7 de março de 2010

Dos filmes

Nessa última semana, três filmes passaram pelos meus olhos, deixando algumas ideias: Percy Jackson e o ladrão de raios, Um olhar do paraíso e Tá chovendo hamburguer. Dois mais próximos do que conhecemos como infanto-juvenis e um drama muito bonito. De qualquer forma, significações muito úteis foram extraídas.
Percy Jackson traz à tona novamente a questão da mitologia grega. O filho de Poseidon está no meio dos homens, após o deus ter se relacionado com uma humana. Sabemos que isso resulta em semi-deuses, tal como Hércules, por exemplo. A desconfiança sobre o roubo do raio de Zeus paira sobre o guri, que se compromete a levá-lo de volta ao Olimpo ao encontrá-lo. A bem da verdade, ele queria apenas ir a Zeus para justificar não ser o ladrão, mas como quis o "destino" que o raio aparecesse, ele o levou. As referências míticas são intensas em diversas obras literárias e fílmicas, mas não tão expostas quanto nessa produção. Em vários textos, podemos encontrar características de deuses em certos personagens, bem como de representações da Grécia antiga nos ambientes relatados. Nesse filme, há uma ruptura com o imaginário e a abertura de um canal objetivo: deuses e homens convivem no século XXI, abandonando as simples referências que eram e tomando corpo próprio, local próprio, ao mesmo tempo em que a Terra segue seu ciclo vital. Assim, as conclusões sobre as personagens são mais óbvias, bem como o caminho de cada um deles.
Um olhar do paraíso reflete sobre temas muito comuns hoje: pedofilia, assassinatos, traumas pós-mortes, superação. A menina Salmom, como a chama o assassino, fora morta em 1973 e conta como fora sua vida e seu assassinato ao espectador. Sua irmã quase é mais uma vítima do mesmo, mas consegue escapar. Susie voltava da escola e fora convidada por um vizinho para conhecer sua nova casa para crianças. Lá, ele promove o sequestro e o assassinato da guria. Aparentemente sem motivos, mas logo começa a se justificar: por que alguém mataria uma criança que nada o fez? Por que ela foge com tanto desespero? Só fugiu porque se sentiu de certa forma agredida. Ele só foi atrás porque seus planos não deram certo. Antes que ela contasse o fato, algo deveria ocorrer. Morte. Assim se mostra um pouco da questão da pedofilia,  principal tema, tão discutida e ainda tão ingênua para muitas pessoas. Sabemos que a atração, segundo Freud, provém das relações humanas criadas ainda na infância, determinando nossos gostos e nossos desejos. Por alguma coisa do gênero não ser realizada, somada à deficiência de educação e sociabilidade de certos indivíduos, o desejo pela criança nasce. Poderia ser tratada se as pessoas reconhecessem que o que as leva a uma criança e não a um adulto é uma fraqueza igualmente infantil. O filme relata de forma tão contundente essa questão que a série de assassinatos promovidas pelo vizinho dos Salmom começa pela esposa e só depois se dirige a crianças. Pode-se deduzir inúmeras ideias, dentre as quais a irrealização do homem nos padrões sociais e o apelo à pedofilia.
Por fim, Tá chovendo hamburguer. Uma narrativa que seria banal se a experiência de Flint Lockwood não envolvesse comida. Especificamente o hamburguer. Para quem viu o documentário Super Sized Me - A dieta do palhaço, de banal tem muito pouco. Na animação, trata das aventuras científicas de Flint, que deseja criar uma chuva de comida através da água, para uma cidade que perdeu muito espaço econômico com as restrições externas à sardinha, carro-chefe da economia local. Assim, a vontade de comer coisas diferentes e gostosas impulsiona o desejo de Flint e a ganância do prefeito, que quer trazer maiores investimentos para a localidade através disso. Quando a experiência funciona, diversas comidas caem do céu e são aproveitadas por todos. Ao final, a máquina é destruída e tudo teoricamente volta ao normal. A utopia de que a comida caia do céu, como propõe o filme, é desfigurada em seu final, ou seja, não é possível crer em ajuda de onde só há problemas. Flint, afinal, era o rejeitado, o problemático, o que ninguém gostava; ele cria a máquina que gera a beleza e os problemas da história; ao final, ele mesmo tem de destruí-la. Pensando em ajudar os outros, despertou o desejo de outros em se aproveitar disso, o que acaba tornando inviável tal auxílio. Assim, a cidade precisou se readaptar aos velhos costumes para manter sua vida. Também há inúmeras considerações sobre as relações entre pai e filho, mas isso deixarei pra outra oportunidade.
Perguntaram-me esses tempos se eu só tinha coisas ditas boas pra falar de livros e filmes. Não, não só as tenho: procuro extrair o que há de melhor em cada narrativa, pois de tudo se aproveita algo. O que muitas vezes dificulta chegar a tal ponto é um certo preconceito que temos sobre tudo. Se vencê-lo, fica mais fácil aproveitar o que se expõe de bom a nós.

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