24 de dezembro de 2009

Sobre leituras

Ganhei um presente de Natal de meu irmão: O outro, de Bernhard Schlink. Este é o mesmo autor daquele livro que virou filme, O leitor - diga-se de passagem, com algumas performances realmente muito boas, como da Kate Winslet. Pela contracapa e pela orelha, parece bastante interessante. É meu segundo livro para ler em 2010, já que adquiri o Capitu sou eu, do Dalton Trevisan.
Leituras de férias. Raramente sei de quem realmente usa esse tempo pra ler. Houve férias em que lia 15, 20 livros, principalmente na época da graduação. Depois veio o trabalho, o cansaço, e as férias ficaram um pouco distantes do meu objeto de trabalho. Há uma aluna, de quem gosto muito, que faz ótimas leituras. Recomendei a ela um livro do Mempo Giardinelli, O décimo inferno e Luna Caliente. Em meio a leituras sobre vampiros e derivados de filmes, ela leu. Gostou. É daqueles livros que não dá pra parar de ler antes que a história acabe, ela me dizia. Fiquei muito satisfeito. Esses dias, a Bibiana e eu fomos ao shopping, e lá ela quis comprar um livro. Ficou com o Clube do filme, do qual está gostando muito também.
Não é possível generaizar e dizer que o livro está acabando. Está aumentando uma camada populacional que, além de ter baixíssimo poder aquisitivo - e livro É caro -, tem uma cultura que não se volta necessariamente para as letras escritas. Muitas vezes são musicadas, desenhadas, pichadas. Mas ainda assim é uma manifestação cultural.
Essas pessoas também curtem histórias, gostam de saber o que acontece com a vida do vizinho, com o enredo da novela das oito, com a doença da mãe da amiga da prima do amado. Fofoca, gente sem o que fazer? Talvez seja preconceito, pois o que elas gostam mesmo é de narrativas. Gostam realmente de conhecer histórias, tal como fazemos ao ler um livro. A pequena diferença é que as suas narrativas são particulares, sem terem sido necessariamente escritas, mas abrangem os mesmos temas universais que com frequência lemos: o amor, a amizade, o ódio, os costumes, a violência. Por que se preocupar, então?
O grande problema talvez more na profundidade das questões. Quanto mais fundo penetramos na mente das personagens ou no enrendo no qual se envolve, mais difícil de diagnosticar, de decifrar, de absorver ideias se torna. Meus alunos reclamam de ler Bartleby, o escriturário, de Hermann Melville, aquele do Moby Dick. É um livro de leitura simples, curto, mas que acabam absorvendo muito pouco: se o personagem "prefere não fazer" nada, por que me intrigo com ele? "Não gostei, sôr"...
Quanto a isso, julgo necessário trabalharmos. A leitura, porém, ocorre frequentemente e não devemos omiti-la, seja de quem for. Não é apenas o livro que resolve a cultura de alguém, pois, como já diriam Lévi-Strauss, Maiakovski, Cooper, entre outros antropólogos, a cultura é firmada pela sociedade através de seus costumes, nunca imposta. Saber observar o que cada um traz como leitura de mundo é praticamente o mesmo que lermos um livro sobre um personagem do dia a dia.

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