Enquanto a gurizada se diverte com as séries Crepúsculo, Harry Potter e derivados, mantive minha rotina de leituras voltada temporariamente para essas aventuras fantásticas. Presenças funéreas, personagens monstruosas e cenas de ação intensa fazem parte da obra A mão que cria, de Octávio Aragão.
O enredo é bastante curioso: após um colapso na Terra, uma explosão na gélida Rússia, pessoas que morrem viram zumbis, com força triplamente superior ao que tinha antes. Experimentos realizados na França desde o século XIX, a partir da abertura científica do prefeito de Paris e posterior presidente francês Julio Verne, criaram os homens-golfinho. Os humanos puros, digamos, tornaram-se meros coadjuvantes: enquanto os zumbis tentam destruir os homens, os híbridos tentam salvá-los, ainda mais para serem aceitos no meio. A obra trata sobre preconceito, ciência, relações interpessoais, além da constante ideia de se revelar tudo através de personagens distantes (?) do homem.
A intensão de refletir sobre quem é o homem através da ótica do não-humano não se observa com tanta intensidade. Há, mas em menos conflitos psicológicos ou meras reflexões, como no caso de Anax, do livro Gênesis, discutido neste blog. Aproxima-se realmente das obras mais lidas pelo público, apesar de sua profundidade não ser tão grande quanto em outras obras. Deve-se considerar, porém, que é um livro de 160 páginas, nem de perto das cerca das 3000 que os livros da J.K. Rowling somam ou os 1000 da Stephenie Meyer. Ainda assim, a observação da realidade de uma humanidade desacreditada e perdida é um dos focos do texto.
Nessa leitura, pensando um pouquinho sobre esses mais vistos pela mídia e de apelo popular, vê-se o que todos querem de um texto ficcional: que seja brusco em seu enredo, causando emoção; que contenha personagens sensíveis, para a catarse; que tenha um final apoteótico, por um lado para não pensar, por outro para afirmar suas próprias certezas. Não é nenhuma crítica contundente, pelo contrário: é o que todos desejam. Assim, a obra encaixa-se num paradigma de leitura que a promove, não sendo apenas um mero livro publicado.
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