Seguindo a linha de que todos nós somos compostos pelo meio, pela família e pelas atitudes que observamos no dia a dia, lembrei de uma aluna minha que se formou no final do ano passado. Ela, negra, orgulhosa da cor - julgando-se superior aos demais devido a isso - e dona de uma personalidade extravagante e intensa, apaixonara-se por um judeu. Mantinha contatos constantes com o indivíduo, ao ponto de frequentar rituais e se divertir com isso. Atualmente, não sei a quantas anda tal envolvimento, mas é o mesmo que acontece em Louca por homem, de Cláudia Tajes.
Uma obra gostosíssima de ler, fluente, objetiva, apesar dos devaneios, e que destaca a vida de Graça, uma mulher que conta sobre seus relacionamentos desde os quinze anos de vida. O primeiro grande amor da vida dela, inclusive, é esse judeu, que faz com que ela mude de hábitos a fim de se fazer presente na vida do indivíduo. Estuda os elementos da religião, diz a ele que gostaria de se converter, mas ele é tão influenciado pela mãe que diz que a mesma não gostaria de uma gói - uma não judia - dentro de casa. Após esse pequeno envolvimento, uma série dos mesmos se sucederão: um fumante, um obsessivo-compulsivo, um vendedor de loja... Sempre tendo Graça que se converter aos gostos dos homens para se ver próxima deles.
Aí entram as articulações: toda vez que refletia sobre as manias e ideias de cada namorado, se enrolava nas mesmas e saía um pouco mais namorado do que Graça. Perdia-se um pouco o sentido da mulher e se apoiava nas características do oposto. Numa certa altura da narrativa, ela destaca que sua vida sem os homens era lecionar, preparar aulas, comprar roupas no shopping e comer costela gorda com o pai. Nada mal, eu diria, mas concordaria que faltam mais atividades a fim de que se saiba quem realmente era ela. Assim, tornava-se tão possível de ter a personalidade acuada pelas interpelações masculinas.
Não se a minha aluna seria algo como a Graça, mas não tinha muito jeito. Diferentemente dela, a estudante não leva o menor jeito para adquirir características alheias sem antes aplicá-las ao futuro namorado. Graça era uma moça comum e, de tão simplesmente assim, assumia outros dados. Talvez pela negação aos ideias familiares, o que torna as pessoas mais suscetíveis ao novo. O que importa é que o meio, a família e as ideias alheias carregaram a personalidade de Graça. Quanto à educanda, espero que tenha aprendido que várias palavras e ideias não compoem um poema se não forem bem estruturadas em nossas mentes.
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