8 de fevereiro de 2010

Inocência perdida

Já houve inúmeras produções artísticas que evocavam a ideia de que a juventude se perdera nos tempos modernos. Lembro-me do Juventude transviada. Jovens perdidos num mundo que não os compreendia. Atualmente, filmes como Meninas malvadas, Meninamá.com, Garotas selvagens despertam questões conflitivas da juventude com pais, dinheiro, drogas, popularidade, etc. Um filme muito bom que não foca apenas os jovens, mas toda uma sociedade deteriorada, é Beleza americana, com atuação excelente do Kevin Spacey, em que deseja uma amiga da filha, que por sua vez despreza a amiga, a qual se apaixona por um vizinho totalmente voltada para seu mundo e comerciante de drogas. Nenhuma das relações termina bem, tendo em vista as grandes diferenças que há entre cada pequeno universo.
Na obra Estado Jardim, de Rick Moody, esses pequenos universos se atraem pelo ponto inicial de cada um: ex-colegas de colégio, amigos por afinidade e por gosto, sem emprego, sem faculdade, drogados, complexados pela auto-mutilação de um amigo, anos antes. Alice protagoniza o início do desespero: com um humor azedo, permeada de palavrões inconsequentes, está desesperada pela morte do baterista de sua banda, a Critical Ma$$, sem trabalho ou qualquer perspectiva de vida. Sua mãe posteriormente a expulsa de casa. Ela namora com Dennis, de poucas palavras, que atura com sofreguidão o gênio de Alice. É irmão de Lane, com quem Alice quer ter um caso, mas sofre com problemas psiquiátricos. Ainda aparecem na narrativa LG, ex-guitarrista da banda de Alice, que queria novos ares pra carreira; Max, melhor amigo de Lane, instalador de cabos e drogado; além de Scarlett, mais adocicada, mas não menos enrolada com os problemas da época.
Tudo ocorre em Haledon, Nova Jersey, cidade pacata, sem muito o que fazer. A vidas personagens se tornam assim, monótonas. Com isso, a busca pelo diferente começa pelas drogas e atravessa todos os ideias presentes em cada personagem. A vontade de ter o novo, de buscar aquilo que lhes realmente faça feliz será constituído por Lane e Alice: quando ele sai do hospital psiquiátrico, resolve convidar Alice para ir a Nova York; quando chegam, Lane percebe que é o recomeço de sua vida e Alice vê suas perspectivas se transformarem: ao sair de Haledon e tomar contato com a cidade maior, pensa em oportunidades e vida nova. Tudo que ela tentara e não tinha na cidade natal.
É uma obra que desfila características presentes em todas as épocas, em todas as pessoas. Afinal, quem nunca teve dúvidas do que fazer, dentre seu leque de opções? A busca pelo novo num espectro restrito torna a vida alheia singela demais, pouco improvável, repleta de mesmices. Jovens ferforosos querem mais e, de tanto buscarem mais, partiram para aquilo que seria o não aceito, o distante: jovens de um lado, adultos de outro. E nessa complexidade de relações, descobrem que há mais coisas a serem descobertas, como já nos dissera Hamlet, em obra homônima de Shakespeare: "há mais coisas entre o céu e a terra do que  supõe nossa vã filosofia".

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