Há poucos dias, falei sobre minha dificuldade com leituras poéticas. Como a persistência para algumas coisas ainda me é uma virtude, resolvi tentar a leitura de A duquesa e o céu, de Sérgio Lemos. É daquelas obras que mistura a narrativa à linguagem poética, buscando uma miscigenação nem sempre favorável à leitura. Poucos são os autores que conseguem isso e, aparentemente, o finado Lemos consegue.
Como não consegui ler o livro por completo - estava no litoral, naquela situação exposta noutro post - me atenho à linguagem: a busca constante pelas rimas nunca foi a consagração de um poeta. Se fosse assim, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade seriam pouco lidos. Os autores contemporâneos não teriam vez. Alguns acho até que não tem mesmo. Mas existe gente que lê o Carpinejar. Ele rima pouco. O Luiz Coronel rima de vez em quando. Os pseudo-poetas geralmente criam rimas pobres. Para quem não lembra, a rima pobre é aquela em que tu rimas uma palavra com outra de mesma classe gramatical. É mais fácil rimar cochilar com almejar do que vento com lento. Com uma técnica mais apurada, Sérgio Lemos aproveita-se de certos pontos para a criação de rimas ricas, não ficando preso ao modelo de que se servem muitos autores.
Outra coisa interessante da narrativa poética é a construção de um ambiente subjetivo muito forte. Quando se destaca que as personagens devem se deslocar de localidade, devido a um grande problema que houve onde moravam, eles têm de subir um morro. Essa subida se dá por inúmeros percalços, que acarretarão em mortes, mas em clemência também. Como se estuda mais a linguagem do que a construção narrativa no texto, o ambiente é bastante imaginativo, fazendo com que o leitor inclua sua vivência no conteúdo da obra. A aproximação do céu, benévolo momento da passagem da vida, destaca que a saída é um final bom, feliz para quem lê. Assim, deixa-se de lado a ideia de que só os problemas fazem a vida da pessoa, e sim a redenção se tem como peça fulcral ao final da narrativa.
De textos como esses, esperamos diversos resultados. O mais provável deles é a dificuldade de leitura, pois não é fácil de lê-lo. Não basta apenas a persistência para ler o livro, entretanto a atenção e a admiração pelo estilo devem preponderar. Espero que até o fim das férias eu também entre nessa.
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