5 de janeiro de 2011

O mito do eterno retorno ou a busca de si em cada um?

Volto a escrever no blog pra tratar de algo que me dá muito prazer. Li mais uma obra do Bernhard Schlink. Dessa vez, perdi-me em tempo lendo A volta pra casa, o romance mais longo do autor, mas não menos impetuoso e repleto de buscas infinitas sobre si próprio. Termino de ler a obra dele com a sensação de que gostaria que tivesse produzido ao menos mais umas 20 obras. Acho que nunca gostei tanto de um autor quanto desse alemão velho.
O enredo da história se faz a partir da leitura da obra Leituras leves e divertidas, que os avôs de Peter Debauer compilam, a partir de inúmeros originais que lhes são enviados. O gosto do menino Peter pela leitura se expande ao ler aventuras relativas à 2ª GM, apesar de os compiladores dizerem que não deveria ler uma página do que ali estivesse. A vontade foi tanta que chegou aos seus olhos a história de Karl, um antigo guerrilheiro que fugia das consequências da derrota alemã e retorna à sua antiga casa, revendo a esposa. Esse último detalhe, no entanto, é omitido, o que faz com que Peter comece uma busca grandiosa por saber a real história daquela personagem. Enquanto a narrativa mostra todo o crescimento psico-afetivo e intelectual do leitor, uma busca desenfreada por saber quem é seu pai e qual a sua origem permeia o texto.
Novamente, a obra do autor expele situações de beleza única. A vontade de encontrar os resquícios de um passado nebuloso o tornam obsessivo, contudo lúcido para todas as conclusões. Ao descobrir quem é seu pai, um rearranjo na narrativa questiona o leitor: de que vale o passado se as impressões para seguir adiante se prendem ao presente? Será que o que somos é determinado por ações que já nos transformou em quem se está ou a possível modificação do futuro se dará pelas atitudes que queremos em relação aos demais? Num jogo de ida e volta, de presente e passado, numa mente que, em primeira pessoa, discorre sobre sua criação, suas leituras e suas frustrações, a conclusão que Schlink nos permite chegar amplia o horizonte da existência de cada ser: somos aquilo que nos forneceu o passado, mas angariamos um futuro a partir de nossos desejos. Ou, como diria uma das máximas presentes na obra O pequeno príncipe, "te tornas responsável por aquilo que cativas".
Se a nossa existência dependesse apenas de nosso passado, nunca um futuro chegaria com possibilidades melhores. Afinal, cada um teve seus atos e suas consequências. Infelizmente, nem tudo é o que desejamos, mas aquilo que realmente queremos também deve se fazer presente. Num ato de coragem e curiosidade, Debauer buscou o encontro com o passado. No entanto, seu maior desejo foi, singelamente, voltar para casa. Nós também queremos nosso lar calmo e sereno, para que, ao voltarmos, notemos que toda nossa busca por uma vida melhor tenha sido reflexo de atitudes significativas e compreensivas. Somos também tudo aquilo que queremos ser. Bem como também queremos voltar pra casa.

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