A culpa sempre é do outro. O outro sem faz de um jeito e eu de outro. Aquilo que ele fez, as coisas que ele falou, o jeito que ele andou. Enfim, joga-se ao outro possíveis falhas que tenhamos em nossa trajetória. Antes de reconhecermos nossas falhas, passamos a questionar os acertos do outro e sua forma para chegar em determinado objetivo. Não é diferente - aliás, muito constante - com os adolescentes, principalmente com aqueles em quem o pensamento abstrato mal começou.
Gosto muito do trabalho com variações linguísticas, gírias, norma padrão e coloquial, comunicação em geral. Desde a semana passada, venho trabalhando com a gurizada de primeiro ano. Apesar da grande vontade exibida para chegar a conclusões - muitas vezes sem necessidade, precipitadamente -, os educandos encontram um grande dilema: o autorreconhecimento frente a situações de fala. Para fazê-los refletir, expus um texto escrito totalmente de forma coloquial, em que a pontuação fora praticamente invalidada, muito próximo da fala, permeada de um pensamento dotado de lacunas, que promoveu diversos flashes e cortes no pensamento. Algo como "Daí meu blz olha só a mina é tri e pah mas te liga naquilo q ela disse sobre fica contigo acho q n eras mas tem q tentah igual pq bah ela é mto tri" e por aí vai. Aparentemente, nada de anormal para quem costuma passar horas no MSN falando abobrinhas - ou coisas úteis, naturalmente - com os amigos - ou os parceria, os mano, a gurizada e afins. Quando leram aquele texto no quadro, acharam absurdo. Ouvi alguém dizer "mas é um retardado escrevendo". Fiquei apenas pensando - e isso me remete àquela cena do Uma noite no museu 2, quando O Pensador anuncia que pensa (e assim fica durante muito tempo), sem qualquer conclusão. A diferença foi minha conclusão: a dificuldade enorme de enxergar a própria escrita virtual numa situação de sala de aula.
Talvez seja esse um dos fatores que ilustre a dificuldade de contextualizarmos os conteúdos na escola. Discute-se isso na faculdade desde sua tenra idade. Não é um mero problema, mas o processo de contextualizar passa pelo de socializar: autorreconhecer é uma atividade maior do que um mero aprendizado comum, insípido, sem qualquer divertimento. É levar pra vida inteira que aquilo que realizamos faz parte de nosso processo vital e que podemos constantemente refletir sobre o mesmo, em busca de algo mais.
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