerra de explosão de avnaços científicos sobre a psiquê humana. Isolados, médicos, enfermeiras, técnicos e pacientes vivem numa redoma de segurança, que só é afetada pelas forças da natureza. O enredo se desenrola sobre a figura de Teddy - ou Andrew -, policial federal - ou doente - que busca saber o que há num antigo farol, após várias peripécias pela ilha.
Antes que alguns leitores reclamem de que contei o enredo e o final, pararei por aqui. A questão que me deixou bastante perplexo foi essa: viver como um monstro ou morrer como um homem bom? Ou seja, viver com a vida criada ou com a realidade exposta? Mais: ser aquilo no que me formei pelos percalços da vida real ou voltar a si, encarando a realidade de frente? O questionário pode se fragmentar e se multiplicar, mas o anseio pela resposta não se prende à personagem que manifesta a pergunta. Joga-se para o público, uma vez que não se alimentam maiores ideias. A isso estabelece-se uma relação de causa e efeito: ser o comum é não viver o incomum adiante? Quem sabe viver o incomum seria o prenúncio de encontrar o real adiante? Abrindo-se mais possibilidade de questões, mais o que pensarmos teremos. Afinal, como já diria uma certa propaganda, "o que move o mundo não são as respostas, mas as perguntas".
Essa ideia também suscita a situação dos enfermos. Pessoas que vivem à base de psicotrópicos, terapias inumeráveis, através de situações traumatizantes às quais foram expostas. Se viver a realidade, para nós, ditos sãos, é estar sub júdice de uma sociedade que preza pelos valores cristãos e ocidentais, o que sobra para quem não consegue construir sua vida através da mesma? Ter o controle sobre suas ações, mesmo que inadaptado ao meio em que vive é uma coisa; outra, é quando não se sabe mais quem realmente se é e se cria a ilusão de um mundo no qual se busca respostas. A partir daí, a figura psiquiátrica toma forma e ação.
A maneira como vemos o mundo independe de nossa situação psicológica. Há fatos e isso não se discute. O problema surge quando não mais identificamos o que é real e o que é absurdo. Andrew Leadees sofreu pela inconsequente busca para destruir seu ego, tendo em vista o crime que cometeu. Partiu para uma busca em que nunca haveria criminosos e juízes. Encontrou apenas a ilusão de um mundo absorto e destruído, no qual lutou apenas para manter-se vivo e não permitir que suas ilusões fossem apagadas. Viveu melhor aquilo que o fazia bem, não aquilo que poderia ver.