Desde que soube do lançamento da versão de Tim Burton para Alice no país das maravilhas, tive muita curiosidade para vê-lo. Fui. Ontem à noite fui levando a Wonderland, a reconhecer os antigos personagens e toda a saga envolvendo Alice até o fim da adolescência. Apesar dos grandes efeitos especiais, das figuras perfeitamente expostas naquele contexto, não é um filme impressionante - apesar de bom. É muito mais a exposição sobre o fim da infância do que qualquer outra coisa.
Alice é pedida em casamento por um lorde inglês. Na ânsia de não saber o que fazer e com inúmeras pessoas dizendo como ela deve proceder, foge. Fuga, aliás, derivada pelo aparecimento do coelho de terno, que a guiará de volta ao País das Maravilhas, que visitara ainda criança. Essa ida a fará se redescobrir e voltar ao mundo não mais como a frágil, dócil e infantil Alice, mas como uma mulher de voz e capaz de interagir no mundo dos negócios - até então desconhecido para o universo feminino, tendo em vista a tradição machista que este acarreta.
É interessante percebermos que o enredo se faz sobre as dificuldades de Alice em reconhecer o que é ilusório e o que é real; as andanças por um mundo que lhe parece fantasioso e que não se faz apenas assim. Cada aventura que passa, cada marca que lhe é registrada, tudo mostra que os movimentos e decisões são plenamente reais. O contato com a lunática de diversos personagens - vide Absolem, Chapeleiro Maluco, Lebre - a mostra a irrealidade das coisas, mas seus momentos de lucidez a colocam num ambiente favorável ao conhecimento sobre tudo que existe e que se deseja conhecer.
A adolescência é um marco na vida das pessoas justamente por ser a época em que não se sabe que caminho trilhar. Brincar ou beijar? Namorar ou ter só amigos? Assumir decisões ou delegar ao próximo? Ajuda de pai e mãe ainda necessária? Dentre essas questões, o que fica não é a retomada do que é subjetivo, individual: é a decisão correta, o melhor para o grupo, o bem estar social. Isso denota crescimento, tendo em vista que o homem é um ser extremamente social. Não basta apenas ficar preso aos seus ideias - como diversos adultos fazem - sem compreender que o próximo sempre será afetado pelas suas decisões. É um crescimento proporcional às várias migalhas do pão do crescimento que Alice precisa em Wonderland.
Há, portanto, um link diretamente ligado entre o Submundo e a adolescência. Os passos de Alice não são meras caminhadas literárias ou fílmicas, dotada de percalços e adversidades que limitam suas decisões. Nada disso: é a porta para o crescimento, para o rompimento da visão infantil e para o avanço do estado natural das pessoas. Perde-se a Alice criança e ganha-se a Alice adulta. Uma troca e tanto.
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