1 de julho de 2010

Bia Tognazzi e suas desventuras ortodoxas

Mantive contato, durante a semana passada, com o Gustavo, da Editora Dublinense. De um papo bastante agradável via e-mail, em que falei sobre minha vontade conhecer algumas obras da editora com fins de veiculação entre meus alunos. Os temas das obras eram interessantes. Recebi quatro obras: Contas de mais-valia, Sanga menor, Crime na Feira do Livro e um que muito me interessou - já li e recomendei - chamado Moinhos de sangue.
Nessa obra, uma socialite porto-alegrense de 37 anos anseia um casamento. O problema eram seus inúmeros pré-requisitos: ricos, de bom sobrenome, educados e que a mantivessem acesa por muitos anos. Tudo bem que, ao revê-los, ela resolve desistir de encontrar um príncipe encantado e parte para aquele que melhor lhe sairia como marido. A pressão exercida pela mãe, a mais bela mulher de sua época na sociedade gaúcha, pela sobrinha, vista agora como a que mais chamava atenção, tirando o lugar dessa socialite, faz com que ela busque um par definitivo para retomar sua posição. Bia, a personagem principal, tem adoração por Ualdisnei, com quem não deseja casar, pois, além de ter um nome considerado bizarro, falava menas. Preconceito linguístico escancarado. De qualquer forma, ela aplaca Vitor Hugo, casado então com uma bêbada que dava vexames o tempo inteiro. Para tirá-la do caminho, resolve matá-la. A narrativa é toda montada através da ótica de Bia, que fará com que todos caiam em suas artimanhas.
Mais interessante que isso é a forma como Bia Tognazzi dialoga com seus próximos. Soninha, sua melhor amiga desde o colégio e patroa dos pais de Ualdisnei - o que promoveu o encontro entre Bia e Ual - é a fiel escudeira. Intitulam-se Maligna e Maléfica. Soninha, porém, de Maligna não demonstra nada: tem um casamento regular com Cláudio, dois filhos, cuida da casa. Bia não poderia ser assim, já que seu perfil é extremamente agitado, praticamente bipolar. Quando Bia mata a esposa de Vitor, ela não dá nem sinal de arrependimento, tanto que sua amiga nem desconfia de quem fora o assassino. Após, com as mortes posteriores - e do jeito que foram - Maligna desconfiará e acusará Bia, que mal dá bola pra isso e ainda chantageia Sônia.
As atitudes de Bia não têm fim trágico para ela. Num local em que se importa muito mais com as aparências e seus níveis sociais, não há motivo para querer buscar os reais culpados de crimes totalmente abafados pelos realizadores. Assim, o que Bia Tognazzi busca é atingido com êxito, tendo um casamento de sonhos, mesmo não amando ou sequer suportando o marido. Seu desejo era Ual, mas até esse ser ela acaba atingindo. O desatino pela posição gera uma série de desventuras, o que acarreta certo humor ao desenrolar da obra, pois é dessas cretinices que ela cria, através de um desbocamento voraz, que a faz forte e capaz de realizar as ações. Vira ortodoxa, pois o que faz pela primeira vez ela fará mais vezes, quantas forem necessárias. A personalidade de Bia é domada pelos instintos mais puros, porém realizados de maneiras mais trágicas.

Um comentário:

  1. bah sor muito bom o livro mesmo, amei...
    ela se saio beem no fim das contas.. e esses acontecimentos do livro, me deu vontade de pesquisa por saber até onde essa história pode ser real. gostei muito.

    ResponderExcluir