Em diversos momentos de nossas vidas, um lapso nos ocorre: o que foi aquilo que vi? O que é isso que tenho em mãos? O que eu sou? O que é o que me roda? Nunca reparamos, no entanto, que possivelmente estejamos nos preocupando demais com aquilo que fazemos ou temos e deixamos de nos perceber.
Em Doutor Miragem, um dos melhores livros do Scliar que já li, um médico recém formado, após toda uma história de dificuldades para chegar ao patamar em que se encontrava, tem a possibilidade de finalmente ser alguém na vida. Afinal, sua infância e adolescência foram cobertos de dificuldades, de uma doença que quase o matou num trajeto de caminhão com o pai, dificuldades financeiras, amorosas. Quando é enviado a Piraí para ser o único médico da cidade, torna-se monstruoso, suprassumo, colocando suas ações e suas vontades à frente de tudo.
Fazemos por merecer aquilo que nos é imposto. Afinal, todos os dias temos atitudes que geram nossos desejos e a vontade de seguirmos determinado caminho. Quanto mais provamos os sabores que cada felicidade e cada tristeza nos proporciona, conhecemo-nos ainda mais. Assim, o caminho do protagonista da história se fez, cheio de percalços que dificultaram sua vida, mas para uma redenção ao final. Redenção essa que não necessariamente é prazerosa, mas segue um determinado desejo ambicionado pelo personagem desde o início da narrativa: ter sobre si o foco dos holofotes.
Nós queremos ter o holofote voltado pra nós mesmos? Quem sabe supomos que isso nos traga um laço de sentimentos bons. Não nos esqueçamos, no entanto, que cada movimento nos representa, mostra o que realmente somos. Mesmo que queiramos que nos vejam ou que saibamos o que é cada coisa ao nosso redor, precisamos ter a perfeita noção do que realmente somos e do que queremos.
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