Tirei a tarde para limpar meus livros. Não queiram imaginar a bagunça que está minha casa. Quatro prateleiras estão prontas; restam três. Devo ter mais ou menos uns 800 livros aqui. Variam desde grandes clássicos, como Don Quijote de la Mancha, em espanhol original, até os pockets mais evidentes, como os da coleção Pocket Plus da L&PM, que são bem baratinhos.
Fiquei intrigado com uma coisa: numa das prateleiras, coloquei apenas livros didáticos. Admirei-me por ter três iguais. Não, não os comprei: foram enviados pela editora. Um livro que custa tanto numa livraria, e eu com três. Na verdade, um já repassei, mas há ainda outros dois. Poderia fazer uma grana com eles, não fosse proibida a venda - exemplar de análise do professor. O que leva a editora a mandar tantas vezes a mesma obra? Convencer-me através da repetição? Ou esqueceram que já haviam mandado? Sei lá. O que interessa é a qualidade desses livros.
Cansei de trabalhar com a gramática tradicional. Se eu fosse um gramatiqueiro mais forte, migraria para a neopedagogia da gramática, do Prof. Dequi, do IPUC, de Canoas. Acho que ele tem umas ideias bem interessantes sobre a forma de aprender a construção da língua portuguesa, mas para efeitos de escola parece faltar mais sobre produção textual. A partir desse ano, meus novos alunos trabalharão basicamente com a produção de textos, tendo a gramática apenas como suporte para as dificuldades de escrita. Não dá mais para embasar o ensino de linguagem na sua estrutura, pois acaba se perdendo, na hora de avaliar, muito daquilo que realmente a gurizada vai levar pra vida: a argumentação, a exposição de ideias, a narração de fatos, etc.
É uma limpeza na educação: sai aquilo que é desagregador, que regula mentes; entra o que é libertador, que não se submeterá à ordem comum. O perfil dos educandos não exige mais um conteúdo sem aplicabilidade: já passou da hora de mostrarmos por que tudo deve ser ensinado. Sempre expliquei pros alunos por quais motivos estudamos fonologia, morfologia, sintaxe, semântica; expliquei as relações entre eles para gerar sentido; mostrei dentro de textos e frases como isso acontecia. Não em vão, mas faltava algo para fechar ideias naquelas mentes. E faltava a escrita.
É geral a questão do ensino de gramática ser comum. Só espero que meus colegas não fiquem tão assoberbados de saberem esse ramo do conhecimento que queiram que seus alunos saibam o mesmo. Afinal, dá gosto ver quem conhece bem qualquer coisa, não é? Os educandos também gostam disso. Mas eles não têm culpa se não soubermos fazê-los pessoas melhores, mesmo com todo conhecimento adquirido.
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