Quando era pequeno, um dos primeiros livros - que não eram necessariamente infanto-juvenis - que li foi O analista de Bagé, do Luís Fernando Veríssimo. Deveria ter uns oito ou nove anos. Não entendia muita coisa sobre as expressões utilizadas pelo analista, ou as piadinhas envolvendo os corpos e as mentes das personagens, mas ria da forma hilária com que a personagem se pronunciava. Ria sozinho. Talvez um candidato a frequentar aquele divã coberto por um pelego.
Nos últimos tempos, não o li mais. Havia visto uma crônica na Zero Hora, há alguns anos, sobre a morte da velhinha de Taubaté. Aquela famosa senhora que acreditava em tudo que os governantes prometiam e cria na mudança do país. Quando as coisas deixaram de ser promessa e viraram realidade, a velhinha morreu. Ela vivia de crenças, não de atitudes. Assim, não mais seria útil sua vida literária. Ou não seria?
Depois de muito tempo, vasculhei alguns livros mais antigos em minha biblioteca e achei A velhinha de Taubaté. Reli. Hilário. Fiquei rindo sozinho em algumas crônicas. Anexo, novas histórias do analista de Bagé. Muito boas. Relembrei da Lindaura, a famosa secretária. Os doentes sempre foram seres que traziam problemas grandiosos, mas que o analista lançava como frescura e que tinham de parar com isso. Algumas coisas até me fizeram lembrar de quando eu frequentava análise: repetições, sonolência, contudo não havia quem dissesse pra que eu acordasse. Se eu fosse ao consultório do bageense, talvez saísse "bem" na primeira consulta.
Essa objetividade de tratar com o próximo aproxima vários elos: a velhinha, agora finada, estava distanciada disso, vivendo num mundo subjetivo; já o analista, extremo oposto, não conseguia analisar o pessoal. A miscigenação desses dois seres trariam um ideal para as pessoas? É possível, ainda mais se sempre formos tratados e nos realizarmos com bom humor.
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