Na aula de hoje, com a Prof. Maria Luci Prestes, discutimos um pouco do que trato com meus alunos de primeiro ano: norma padrão e variedades linguísticas. Para ilustrar um pouco mais sobre isso, trouxe uma apresentação de um seminário sobre linguística que houve no ano passado, na FAPA mesmo. É interessante como há uma gloriosa contradição entre algumas afirmações que frequentemente são realizadas.
Nesse ano, aderi à ideia de dar menos gramática para a gurizada. Na verdade, nos preocuparmos menos com isso. A gramática é vista, lida, revisada, exercitada, mas a essência das aulas está nos textos que eles produzem, tanto que tenho dado um período por semana pra que ao menos construam esboços ou planejamentos de texto. E o que faço nos outros dois? Trabalha-se com interpretação, com conteúdos de produção textual - a parte mais teórica -, diversos tipos de texto e com a gramática. Esse é um processo que vem desde o ano passado, gradualmente, até porque preciso conhecer essa nova modalidade de ensino. De qualquer forma, isso suscita a ideia de que de certa forma se deixa de lado um pouco do preconceito linguístico que carregamos, pois deixar a norma culta relegada a segundo plano faz com que tracemos melhores considerações sobre como cada um deve usufruir da língua em diversas situações.
Tratamos um pouquinho sobre o Marcos Bagno, que é talvez o maior questionador do uso da gramática na escola. Ele diz que, como professores, devemos sabê-la, já que isso é o traça o diferencial do educador e que nos facilita a compreensão do mundo da escrita e suas possibilidades de realizá-la - ou seja, num ambiente mais formal, norma culta; num mais despojado, como na troca de e-mails, mais coloquial; quando expressar sentimento, não há por que ser tão normativo. Ao mesmo tempo, quase imperceptível, nota-se que sua linguagem, sua produção é feita num português bastante culto, distante da ideia de despreendimento de tal norma. Numa obra mostrada pela Maria Luci, vimos que ele começa seu texto com um dito erro gramática, que é começar um parágrafo por pronome oblíquo - "Me deleita...". Após, apenas o uso de ênclises, dando aquela falsa impressão de que, escrevendo dessa forma, o texto torna-se mais "bonito" ou mais "culto".
Sempre lecionei o seguinte: há uma explicação pra mesóclise, um ou dois para ênclise; os demais, todos viram próclise. A colocação dos pronomes tende à adequação à situação em que se escreve, não ao quão belo o texto possa parecer. Se ampla maioria de meus leitores forem da classe menos escolarizada - apesar de dificilmente isso trazer leitores -, minha linguagem não pode ser tão culta, pois não me entenderão. Logo, não é o mais adequado. É possível escrever bonito sem se preocupar com normas gramaticais, bem como é plenamente possível estar dentro dessa norma sem se preocupar com a beleza da mesma.
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