Após a leitura da obra Homem Comum, de Philip Roth, deparo-me com uma questão muito curiosa para os apreciadores da arte: qual seria a pintura ideal para a visão? Aquela coberta de detalhes, que valoriza as formas reconhecidas, como uma Monalisa, ou a pintura mais abstrata, recoberta de sentidos inconscientes, como a produzida pelos modernistas?
O Homem Comum de Roth é um ser que falecera, mas que buscou durante a vida explicações sobre sua própria existência e que, desde pequeno, estabeleceu contato com a morte. Há vários flashes no decorrer da narrativa: a relação com o pai, o seu trabalho na relojoaria, a relação com seu irmão Howie, com as três esposas, com as amantes, com os filhos. Cada um tem seu espaço distinto no decorrer da narrativa, permeada de detalhes que tornam o texto, em certo momento, bastante denso e pouco fluente. Ainda assim, é uma obra que destaca a natureza do homem e sua relação com seus medos, principalmente quando se refereàs perdas.
O protagonista da história, quando idoso, vai para uma comunidade litorânea frequentada apenas por aposentados. Visto que a morbidez do local não é pequena, resolve dar aulas de pintura aos moradores. Assim, redescobre-se útil e ajuda aqueles convivas que não tinham maiores atividades durante o dia. Aí entra a pergunta feita inicialmente no texto: numa de suas aulas, ele pede que os alunos interpretem a natureza morta (frutas, xícara, bule) e façam suas telas. Ao verificar a produção de cada um, percebe que algumas "bizarrices" acontecem, alguns fraquejam, outros desejam abstrações. É difícil delinear um mesmo raciocínio para todos os presentes. De qualquer forma, a pintura solicitada pelo personagem é a de formas razoavelmente fixas, bem como o faz o narrador, ao descrever com tantos detalhes cada elemento do texto.
Se uma produção artística dotada de detalhes é o que melhor faz a mente de quem a vê, um texto como o de Roth possivelmente também o fará, já que cada elementos exposto é visto com uma série de termos que o elucidam. O leitor deve estar preparado para enfrentar esse tipo de situação, pois a cada movimento da narrativa, um novo detalhe está colocado. Cabe a cada um desdobrar a narrativa - e a nossa cabeça, para filtrar todas essas informações.
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