13 de maio de 2010

Discussões acadêmicas

Durante minha última aula na UFRGS, alguns colegas levantaram questões interessantes sobre o objetivo de realizar um pós-graduação em nossa área. O que mais me admirou, no entanto, foi a fala específica de um colega que, perguntado sobre o motivo de realizar tal curso, concluiu que não sabia. Seríamos nós, pós-graduandos, formadores de um seleto grupo no país, meros promotores da profundidade de conhecimentos que são pífios ao próximo?
Lembrei de meus alunos. Geralmente, no primeiro ano, perguntam-me por que motivos estudam Literatura. Respondo de forma simples: aprofunda a consciência sobre todas as coisas. Normalmente pedem para que eu aprofunde, tendo em vista que eles acham que a Filosofia e a Sociologia fazem o mesmo. Aí eu os faço lembrar: quando lê um texto de Sociologia, por exemplo, a aplicabilidade de um conteúdo é objetiva; sendo assim, é observável o que se trata. Já a Literatura não necessariamente torna palpável aquilo que se vê nos livros. Afinal, qual a prática que há numa obra poética que trate sobre um assunto sobre o qual eu não entendo? Não se entende num determinado momento, contudo após a leitura aprofundada, que exigirá não apenas a compreensão, mas a interpretação, fará com que o elemento chegue a novos conhecimentos. Com isso, a Literatura se torna importante pelas relações sinápticas que ela promove, criando um âmbito de relações maior entre todas as coisas que nos circulam. Faz com que observemos a realidade através de novas óticas, lançando maior números de hipóteses pra justificar nossas atitudes e, por conseguinte, avaliar a do próximo para que com essa aprendamos.
Quando o colega tratou sobre não saber os porquês de o levarem ao pós, especificou a questão do reconhecimento. Realmente, não o temos. Aliás, temos muito pouco. Boa parte do povo ainda pensa que leitura é mero entretenimento. Muita gente acha que sabe Língua Portuguesa pelo simples fato de falar ou por ter uma gramática ao seu lado. Isso, infelizmente, nos desqualifica, pois nossos argumentos se perdem no senso comum. Se é alguém de área médica com uma novidade, de uma área judiciária com um nova lei ou de um novo cálculo matemático geralmente é mais bem aceito: é palpável. É observável. Quando se promove o pensamento, o povo geralmente falha, já que não é ensino a isso. Se estuda. O tecnicismo da educação brasileira desvia da reflexão seus atuais objetivos. Assim, fica difícil que alguém nos escute.
Está confirmada minha estreia na FAPA, em Outubro. Já lancei até o resumo para a coordenação. Colhi material e farei duas apresentações de PowerPoint para ilustrar tudo. E pra que isso? Por que eu não acredito na minha formação? Não, muito pelo contrário: é desse fruto que aparecem as oportunidades de crescimento. É desse estudo que avançamos e mostramos ao próximo o que somos e o que podem ser. Brota do aprofundamento dos estudos essa explicação sobre a importância da Literatura. É disso que vem o lado entusiasta, aquele que quer mostrar o diferente para os demais e identificar que podemos seguir buscando o desenvolvimento intelectual de todos. Meu objetivo é esse: quero que o próximo cresca. Se eu conseguir auxiliar, melhor ainda. Pra isso preciso de formação, algo que sustente meus pontos de vista. Vale a pena fazer a pós-graduação.

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