27 de fevereiro de 2010

Por que parei por quatro meses?

Volta às aulas, volta ao futebol. Falta só voltar à natação, mas creio que semana que vem isso ocorra. Nada como um joguinho à tarde pra desenferrujar aquele corpo que há meses pedia uma atividade física mais intensa. Cansei cedo, talvez antes da primeira hora. Também, pudera: a gurizada corre muito.
A última vez que joguei futebol fora há quatro meses, com o mesmo grupo. Provavelmente alguns praticaram durante janeiro e fevereiro. Eu pratiquei arremesso de salgadinho ao alvo e halterocopismo natural. Afinal, há o halterocopismo alcoólico. Pizza, sanduíches, xis; massas, bolos, muito arroz, pouca salada; carnes, muitas e variadas carnes. Por isso que a gula é pecado capital: é muito bom comer. Ainda mais quando não se engorda muito!
Enfim, jogamos. Nenhum gol, lamentavelmente. Falta de pontaria aguçada. Alguns bons momentos como goleiro. Isso me lembra como era no colégio. Jogava no gol por não ter muita habilidade com os pés. Depois veio a miopia e isso acabou. Com a bola nos pés, lembro que fui vice-goleador do Coqueiros FC em 1999, atrás do Manera, com uns 20 gols, pelo campeonato do Sévigné. Acho que terminamos a competição em ante-penúltimos. Tudo bem que o Coqueiros não fosse a maior glória do futebol mundial, mas foi uma alegria naquela época - tanta que os abobados preparavam contratos para trazer os colegas para o time. Pasmem.
Hoje eu não lembro o jogador do Coqueiros. Não corro tanto, já que não me preparo; não faço muitos gols, já que não é minha principal predileção; já não defendo como antes, pois são 13 anos usando óculos, apenas aumentando o grau. De qualquer forma, não se substitui a vontade de jogar. Os quatro meses parado e as possíveis dores que aparecerão não são nada perto da vontade de ser útil a um time e levá-lo à vitória.

26 de fevereiro de 2010

Mistérios

Escuto que, há cerca de 1h ou 1h30, foi assassinado em Porto Alegre o secretário municipal da saúde da capital, Eliseu Santos. Uma comoção no meio da política, da medicina. Várias pessoas, como o deputado Cherini, o Dr. Goulart, entre outros, falam com pesar sobre o ocorrido.
Sete tiros. Cinco no corpo do finado Eliseu. As rádios anunciam como fato importante, com relevância. E o tem, mesmo sabendo que há o mesmo caso com inúmeros cidadãos perdidos em vilas e tocas da cidade, de quem mal se sabe o nome ou a procedência. Este caso, no entanto, me remete ao caso Becker: um médico morre assassinado a tiros no bairro Floresta. O mesmo local onde morreu o Eliseu. Seria um mero acaso? Eliseu também era médico, também lidava com as questões de saúde da cidade. Becker foi presidente do Cremers. Cargos importantes, em nome da saúde. É estranho e ao mesmo tempo curioso que esse fato tenha ocorrido, ainda mais porque há pouco tempo falavam novamente no caso do médico Becker. Caso complicado...
Esse crime me remeteu àquela obra que li nas férias, Gangsters!. Crimes que aparentemente não esboçam aproximação passam a sê-lo devido a como os assassinos chegaram às vítimas. Infelizmente não há como sabermos o que houve antes da morte deles, pois, como pessoas públicas, zelam pelo particular ao extremo. Reinará o mistério durante algum tempo, até que tenhamos algum tipo de prova, mas prova real, sobre ambos crimes.

25 de fevereiro de 2010

Das discussões: processo de conscientização

Acho que hoje houve uma das melhores aulas de estreia de disciplina que já tive. Numa turma que parecia um tanto apática no primeiro dia a uma série de ideias diferentes e relevantes sobre temas contemporâneos, apresentei um pouquinho do que deve ser a argumentação e as posições críticas a serem criadas por cada educando.
Dentre os temas levantados, naturalmente o das drogas ocorreu. Naturalmente, pois é ao menos tempo tão constante a bomba de informações a respeito e tão fugaz o quanto pensamos nisso. De qualquer forma, vários elementos presentes abriram a boca pra falar coisas interessantíssimas: de quem é a culpa? Que faz alguém se drogar? Por que não cai fora? Há tranquilidade num meio de tráfico? As respostas dificilmente eram dadas, pois ainda falta bastante base pra chegar às conclusões, contudo a vontade de expor ideias e a compreensão daquilo que se tinha em mãos foi o mais divertido de perceber.
Talvez a própria vontade de falar seja um aspecto que os leve a penetrar nesse processo de conscientização: se eu falo, alguém - teoricamente - me escuta; logo, reflito, através da compreensão dos fatos, para chegar à conclusão; assim, quero expor o que penso. Um sistema cíclico, mas possível e rentável para cada um. Se todos os meus alunos chegarem a tal processo, já me sentirei realizado. Espero que não pensem que tudo se tornará tão fácil ao ponto de deixar de lado esses pensamentos e se preocupar com o nível de dificuldade a mais que quererão enfrentar.

23 de fevereiro de 2010

Reestreia

Hoje ainda não me saiu da cabeça uma música do Dragonfly, Angeles de una sola ala. É uma das músicas que passam na apresentação do vídeo das disciplinas de Português e Literatura que preparei para a gurizada da escola e pros seus pais. É o reinício das atividades escolares em pauta.
Depois de bem aproveitados 55 dias de folga, as aulas recomeçaram hoje. Um pouco de ansiedade, confesso, que sempre me deixa com uma leve dor de barriga - derivada da gloriosa gastrointeroculite que me persegue -, mas com vontade de trabalhar, como de costume. Mesmo sem o Rosário esse ano, a expectativa é de grandes atividades, dotadas de bastante aprendizado, seja por parte deles e pela minha também, afinal, o conhecimento é construído de forma conjunta, não unilateralmente. De volta ao centro de tudo.
Quando entrei na 301, me perguntaram qual era a expectativa para a turma deles. Realmente é uma boa expectativa, pois acho que lá tem valores que podem ser cristalizados de um jeito que saiam da escola com conhecimento universal. Ou seja, não apenas aquilo que se media em sala de aula, mas o quanto se cresce nas relações interpessoais e na realização de cada um. Depois fiquei pensando: "justamente pro terceiro ano eu disse aquilo..." - Aparentemente, nenhum problema; contudo, se aprofundarmos um pouquinho a questão, relembraremos que é difícil uma turma de terceiro ano não ter dificuldades, tendo em vista que o último ano é tido como o que não reprova e coisas do gênero. Sabemos que isso não é verdade, rodam sim, só devem estar preparados: terminar a escola não é uma simples caminhada, mas um desviar de percalços ao ponto de chegar ao objetivo traçado. Espero que se deem conta disso.
No mais, aguarda-se turmas muito boas. A antagonia entre o silêncio da 102 e o falatório da 201 - tal como a inversão numérica - marca a diferenciação de cada estilo. Tomara que as adaptações não demorem e consigamos realizar um bom ano de estudos.

22 de fevereiro de 2010

Moor Green IV

A melhor temporada do Moor Green. A temporada 2009-2010 foi absolutamente fantástica para a equipe. As dificuldades encontradas anteriormente pareceram desfalecer e trazer novos rumos à equipe. A montagem do time passou por dificuldades, tendo em vista que pareceu mais perder jogadores de qualidade do que agregar. Keneth Thygersen, por exemplo, atleta de respeitáveis atuações pelo clube em duas temporadas, acabou se desligando. Surgiram Jay Tabb, Brian Howard, Emiliano Vecchio, reservas de seus times, que resolveram dar conta do recado.
O primeiro grande feito foi um vice-campeonato. Há quem despreza esse status, mas eu não: vice-campeões da Copa da Liga Inglesa, com um time da terceira divisão, não seria tarefa fácil. Pois foi o que aconteceu. Atropelando alguns rivais, o Moor Green enfrentou grandes adversários: Leeds, Newcastle, Liverpool na final. Contra o Leeds, nas quartas-de-final, muita dificuldade: 3 a 3 no primeiro jogo, 1 a 1 no segundo e decisão por pênaltes. Vitória de 4 a 2. Incrível, suada. Já contra o Newcastle, na semi, não pareceu tão impossível assim: vitória fora de casa por 2 a 1 e empate em 1 a 1 no Damson Park. Lotado, cerca de 14 mil torcedores. Para os padrões do meu time, uma loucura. Na final, em Wembley, por pouco a taça não ficou em nosso armário: vitória de 1 a 0 do Liverpool, com gol ao final do jogo. Um balde de água fria. Ao menos foi uma derrota para um adversário que se importou bastante com nossa equipe - inclusive compraram dois dos principais jogadores, Richard Scott e Danny Davidson, por uma soma astronômica. Encheram meus cofres e pude ir atrás de diversos jogadores novos.
Outro grande lance foi vencer a Johnstone Trophy. Foi um baita título, ainda mais que na final enfrentou-se o Scunthorpe United, time favorito, mas com produção inferior ao Moor Green. O título ascendeu a equipe e, pra variar, alguns atletas acharam que sair de Solihull seria o melhor. Nada que abatesse. Alguns medalhões vieram à equipe para auxiliá-la na subida à Coca-Cola Championship, a nossa Série B: Jens Nowotny, experiente zagueiro, ex-jogador da seleção alemã. Média acima de 8, no geral. Marciej Zurawski, médio-atacante polaco que, mesmo não tendo grandes atuações, salvou a equipe em pelo menos duas partidas. Somado ao goleiro Kevin Riley, recuperado das falhas do ano anterior, e da descoberta do atacante Caj Ainasoja, um finlandês trazido do Tampere United, o primeiro lugar da principal competição fora atingido. A única mácula - caso se possa falar assim -, foi a derrota para o Manchester United na FA Cup. Foi um 2 a 0 bem ruim. Pressão constante, sem possibilidade sequer de contrataque. Acontece.
A nova teporada já está por começar. Moor Green trouxe reforços de nome, além de vários de qualidade. Aumentou-se bastante o elenco, em vista de vencer novamente as competições de juniores e reservas, realizadas também em 2010. O êxito bate à porta. Tanto é assim que o modesto manager foi convidado a treinar a seleção da Nigéria. E aceitou, claro.

21 de fevereiro de 2010

Leituras da velhinha finada

Quando era pequeno, um dos primeiros livros - que não eram necessariamente infanto-juvenis - que li foi O analista de Bagé, do Luís Fernando Veríssimo. Deveria ter uns oito ou nove anos. Não entendia muita coisa sobre as expressões utilizadas pelo analista, ou as piadinhas envolvendo os corpos e as mentes das personagens, mas ria da forma hilária com que a personagem se pronunciava. Ria sozinho. Talvez um candidato a frequentar aquele divã coberto por um pelego.
Nos últimos tempos, não o li mais. Havia visto uma crônica na Zero Hora, há alguns anos, sobre a morte da velhinha de Taubaté. Aquela famosa senhora que acreditava em tudo que os governantes prometiam e cria na mudança do país. Quando as coisas deixaram de ser promessa e viraram realidade, a velhinha morreu. Ela vivia de crenças, não de atitudes. Assim, não mais seria útil sua vida literária. Ou não seria?
Depois de muito tempo, vasculhei alguns livros mais antigos em minha biblioteca e achei A velhinha de Taubaté. Reli. Hilário. Fiquei rindo sozinho em algumas crônicas. Anexo, novas histórias do analista de Bagé. Muito boas. Relembrei da Lindaura, a famosa secretária. Os doentes sempre foram seres que traziam problemas grandiosos, mas que o analista lançava como frescura e que tinham de parar com isso. Algumas coisas até me fizeram lembrar de quando eu frequentava análise: repetições, sonolência, contudo não havia quem dissesse pra que eu acordasse. Se eu fosse ao consultório do bageense, talvez saísse "bem" na primeira consulta.
Essa objetividade de tratar com o próximo aproxima vários elos: a velhinha, agora finada, estava distanciada disso, vivendo num mundo subjetivo; já o analista, extremo oposto, não conseguia analisar o pessoal. A miscigenação desses dois seres trariam um ideal para as pessoas? É possível, ainda mais se sempre formos tratados e nos realizarmos com bom humor.

20 de fevereiro de 2010

Carro novo

Tem horas que realmente precisamos de algumas mudanças. Buscar o novo, seja em atitudes ou em bens ou em gostos. A transitoriedade faz parte da vida do homem, mesmo que muitas vezes ele não seja capaz de perceber isso.
Há dois anos, resolvi que teria de comprar um carro. Minha mãe queria que comprasse o dela, mas aquela sensação de que nunca seria meu preponderou. Era o carro da mãe, sempre seria o da mãe: não tivera meu dedo na escolha. Eis então que botei meu dedo podre pra funcionar: somando isso a um empurrãozinho da Bibi, comprei meu glorioso Azulzinho, o Peugeot 106.
Até aí, ótimo; O problema foi depois: diversos barulhos que nunca ouvira, várias idas a mecânicos já com previsão de volta. Falta de grana pra pagar seguro, pra investir em reais melhoras. Tudo relativamente mudou ao final do ano passado: com a saída do Rosário, pude quitar o carro e ainda aplicar algumas boas mudanças nele. Bastante grana investida.
Naturalmente, as coisas não foram como pensado. Outros problemas apareceram. O ar-condicionado estragou. A lataria está feia. Resolução: anunciar o veículo. Amanhã estará na ZH; hoje, no Diário Gaúcho. Aquele que ver o assunto, não o achará ruim: ar-quente, ar-condiconado (mesmo estragado, mas como é pouco pra consertar, vai no anúncio), travas e vidros elétricos, limpador e desembaçador traseiro, alarme com interface, cd com mp3 (mesmo ainda não sabendo se ficarei com ele - mas se a proposta for boa, vendo e compro outro) e o IPVA 2010 pago. Por uma bagatela de R$ 12,5 mil. Como sou uma pessoa bem legal, aceitarei contraproposta. Espero que das boas, naturalmente.
De qualquer forma, me adiantei um pouco. Se não houver comprador que queira levar meu Azulzinho, já providenciei um novo, dando meu carro de entrada. Um Ka 2010. Novinho. Vem com algumas coisas que meu velhinho já tem, pra não perder o costume: ar-quente, vidros e travas elétricas, alarme com interface, limpador e desembaçador traseiro. Só que esse vai me sair bem caro. Terei realmente de ver outro emprego pra noite.
Mudanças são necessárias, ainda mais quando estamos insatisfeitos com aquilo que já é comum. Tomara que essa seja uma mudança positiva, pois viver investindo em algo que, se sabe, o retorno não será útil, não é mais possível de se aguentar. Ainda mais agora, que a Freeway deve aumentar o limite de velocidade pra 120 Km/h. Com o velhinho, chegar nessa velocidade seria pedir um guincho; com o novo, espero chegar vivo.

19 de fevereiro de 2010

Narrativa poética

Há poucos dias, falei sobre minha dificuldade com leituras poéticas. Como a persistência para algumas coisas ainda me é uma virtude, resolvi tentar a leitura de A duquesa e o céu, de Sérgio Lemos. É daquelas obras que mistura a narrativa à linguagem poética, buscando uma miscigenação nem sempre favorável à leitura. Poucos são os autores que conseguem isso e, aparentemente, o finado Lemos consegue.
Como não consegui ler o livro por completo - estava no litoral, naquela situação exposta noutro post - me atenho à linguagem: a busca constante pelas rimas nunca foi a consagração de um poeta. Se fosse assim, Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade seriam pouco lidos. Os autores contemporâneos não teriam vez. Alguns acho até que não tem mesmo. Mas existe gente que lê o Carpinejar. Ele rima pouco. O Luiz Coronel rima de vez em quando. Os pseudo-poetas geralmente criam rimas pobres. Para quem não lembra, a rima pobre é aquela em que tu rimas uma palavra com outra de mesma classe gramatical. É mais fácil rimar cochilar com almejar do que vento com lento. Com uma técnica mais apurada, Sérgio Lemos aproveita-se de certos pontos para a criação de rimas ricas, não ficando preso ao modelo de que se servem muitos autores.
Outra coisa interessante da narrativa poética é a construção de um ambiente subjetivo muito forte. Quando se destaca que as personagens devem se deslocar de localidade, devido a um grande problema que houve onde moravam, eles têm de subir um morro. Essa subida se dá por inúmeros percalços, que acarretarão em mortes, mas em clemência também. Como se estuda mais a linguagem do que a construção narrativa no texto, o ambiente é bastante imaginativo, fazendo com que o leitor inclua sua vivência no conteúdo da obra. A aproximação do céu, benévolo momento da passagem da vida, destaca que a saída é um final bom, feliz para quem lê. Assim, deixa-se de lado a ideia de que só os problemas fazem a vida da pessoa, e sim a redenção se tem como peça fulcral ao final da narrativa.
De textos como esses, esperamos diversos resultados. O mais provável deles é a dificuldade de leitura, pois não é fácil de lê-lo. Não basta apenas a persistência para ler o livro, entretanto a atenção e a admiração pelo estilo devem preponderar. Espero que até o fim das férias eu também entre nessa.

18 de fevereiro de 2010

Na onda das aventuras fantásticas

Enquanto a gurizada se diverte com as séries Crepúsculo, Harry Potter e derivados, mantive minha rotina de leituras voltada temporariamente para essas aventuras fantásticas. Presenças funéreas, personagens monstruosas e cenas de ação intensa fazem parte da obra A mão que cria, de Octávio Aragão.
O enredo é bastante curioso: após um colapso na Terra, uma explosão na gélida Rússia, pessoas que morrem viram zumbis, com força triplamente superior ao que tinha antes. Experimentos realizados na França desde o século XIX, a partir da abertura científica do prefeito de Paris e posterior presidente francês Julio Verne, criaram os homens-golfinho. Os humanos puros, digamos, tornaram-se meros coadjuvantes: enquanto os zumbis tentam destruir os homens, os híbridos tentam salvá-los, ainda mais para serem aceitos no meio. A obra trata sobre preconceito, ciência, relações interpessoais, além da constante ideia de se revelar tudo através de personagens distantes (?) do homem.
A intensão de refletir sobre quem é o homem através da ótica do não-humano não se observa com tanta intensidade. Há, mas em menos conflitos psicológicos ou meras reflexões, como no caso de Anax, do livro Gênesis, discutido neste blog. Aproxima-se realmente das obras mais lidas pelo público, apesar de sua profundidade não ser tão grande quanto em outras obras. Deve-se considerar, porém, que é um livro de 160 páginas, nem de perto das cerca das 3000 que os livros da J.K. Rowling somam ou os 1000 da Stephenie Meyer. Ainda assim, a observação da realidade de uma humanidade desacreditada e perdida é um dos focos do texto.
Nessa leitura, pensando um pouquinho sobre esses mais vistos pela mídia e de apelo popular, vê-se o que todos querem de um texto ficcional: que seja brusco em seu enredo, causando emoção; que contenha personagens sensíveis, para a catarse; que tenha um final apoteótico, por um lado para não pensar, por outro para afirmar suas próprias certezas. Não é nenhuma crítica contundente, pelo contrário: é o que todos desejam. Assim, a obra encaixa-se num paradigma de leitura que a promove, não sendo apenas um mero livro publicado.

17 de fevereiro de 2010

Moor Green III

A temporada 2008-2009 do Moor Green foi repleta de altos e baixos. Da precoce desclassificação da taça Johanstone - disputada por times da Coca-Cola League One e Two - à péssima exibição frente ao Millwall e derrota por 5 a 0, o clube passou por reformulações na metade da temporada. Diversos jogadores tiveram de ser negociados, como o Darren Middleton, que pedia incessantemente uma saída para clube maior, e outros trazidos, como o caso do experiente Amoroso, aquele mesmo que tentou jogar no Grêmio. Aos trancos e barrancos, ainda assim, o clube se consagrou campeão da League Two.
O primeiro turno, como já visto, foi cheio de percalços. Alguns poucos jogadores se salvaram, como o Michael Richardson, o Danny Davidson ou o Lee Ayres. Nem o Kevin Riley, goleiro que ganhou sua primeira convocação nessa temporada, se livrou. Contratei o Mauro, então jogador do São Caetano, mas de dupla cidadania, que, quando jogou, não deixou a desejar. Hoje, desperta interesse do Wolfsburg. O grande astro do time, que custou R$ 12 milhões aos cofres do clube, Misimovic, se lesionou durante uma partida do início da temporada e ficou quatro meses afastado. Quando voltou, cumpriu à regra o esperado. O problema é que, ao final, quis ser vendido. Aí veio um clube como o Charlton e pagou cerca de R$ 20 milhões pelo cidadão. Bom negócio.
A grande revelação, no entanto, foi o aproveitamento do meia Giuliano, esse que hoje joga no Inter. Como o jogo é de 2007, ele saiu do Paraná direto para meu clube. Jogou mal as três primeiras partidas, mas depois foi se firmando. Terminou a temporada passada marcando gols e ganhando até o prêmio de melhor jogador do mês de março. A equipe marcou bem menos gols que nas outras temporadas, mas conseguiu o objetivo do ano: uma nova promoção.
A emporada 2009-2010 promete ser excelente. Já há diversos novos contratos realizados, como a vinda do centroavante Chris Brown, do Southampton, e do meia argentino Emanuel Vecchio, do Boca. Tomara que o êxito obtido nesse ano seja ampliado para o próximo.

Da última ida

Agora, em definitivo, em Porto Alegre. Nada mais de praia, calorão insuportável regado à agua e caminhada na areia ou banho de mar. Aqualokos. Chuva de verão. Chega. Hora de retomar a vida e recomeçar os trabalhos. Na semana que vem.
Levei três livros para a praia, com objetivo de ler dois. Consegui ler um só. Além do grande número de pessoas dentro da casa - causa-me grande desconforto, junto à desconcentração -, o calor dos primeiros dias era insuportável, mal permitindo dormir direito. Falares altos, calor, senta-e-levanta da comida. Acabou. Chega, por enquanto.
Li A mão que cria. Há horas pretendia lê-lo. Merecerá uma postagem especial dentro de pouco tempo. Hoje quero falar da despedida: carnaval, saída em bloco apenas pra vê-lo, ida ao parque aquático para deleite geral, péssimas partidas de canastra, com saldo de 25% de aproveitamento apenas, muito adiantamento com o glorioso Moor Green. Dessa vez, sem banho de mar. Ida à I Feira do Livro de Atlântida Sul, com participação especial de Humberto Gessinger. Não consegui vê-lo. Estava comendo um xis na Bruxa, com a Bibi e o Júnior. Gessinger foi meu primeiro real ídolo da adolescência, quando escutava os cds do Engenheiros antes de pegar num sono profundo, ao chegar da escola. Queria comprar o livro dele, mas quando vi que custava R$ 40 por lá, logo abandonei a ideia. Logo agora que descobri livros por R$ 2 e que a Submarino.com.br está vendendo quase tudo da loja a R$ 10. Loucura!
Enfim, a partir da semana que vem recomeço meus trabalhos escolares. Menos trabalhos, aliás. Espero que o Rosário não me faça tanta falta quanto estou esperando. As noites não serão as mesmas sem aquele povo divertido. E sem aquele salário mais ou menos. Quem sabe logo as coisas se ajeitam? Apesar disso, 2010 promete novas e divertidas emoções.

12 de fevereiro de 2010

Moor Green II

A segunda temporada no Moor Green não foi tão eficaz quanto a primeira. Felizmente, novamente fora obtido o êxito da primeira colocação na liga, a National Conference, garantindo acesso à Coca-Cola League Two. O grande problema foi a derrota nas semi-finais da FA Trophy, título que desejava manter em casa. Aí apareceu um Rushden & Diamonds louco pra ganhar e acabou fazendo 3 a 2 no meu time, no fim do jogo. Tudo bem, participaremos de outros eventos a partir dessa temporada. Na FA Cup, o êxito do Moor Green também foi menor: eliminados por 1 a 0 pelo Colchester, da primeira divisão. Não cheguei a enfrentar times da Premiership dessa vez. Creio que agora não faltará oportunidades.
Alguns destaques da equipe foram embora, devido às pressões exercidas por eles mesmos, por acharem que mereciam um time melhor. Foi assim com o jogador que teve a melhor média do campeonato, David Bridgwater, que achou melhor vestir a camisa do Middlesbrough do que a minha por mais uma temporada. Isso que renovei o contrato dele seis meses antes, do jeito que queria. Na primeira temporada, foi o mesmo que aconteceu com o Darren Middleton, que acabou na reserva do Portsmouth. Vendi-o por R$ 3,75 milhões. Fui atrás dele e o "repatriei" por R$ 3,5 milhões. Lucro, até. O problema é a pedida salarial: como já era um jogador da Premier, reduziu o salário em 30%, mas ainda assim passou da marca dos R$ 100 mil por mês. E pensar que a maioria dos meus recebiam menos de R$ 10 mil.
Os brasileiros tiveram atuações não muito convincentes. Luther, André e Zanol, os zagueiros que trouxe de Caxias (um do Caxias e dois do Juventude), tiveram atuações um tanto limitadas. Foram vendidos. Quem ficou bem foi o Daniel Henz, que trouxe sem custos do Inter, e caiu nas graças da torcida. Ele e o famoso Éder Lazzari, mas desse recebi uma proposta de R$ 3 milhões do Preston e fui obrigado a vendê-lo. Assim trouxe um renegado da Premier, o bósnio Misimovic.
Meu time tem uma categoria de base muito boa. Fomos campeões do campeonato de reservas e do Sub18. Isso me trouxe dificuldades para manter certos atletas. Acabei vendendo o Andy Perry e o Phil Trainer. Propostas muito boas. Em conpensação, vi revelado no campeonato o Danny Davidson, duas vezes eleito craque jovem do mês, e confirmei os já testados Pantelidis, grego que joga na meia e no ataque, e Krishna Murthy, um jogador jovem da Singapura, de dupla nacionalidade. Todos titulares na próxima temporada. Assim, subi para a equipe principal quatro atletas que farão parte da equipe na nova divisão.
Se eu fosse o John Grisham, já pegava essas historinhas e começava a montar um livro sobre elas. Não seria nada mal, só custaria tempo. Seria muito divertido.

Obs.: Estarei no litoral até a próxima quarta; portanto, sem postagens. Bom carnaval!

11 de fevereiro de 2010

Monstro tímido

Dessa última passagem pelo litoral, uma das leituras que me restou foi A timidez do monstro, de Paulo Scott. Um mundo de ideias simples, configuradas sobre poemas curtos em sua maioria, mas não menos profundos. Dá para qualificar como uma obra de profundidade simples, bastante intimista, subjetiva, mas de compreensão não menos importante.
Isso, porém, me fez novamente desvelar meu anti-gosto por poesia contemporânea. Acho que sou parnasiano e não sei. O poema não precisa ter métrica plenamente estudada pra ser um poema, bastando que sua produção, dentro do sistema inserido de construção, traga representações aos leitores. Por isso que os poemas concretistas da metade final do século passado tiveram suas produções bastante estudadas. Distantes da ideia comum de produção textual, os concretistas batalharam por uma poema que envolvesse texto e imagem, causando suas catarses necessárias.
Não gosto da produção concretista, contudo. Comprei o livro de um autor português, chamado E.M. de Melo Castro, intitulada Antologia efémera. O autor transluce de uma poesia escrita para uma imagética, ferando significados aparentemente bem diferentes das primeiras produções. O que parece um neossimbolista torna-se um concretista monstruoso. Só não me decide por qual vértice: se pela grande construção textual ou pela falta de inteligibilidade de alguns textos.
De qualquer forma, gosto de lecionar poemas pela profundidade de significados contidos. Que confuso. Talvez haja em mim um monstro poético tímido, que não aflorou. Afinal, a timidez do monstro não se prende apenas à falta de expressões que ele tenha, mas à incapacidade de identificar aquilo que lhe pode ser o melhor.

10 de fevereiro de 2010

Moor Green

No início do blog, pulbiquei algo sobre narrativas de videogames. Nessa oportunidade, falei sobre o Rumo ao Estrelato, que é uma opção possível do jogo Pro Evolution Soccer, a partir da versão 2009. A narrativa se embasa na criação de um jogador, que será contratado por algum clube e montará sua carreira.
Diferentemente disso, meu maior vínculo é pelo Football Manager. Como, infelizmente, meus computadores não suportam versões mais atuais, jogo o de 2007. Maldita hora que esses caras resolveram programar os jogos com gráficos em 3D. Eu já gostava do mais simples, no qual apenas aparecia por escrito o jogo - dando maior sentido de ficção e literariedade a ele. Enfim, agora uso apenas os simples.
Nessa vez, resolvi começar o campeonato que mais gosto, que é o inglês. Não por ser o que contenha os melhores jogos ou os melhores times, mas por haver mais divisões inferiores. São seis. A primeira divisão se chama Barcley's Primier; a segunda, a terceira e a quarta, chamam-se respectivamente Coca-Cola Championshop, Coca-Cola League One e Coca-Cola League Two; a quinta divisão é a National Conference e a última se divide em duas: Conference North e South. Até aí, nada demais. Se não fosse minha avassaladora vontade de levar os pequeninos times à gloriosa Barcley's...
Peguei um time pequeníssimo, chamado Moor Green. Fiz uma busca no Google, pra conhecer um pouco mais da equipe. Pra meu desconsolo, descobri que ela foi extinta, na verdade somada à arquirrival, formando um novo clube. Tudo bem. Agora comando um time para entrar pra história, literalmente. Em minha primeira divisão, como técnico da equipe, alcançamos voos bastante longínquos: primeira colocação na Conference North, garantindo acesso à National Conference - na qual atualmente estamos em 2º. Vencemos a FA Trophy, disputada apenas por equipes da Conference, eliminando quatro adversários de divisões superiores. Um grande feito também foi ter elimnado o Hull City e o Brighton, da Coca-Cola Championship e da League One, respectivamente. Infelizmente fomos eliminados pelo Aston Villa, mas com margem mínima. Com o avanço da temporada, saímos do estatus de clube semi-profissional para o profissional, possibilitando melhores contratos e possibilidades melhores de trabalho. Assim, consegui carregar oito jogadores brasileiros de dupla nacionalidade para o time, auxiliando na aventura rumo à League Two.
Pela breve descrição, vê-se como é possível montar uma narrativa através de jogos. Basta tentar. Independentemente do êxito que o cidadão tenha no jogo, é possível criar um ambiente altamente verossímil e dar margem aos mais diversos pensamentos e discussões para, enfim, provocar a catarse nos seus leitores. E nos jogadores também.

Articulações de personalidade

Seguindo a linha de que todos nós somos compostos pelo meio, pela família e pelas atitudes que observamos no dia a dia, lembrei de uma aluna minha que se formou no final do ano passado. Ela, negra, orgulhosa da cor - julgando-se superior aos demais devido a isso - e dona de uma personalidade extravagante e intensa, apaixonara-se por um judeu. Mantinha contatos constantes com o indivíduo, ao ponto de frequentar rituais e se divertir com isso. Atualmente, não sei a quantas anda tal envolvimento, mas é o mesmo que acontece em Louca por homem, de Cláudia Tajes.
Uma obra gostosíssima de ler, fluente, objetiva, apesar dos devaneios, e que destaca a vida de Graça, uma mulher que conta sobre seus relacionamentos desde os quinze anos de vida. O primeiro grande amor da vida dela, inclusive, é esse judeu, que faz com que ela mude de hábitos a fim de se fazer presente na vida do indivíduo. Estuda os elementos da religião, diz a ele que gostaria de se converter, mas ele é tão influenciado pela mãe que diz que a mesma não gostaria de uma gói - uma não judia - dentro de casa. Após esse pequeno envolvimento, uma série dos mesmos se sucederão: um fumante, um obsessivo-compulsivo, um vendedor de loja... Sempre tendo Graça que se converter aos gostos dos homens para se ver próxima deles.
Aí entram as articulações: toda vez que refletia sobre as manias e ideias de cada namorado, se enrolava nas mesmas e saía um pouco mais namorado do que Graça. Perdia-se um pouco o sentido da mulher e se apoiava nas características do oposto. Numa certa altura da narrativa, ela destaca que sua vida sem os homens era lecionar, preparar aulas, comprar roupas no shopping e comer costela gorda com o pai. Nada mal, eu diria, mas concordaria que faltam mais atividades a fim de que se saiba quem realmente era ela. Assim, tornava-se tão possível de ter a personalidade acuada pelas interpelações masculinas.
Não se a minha aluna seria algo como a Graça, mas não tinha muito jeito. Diferentemente dela, a estudante não leva o menor jeito para adquirir características alheias sem antes aplicá-las ao futuro namorado. Graça era uma moça comum e, de tão simplesmente assim, assumia outros dados. Talvez pela negação aos ideias familiares, o que torna as pessoas mais suscetíveis ao novo. O que importa é que o meio, a família e as ideias alheias carregaram a personalidade de Graça. Quanto à educanda, espero que tenha aprendido que várias palavras e ideias não compoem um poema se não forem bem estruturadas em nossas mentes.

9 de fevereiro de 2010

Das extravagâncias da moda

Com essa, eu entro pro hall dos detentores da ideia "tô feio, mas tô na moda":

Dentes separados tomam conta dos editoriais de moda

Ter, 09 Fev, 05h57
Por Redação Yahoo! Brasil

Depois das gordinhas e das baixinhas, um novo padrão de beleza fora do que se costuma ver no mundo fashion está ganhando destaque. São as modelos com dentes separados, que estão tomando conta dos editoriais de moda. Os dentistas que se cuidem.
A new face Lindsey Wixson, de apenas 15 anos e menos de um ano de carreira, é a nova menina de dentes separados do momento. Ela está entre as "sete modelos que vão dar o que falar em 2010", segundo o blog da jornalista Lilian Pacce, e parece que já começou. Em janeiro, a Prada divulgou a primeira foto da nova campanha, mas a expectativa de quem seria escolhida para o casting primavera-verão não acabou. A foto aparece com apenas a metade do rosto da modelo, mas tudo indica que é o de Wixson, atual queridinha de Miuccia Prada. Em setembro de 2009, ela abriu o desfile mais aguardado de Milão, desbancando Sasha Pivovarova e Yme Stiekema. [...]

Se não fosse um dentista me dizer que ando com bruxismo afetando minha mordedura, desfrutaria dessa tendência com o maior prazer.

Dama de vermelho sobre fundo cinza

Obras feitas através de relatos são, pra mim, algumas das que mais se aproximam dos movediços conceitos de Literatura que encontramos. Textos como os de Antônio Carlos Resende, por exemplo, são muito bons, nesse sentido. Lembro quando li Magra, mas não muito, as pernas sólidas, morena, lá em 2005, pra uma disciplina da especialização em Literatura Brasileira: a professora me elogiou pela escolha, ainda mais porque ela estava em Cachoeira do Sul na época em que se falava dos tais acontecimentos. Foi uma síntese dada pelo então juiz de direito, José Paulo Bisol. Falava sobre um caso de um mísero budegueiro de estrada que se apaixonou por uma mulher esplendorosa. O simples budegueiro foi na casa da mulher entregar o rancho e deu uma "cantada" nela, fazendo com que a mulher colocasse um processo em cima dele.
Agora, li Dama de vermelho sobre fundo cinza. O escritor espanhol Miguel Delibes revela a inconstância de um artista através da doença da esposa, um tumor num nervo ótico o faz revelar toda sua dificuldade em produzir suas obras. Um cidadão mais apaixonado que lesse o texto diria que a motivação para as produções era o amor que surtia pela esposa. Em verdade, o narrador admite isso, quando, quase ao fim da vida, ela lhe pergunta se os anjos não mais desceram para o auxiliar nos quadros, o que o faz desatinar em choro e lhe dizer que era ela sua inspiração. Perde-se o narrador ao admitir, no início da obra, sua difícil capacidade de concentração para fazer algo. Ele tem lapsos de criação, ou seja, num determinado momento se sentia apto a pintar as telas e corria para seu pequeno estúdio. Após ganhar dinheiro com as obras e ser convidado a participar de uma alta instituição de belas-artes, reforma a casa e o estúdio que lhe é feito, de tão organizado, perde sua essência; por conseguinte, sua fluidez em criar. Ao morrer a amada, julga que teria sido melhor, pois sua aparência nunca mais seria a mesma. Como o texto se volta várias vezes para a questão estética, envolvendo a pintura e a beleza humana, é como se o criador não conseguisse realizar nada que suprisse a beleza da mulher, tendo ela como protótipo de perfeição.
Algumas discussões podem ser levantadas em torno disso, mas creio que a principal seja a perda da identidade. A dama de vermelho era sua esposa, pintada por outro artista, que deixava o narrador com muito ciúme. Suas obras não valiam, seu trabalho não valia, se não tivesse o aval da esposa. Toda ela era seu foco, onipresente. Essa fixação constante faz com que seu relato seja, além de parcial, um retrato da falta de ação do homem ao se envolver com tal mulher. O amor desenfreado desefreou o ser-narrador, desmontou-o e criou um ser-esposa. Voltado a ela, não podia realizar ações que se voltassem a si, simplesmente. Por isso, possivelmente, que no final ele diga que talvez tenha sido melhor sua partida. Confirmando isso, certamente o seria, pois voltaria à individualidade, não um ser isolado do mundo, mas voltaria a ser quem sempre fora.
É curioso como a arte se envolve com isso, tendo em vista que essa é a expressão da intimidade, do individual. Se ela não aparece, seria pela prisão ao outro, no caso da obra. E quando nós não avançamos, seria em relação a quê? Ter-se-ia de procurar uma explicação voltando-se para si mesmo, a fim de descobrir o que nos compõe, explicando nossas realizações - e a falta delas também.

8 de fevereiro de 2010

Inocência perdida

Já houve inúmeras produções artísticas que evocavam a ideia de que a juventude se perdera nos tempos modernos. Lembro-me do Juventude transviada. Jovens perdidos num mundo que não os compreendia. Atualmente, filmes como Meninas malvadas, Meninamá.com, Garotas selvagens despertam questões conflitivas da juventude com pais, dinheiro, drogas, popularidade, etc. Um filme muito bom que não foca apenas os jovens, mas toda uma sociedade deteriorada, é Beleza americana, com atuação excelente do Kevin Spacey, em que deseja uma amiga da filha, que por sua vez despreza a amiga, a qual se apaixona por um vizinho totalmente voltada para seu mundo e comerciante de drogas. Nenhuma das relações termina bem, tendo em vista as grandes diferenças que há entre cada pequeno universo.
Na obra Estado Jardim, de Rick Moody, esses pequenos universos se atraem pelo ponto inicial de cada um: ex-colegas de colégio, amigos por afinidade e por gosto, sem emprego, sem faculdade, drogados, complexados pela auto-mutilação de um amigo, anos antes. Alice protagoniza o início do desespero: com um humor azedo, permeada de palavrões inconsequentes, está desesperada pela morte do baterista de sua banda, a Critical Ma$$, sem trabalho ou qualquer perspectiva de vida. Sua mãe posteriormente a expulsa de casa. Ela namora com Dennis, de poucas palavras, que atura com sofreguidão o gênio de Alice. É irmão de Lane, com quem Alice quer ter um caso, mas sofre com problemas psiquiátricos. Ainda aparecem na narrativa LG, ex-guitarrista da banda de Alice, que queria novos ares pra carreira; Max, melhor amigo de Lane, instalador de cabos e drogado; além de Scarlett, mais adocicada, mas não menos enrolada com os problemas da época.
Tudo ocorre em Haledon, Nova Jersey, cidade pacata, sem muito o que fazer. A vidas personagens se tornam assim, monótonas. Com isso, a busca pelo diferente começa pelas drogas e atravessa todos os ideias presentes em cada personagem. A vontade de ter o novo, de buscar aquilo que lhes realmente faça feliz será constituído por Lane e Alice: quando ele sai do hospital psiquiátrico, resolve convidar Alice para ir a Nova York; quando chegam, Lane percebe que é o recomeço de sua vida e Alice vê suas perspectivas se transformarem: ao sair de Haledon e tomar contato com a cidade maior, pensa em oportunidades e vida nova. Tudo que ela tentara e não tinha na cidade natal.
É uma obra que desfila características presentes em todas as épocas, em todas as pessoas. Afinal, quem nunca teve dúvidas do que fazer, dentre seu leque de opções? A busca pelo novo num espectro restrito torna a vida alheia singela demais, pouco improvável, repleta de mesmices. Jovens ferforosos querem mais e, de tanto buscarem mais, partiram para aquilo que seria o não aceito, o distante: jovens de um lado, adultos de outro. E nessa complexidade de relações, descobrem que há mais coisas a serem descobertas, como já nos dissera Hamlet, em obra homônima de Shakespeare: "há mais coisas entre o céu e a terra do que  supõe nossa vã filosofia".

7 de fevereiro de 2010

Mundo em alarde, final harmônico: mais uma fuga catabórica

Dando uma pausa aos escritos sobre os livros lidos no litoral, li agora à tarde um livrinho curto, mas muito interessante: Hotel Atlântico, do João Gilberto Noll. Através da orelha escrita pelo Nei Duclós, o enredo me atraiu e parti para a leitura. Novamente, uma obra que remete à pergunta cabal: o que acontece com o mundo que transforma seres humanos em meras sobras de sua criação?
O personagem principal é um ator desempregado que vendeu seu carro e passou a utilizar o dinheiro circulando pelo país. Do Rio de Janeiro para Florianópolis; de lá, para cidades desconhecidas do interior de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, até chegar a Porto Alegre e partir para Pinhal. É um circuito bastante curioso, tendo em vista que ele é sempre rumo para o sul, para baixo, para o negativo, e termina na direção oeste,  em direção ao início do ciclo solar, estável, tal como a linha de morte das máquinas que alertam sobre os batimentos cardíacos - a morte da personagem.
Escrevi uma vez sobre esse assunto, há alguns anos, e fora publicado no site da Unesp, na seção Debate Acadêmico. A fuga catabórica é a descida rumo ao sul, o que, miticamente, revela a morte como solução para problemas enfrentados por alguém. O curioso da narrativa é que a personagem é perseguida pela morte constantemente, pois, por quase todos os locais por que passa, alguém morre. No início da narrativa, quando ele chega a um hotel no Rio, há um morto. Ao final, ele é o morto. Essa fuga não é feita ao deus-dará, mas em busca de seu espaço sagrado. Zelita Seabra, na obra Tempo de Camélia, já dizia que todo o homem necessita de um espaço sagrado para poder se identificar enquanto ser; sem a existência de um espaço apenas seu, como uma casa, um quarto, uma praça, uma árvore ou uma caixa de papelão, o homem não existe perante o próximo. Ocorre isso com o ator, que passa a narrativa sem uma mochila ou sacola sequer, sem carregar nada, a não ser os trocados na carteira, que o fazem comer e viajar. Seu ciclo, enquanto catabórico, é odioso, já que até uma perna tem amputada devido aos problemas de seu caminho. Envolve-se sexualmente com várias mulheres, mas nenhuma o faz se prender ou amainar, tornando os vínculos totalmente fugazes. A vida do ator se esgota quando parte do hospital em que ficara no interior, em Arraial, e parte rumo a Porto Alegre, para depois ir a Pinhal. No litoral gaúcho, ao acordar na manhã em que acompanharia Sebastião - técnico em enfermagem que o ajudou a sair do hospital e que queria conhecer uma praia - na ida ao mar, ele passa a perder os sentidos. Quando vê a água, lê nos lábios de Sebastião a palavra mar, sente que é hora de descansar.
Comprova-se a fuga catabórica e a existência de um mundo cão para o homem. Não sabemos o que houve de vida anterior à narrativa - apenas alguns poucos detalhes, como onde e em que trabalhou o ator, além da venda do carro e de não ter parentes no RS, de onde saíra aos vinte e poucos anos -, entretanto vemos um mundo totalmente cruel, seguido de mortes - assassinatos, suicídios, velhices - que é tragado pela personagem. Quando uma boa alma o leva para longe daquilo, estabiliza sua vida, viaja ao oeste, ele sente que já não é mais hora de seguir. Finda-se a narrativa: ao termos a salvação, nada mais precisaremos realizar.

Sonhos e pesadelos

Há uns cinco ou seis anos, uma novela estrelada pela então guriazinha Deborah Secco fazia sucesso, falando da entrada de brasileiros nos Estados Unidos em busca de uma vida melhor. Se não me engano, América é da mesma autora de Caminho das Índias e aquela outra que tratava sobre a cultura marroquina, a qual não lembro o nome, Glória Perez. O enredo foi bastante útil para mostrar que a situação sócio-econômica do Brasil até então - já que hoje podemos notar alguns bons fatores de mudança - não era de muitas regalias para o povo de classes menos abastadas.
A obra de Dau Bastos, Clandestinos na América retoma esse tema. É uma obra de 2005, feita a partir da compilação de dados de um atravessador. Conta a história de um homem, professor, não realizado em sua profissão e com ambição quase nula, que perde sua esposa para um colega de maior grau e resolve mudar radicalmente de vida assim que Bóia o convida para participar do seu comércio. O professor passa a ser chamado de El Gringo e entra como uma espécie de guia de viagens até encontrar um "coyote", aquele homem que guiará as pessoas até atravessar a fronteira para entrar nos EUA. Com a perda do coyote, há de contratar novos. Novamente com problemas, ele passa a realizar as travessias. Depois de acumular seu dinheiro, necessário para mudar de vida, retorna em definitivo ao Brasil.
Há diversos detalhes que tornam a narrativa bastante extasiante, como os casos amorosos da personagem principal e a ida de um traficante de renome para o país ianque, contudo o principal é a vasta diferença econômica entre os dois países. Brasil e Estados Unidos são vistos como totalmente antagônicos: um Brasil pobre e carente de oportunidades versus o rico, cheio de possibilidades. Não há o aprofundamento de ambos locais, pois não é o que serve à narrativa: o que interessa é o translado das pessoas. Considera-se, porém, que essa ida é motivada por uma relação especial da vida de cada indivíduo com seu meio. Fala-se de pessoas saídas de Criciuma (SC), Governador Valladares (MG), de certas capitais, mas nenhuma rica ou que vá por mera curiosidade. Há aqueles que vão para conquistar dinheiro, os que querem rever seus parentes há muito distantes, o que quer ver a filha pela última vez antes de sua morte - já que é aidética e não pensa em retornar ao Brasil. No fundo, são todos seguidores de um sonho que não necessariamente trará o objetivo esperado. Houve mortes no caminho. O sonho que se transformou em pesadelo para alguns foi a sorte de outros, assim como já dissera Machado de Assis, em Memórias póstumas de Brás Cubas: "a morte de uns é a felicidade de outros".
Viver entre o sonho e o pesadelo, como a personagem de Deborah Secco na novela, é na verdade a tentativa de se reabilitar perante o mundo, de ver que um sonho deve ser tentado, ainda que a frustração o acompanhe. A narrativa de Dau Bastos ilustra muito mais aspectos positivos para seu personagem, mesmo vivendo diversas situações de risco. Num mundo em que há realidades sociais tão díspares, vale buscar aquilo que se julga o melhor para si.

6 de fevereiro de 2010

Gangsters?!

Década de 1920. Inglaterra. Um surto de crimes misteriosos passam a ocorrer a partir de uma organização, que envia cartas às vítimas em troca de dinheiro ou morte. Aos admiradores de sir Arthur Conan Doyle, de Sherlock Holmes, não há nada que não conheçam, mas também há a mesma apaixonante história policial.
A obra Gangsters!, de Edgar Wallace, é um texto que, tal como uma tele-novela, busca construir uma complexidade que é totalmente desvelada pelo leitor até o final. A princípio, não é um texto que proporciona reflexão. Há um dueto de grandes gangsters dos Estados Unidos que vão a Londres e lá começam a executar seus crimes. Conseguem, durante boa parte da trama, despistar o comissário inglês e o capitão americano que se envolvem com a situação. Numa trama que revela diferenças culturais - as formas como as leis americana e inglesa são aplicadas, por exemplo - a união entre esses países resultará na desarticulação dos crimes e na prisão de todos os envolvidos.
Há o que pensar. Além da diferença cultural, há de compararmos com a situação do Brasil. Aqui, pela mesma época, houve o crime relatado na obra O sorriso da sociedade, da qual falei em meus primeiros posts. Um crime que não teve o resultado satisfatório pelo que houve. Não era uma organização criminosa ou algo do gênero, mas o ato de morte não fora punido tal como na obra estrangeira. Nivela-se uma diferença cultural bastante interessante, pois é o que posteriormente destacará o fato de que no nosso país não há punições que realmente mostrem ao criminoso que ele não deve cometer crimes. Assim como não há formas de reabilitação adequadas. Não quero dizer que o modelo americano - com a pena de morte, por exemplo - seja a melhor e mais correta que exista, mas é mais efetiva do que a que há entre nós. Não prego que deva haver morte aos criminosos, mas punições realmente severas.
Há inúmeras formas de se desmantelar o crime organizado, seja se infiltrando no mesmo, com ações bruscas, com negociações, etc. O que falta para o Brasil é investir com mais força em relação ao crime. Se em Gangsters! há a possibilidade de, através da verossimilhança, acabarmos com isso, por que aqui não seria possível destituirmos o tráfico de drogas e todas as suas consequências?

5 de fevereiro de 2010

Determinismo

Todos nós somos movidos por diversas ações que completam nossa personalidade. Um medo de altura pode ser resultado de um complexo mal resolvido na infância, assim como a dificuldade em manter relações humanas pode se vincular ao tipo de educação que se tem em casa, assim por diante. Não que esses aspectos sejam únicos para gerar essas possibilidades, mas comprendem boa parte do que se faz.
Ninguém pode ser uma pessoa tranquila e serena se algo em sua vida o fez de uma forma. Imagine uma moça que se torna perita em natação, torna-se salva-vidas. O que a levaria a tal fato? Apenas a boa vontade em ajudar os demais? E essa boa vontade não seria determinada por algo que já lhe ocorrera? Sabe-se, porém, que o pai caíra de cabeça numa piscina, ficando tetraplégico. Os laços começam a se enredar a partir disso.
Não depois do que aconteceu é uma obra assim. Destaca fatores que geram determinados tipos humanos. Anos preso numa cadeia, sem que haja isso dito, e quem seria aquela pessoa que estaria livre novamente? O mesmo? Assim como nunca é o mesmo rio que passa por um certo ponto, não seria a mesma pessoa que sairia da prisão. E as discussões se mantêm assim, em preâmbulos psicológicos dotados de vivicidade, elencando qualidades e defeitos desses seres determinados pelas suas circunstâncias.
Eu já gostei de Michel Laub quando o li pela primeira vez, um livro ótimo, chamado Longe da água. Fiquei fixo na história, no triângulo amoroso que envolvia o narrador, seu melhor amigo e a namorada do amigo. Nessa obra que recém li, a primeira do autor, percebi que seu estilo é praticamente o mesmo, migrando do conto para a novela, mas cheio de realizações.
Na linha de pensar sobre o que a obra transmite, elocubrei algumas ideias meio distantes. Busquei explicações para certos presos, para ações criminais que desvirtuam qualquer cidadão, para uma pessoa da forma como ela é, entre outros. Só não podemos cair apenas nas determinações, enquanto o contexto colabora - e muito - para se chegar a quem somos.

4 de fevereiro de 2010

Saldo litorâneo

Sol. Mar. Água. Calor. Calor. Muito calor. Tempo quente, mal nos deixava respirar. Água salgada, morna. Tempo espetacular. Só pra intensão de tomar banho. Pra quem queria descansar, dormir, relaxar. foi um pavor. Ainda assim, houve espaço para fazer coisas bem boas.
Meu carro resolveu me dar problemas: ar condicionado queimou, ventilador do motor parou de funcionar. Mais grana investida em consertos. Resultado: anuncio um Peugeot 106 Passion 1.0 no domingo. Agora ele tá consertado, mas ainda sem o ar condicionado. Vantagens: IPVA 2010 pago e um jogo de auto-falantes. Se alguém souber quem quiser comprar, peça que mande seu lance.
Ida a Tramandaí pra comer um baita alaminuta dum boteco da avenida principal. Não vendiam mais alaminuta. Pedimos iscas de picanha. Gordura pura. Hora do pagamento: outrora aceitavam cartão de débito; agora, não mais. Dinheiro emprestado pra pagar, reposto quase que instantaneamente. Voltinhas no 1,99 e o que encontro? Mais livros para adquirir. Se o Nei Duclós ler esse blog novamente, cairá da cadeira: encontrei mais um livro dele - No mar, veremos
De qualquer forma, na questão da leitura, foi um saldo muito positivo: cinco leituras em quatro dias. Cerca de mil páginas. Um pouco mais, quem sabe. Leituras mito boas, aliás: A timidez do monstro, do Paulo Scott; Os clandestinos da América, de Dau Bastos; Gangsters!, de Edgar Wallace; Estado Jardim, de Rick Moody, e Não depois do que aconteceu, do Michel Laub. Falarei sobre cada um em posts posteriores.
Ainda houve banho de mar. Dificilmente entro na água, mas dessa vez estava muito boa. Apesar dos inúmeros fragmentos de mãe-d'água, finados, coitados. Mergulhei que nem uma criança no último dia, tamanho era o calor. Horrível. Abafado.
Ainda vi dois filmes. Um, recomendo: O psicólogo, com o Kevin Spacey. Difícil um terapeuta tratar das pessoas precisando mais ajuda do que elas mesmas. O enredo gira em torno disso. O outro, uma nova versão de A bela e a fera - trash, eu diria. É de 2009. Não lembro o nome de nenhum ator. Se vocês viram Kill BillI e gostaram, talvez gostem dessa versão. Sangue jorrando para tudo quanto é lado.
Adiante, falarei dos livros.

1 de fevereiro de 2010

Postagens

Gurizada!
Ando demorando a postar, pois estou no litoral - e é um saco usar lan house pra isso. Assim que regressar, já tenho muito sobre o que falar.
Resistam.