1 de julho de 2010

Da causa do gênero


Na tarde de quarta-feira, na UFRGS, durante a apresentação sobre teorias feministas dentro da literatura, certas alusões inquietaram os educandos. Esse tipo de crítica gira sobre a formulação de homem e de mulher perante a sociedade, transcorrendo seções como a androginia, o homossexualismo e a transsexualidade.
Interessante perceber que tudo nasce da questão física, diriam os antigos teóricos. Nasce-se com um sexo, masculino ou feminino. Depois disso, a ação que o meio provoca, somada à reação que o indivíduo terá acarretará seu gênero, masculino ou feminino. A partir disso, seus desejos passam a aparecer, já na adolescência, o que denotará, por fim, sua sexualidade, sua orientação sexual. Enfim, um ciclo que parece imutável aos olhos do senso comum – mesmo que a maioria desconheça esse tipo de relação.
Como analisamos a teoria de Butler, além de idéias que foram lançadas pelas questões de masculinidade e feminilidade na arte, creu-se na seguinte binonímia: homem e mulher, em si, não existem. São meros signos lingüísticos (a soma de um significante – a imagem veiculada pela palavra – ao seu significado – ao que conhecemos conceitualmente sobre tal) que se travestem na sociedade para reger o que cada um deve ser. Um olhar mais criterioso fará com que observemos que nem toda a apropriação de ser homem ou de ser mulher realmente denota o que somos.
Na literatura, isso é muito evidente. Perguntado sobre quem seria a musa inspiradora para a feição de Madame Bovary, Gustave Flaubert afirma que essa personagem ces’t moi. Ou seja, era ele mesmo. Que bendito fruto é esse que tramita entre o ser homem e o ser mulher numa sociedade fechada e de valores ortodoxos? Na verdade, todos nós. Flaubert seguiu apenas uma visão do que seria a mulher através de sua ótica, criando uma obra tão profunda que é considerada o marco inicial do realismo no mundo. Diversos autores de literatura infanto-juvenil também fizeram o mesmo, tais como Pedro Bandeira, Wagner Costa e outros, e mesmo assim não se viram colocados ou tratados como mulheres por conta disso.
As pessoas têm muita dificuldade para compreender o que é ser algo ou alguém perante o mundo. Sabe-se, outrossim, que o preconceito corre como um vendaval e destrói pessoas pela falta de informação e a posterior discriminação. Somos todos, em âmago, homens e mulheres em busca do encontro consigo mesmo, sem determinar o que é melhor ou pior. Basta que saibamos quem realmente somos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário